domingo, 11 de janeiro de 2009

A BIBLIOTECA PARTICULAR DE HITLER

Hitler, aos 36 anos, ao lado de parte de sua biblioteca, no apartamento de Munique

Todo livro tem seu apelo. Uns têm apelo estético. É o caso da chamada alta literatura ou de qualquer outro gênero artístico. Outros há cujo apelo se encontra na carência ou no desespero do leitor, ou na informação técnica, filosófica, científica, religiosa etc.

Mas há também uma categoria de livros que seria absolutamente dispensável não fosse nossa curiosidade por coisas excêntricas, ou por assuntos exóticos (embora haja sempre a ressalva segundo a qual o que é passa-tempo para uns é ocupação oficial para outros).

Nessa última categoria se encaixa o livro Hitler’s Private Library (A biblioteca particular de Hitler), de Timothy W. Ryback, lançado em 2008 nos Estados Unidos.

Provavelmente sairá no Brasil agora em 2009. Para quem não quer gastar 87 reais na compra de um exemplar em inglês, na Livraria Cultura (provavelmente a tradução custará isso também), o jornalista Jacob Heilbrunn nos dá uma resenha interessante (leia o texto completo aqui, em inglês).

Segundo ele, ao aprofundar nas marcações de leitura e anotações de Hitler, Ryback procura reconstruir os passos pelos quais o líder nazista criou seu mapa mental do mundo. “O resultado é um livro memoravelmente instigante, se não completamente persuasivo”, diz.

A biblioteca de Adolf Hitler (1889 – 1945) tinha 16 mil volumes, que foram parar, em sua maioria, na Biblioteca do Congresso norte-americano. É muito livro para quem era considerado um homem sem qualidades. Muito livro, no entanto, nunca foi sinônimo de alma elevada, de civilidade, de compreensão da diversidade. No caso de Hitler, sequer tinha a capacidade intelectual para idéias originais. É o que procura demonstrar o livro de Ryback.

Esse é o pé da contradição. Há quem diga que sua idéia original foi a de querer acabar com os judeus. Mas havia antes dele, desde muito antes, tantos livros antissemitas que nem dá para considerar muito isso.

Tanto é que Ryback chega à conclusão contrária. As considerações de Hitler sobre os textos que lia demonstram que seu ódio virulento foi muito mais confirmado ali do que criado propriamente. E ódio, convenhamos, não é fruto de idéias originais, mas é, sem dúvida, a matéria-prima dos gênios do crime.

Que considerações Hitler anotava, só a leitura do livro dirá. No mais, três ou quatro títulos da biblioteca do líder nazista são indicados nesta resenha, como uma cópia dos escritos do general prussiano Carl von Clausewitz, autor do nunca esquecido Da guerra.

Outros livros são Racial Typology of the German People (Tipologia racial do povo germânico), de Hans F. K. Günthe, que não tem tradução em português, os vários volumes de International Jew, de Henry Ford, e Zionism as an Enemy of the State (O Sionismo com inimigo do Estado), de Alfred Rosenberg, membro do staff de propaganda do partido e editor do famoso jornal nazista Voelkischer Beobachter.

São poucas citações de títulos para uma biblioteca de 16 mil volumes. Quem quiser saber mais, terá de ler o livro de Ryback. Não tem jeito.

Trecho da resenha

"Hitler pode nunca ter completado uma educação formal, mas os livros ‘eram o seu mundo’, como relembrou o amigo dele dos primeiros dias em Viana, August Kubizek.

No começo dos anos 1920, conforme demonstra Ryback, Hitler não só conseguiu progredir na leitura de centenas de livros históricos e racistas para embasar sua sincera intenção ideológica, como líder do incipiente Partido Nazista, mas também se preparou muito bem para construir um cânone para sua ideologia.

Ele criou uma lista de leituras obrigatórias, estampada nos cartões dos membros do partido, com a seguinte frase em negrito: ‘Livros que todo Nacional Socialista tem de ler’ (pobremente traduzido por Ryback como ‘deveria ler’). Nessa lista incluía pérolas como International Jew, de Henry Ford, e Zionism as an Enemy of the State, de Alfred Rosenberg.”

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