quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Os capitães do mato do racismo à brasileira

Existe no Brasil uma casta de gente que podemos chamar de capitães do mato do racismo à brasileira. As pessoas que compõem esse grupo, e não são poucas, se não são racistas, compraram mui facilmente o discurso racista, segundo o qual “um negro deve saber qual é o seu lugar”, ou seja, um negro deve saber que seu lugar é a senzala moral.

É com essa cartilha na mão que os capitães do mato do racismo à brasileira reagem quando um negro reage ao racismo. Se o sujeito é chamado de macaco e vai aos tribunais, os capitães do mato do racismo à brasileira começam a xingá-lo de aproveitador, dizem que o negro quer aparecer. Ou seja, só porque rebaixaram-no à condição de animal irracional, tiraram-lhe a dignidade humana (coisa que, na visão dos capitães do mato do racismo à brasileira, o negro não tem), só por isso, o negro se acha no direito de reclamar!, vociferam.

Enganam-se os que pensam que os capitães do mato do racismo à brasileira são todos branquinhos. Nunca foram puros. Há os branquinhos de fato que criaram o discurso, sistematizaram-no, levaram-no para as cátedras (imaginárias e reais) e há os que aceitaram, subjugaram-se, curvaram-se ou por falta de malícia ou por má-fé, ou por interesses particulares, por conveniências.

Além de brancos, ainda hoje existem mestiços e alguns negros desavisados que acham que os escravagistas (e suas crias ascendentes) que chicotearam os negros, estupraram as meninas negras (seviciaram a todos psicologicamente, fisicamente, moralmente, intelectualmente, cada um a seu modo), do século XVI ao XIX, se tornaram cidadãos limpinhos da sujeira escravagista, tornaram-se apoiadores dos negros. Seus bisnetos hoje seriam homens que lutam contra o racismo no Brasil. Há sempre exceções, mas não é com elas que vamos mudar o rumo dessa história.


Se eu tivesse a possibilidade (sem ser notado) de estar na cozinha de cada um desses legisladores morais da consciência histórica brasileira, e os acompanhasse até a sala de jantar em família, e os ouvisse falando “os negros no Brasil e os mestiços, incluindo também os índios, são merecedores de uma participação maior na vida social brasileira, merecem respeito, têm o direito de reagir contra a violência, a polícia faz muito mal em ver um negro e espancá-lo, xingá-lo com ódio, estou preocupado com isso, temos de fazer alguma coisa, vamos fazer alguma coisa”, ainda assim eu desconfiaria. Mas, em todo caso, está claro quem são os legisladores. O que a gente não sabe bem quem é, porque misturados demais e só aparecem em situações em que um negro denuncia o racismo, são os capitães do mato do racismo à brasileira. Esses lascam nossa condição. Esses nos caçam diariamente.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Whisner Fraga

Li agora um trecho do romance inédito de Whisner Fraga, O privilégio dos mortos, em seu próprio blog. Fraga não aparece muito na imprensa, talvez por dois motivos, primeiro porque não gosta de correr atrás da mídia de grande volume de acessos, e depois porque ignoram sua qualidade estética.

Existe um traço de muita qualidade em sua escrita que deveria ser colhido pelos leitores que sabem ler além da decodificação. Geralmente os leitores de literatura o sabem, aprendem a fazê-lo. Quem puder, busque Fraga em alguns de seus romances ou livros de contos ou de poemas. Resenhei dois deles aqui. Abismo poente e O livro da carne. Boa leitura!