terça-feira, 29 de setembro de 2009

A NOVA GERAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA


Quem reclama da falta de novidade na malha das letras brasileiras não sabe olhar para seu próprio pomar ou não aprecia o solo nacional. Sob nossos olhos desenvolvem-se vários estilos de uma geração riquíssima, na coisa dita e no modo de dizê-la.

É verdade que na maioria das vezes a experiência não está na forma, mas em algumas sutilezas temáticas. E em outras tantas, os frutos nascem muito iguais. Mas em quaisquer das empreitadas, tudo é intenção.

No caso da sutil renovação de conteúdo, há o exemplo de Carol Bensimon, que, em um ou dois contos de Pó de parede, desenvolve fulcros tendo como pano de fundo a reflexão sobre o meio ambiente. Ou Daniel Pellizzari, que flerta com o humor à Marcelino Freire.

Em outros casos, o exercício da forma é cabal, como em Whisner Fraga (Abismo poente) e Wesley Peres (Casa entre vértebras). Mas, de uma maneira ou de outra, apreciemos ou não, isso já oferece boas perspectivas à nossa literatura.

Venho lendo, sempre que posso, os novos autores para não perder o rumo da prosa brasileira, mas também para exercitar o olhar renovado. E por isso, este blog, seguindo a proposta de realizar um exercício de leitura, vai continuar publicando textos sobre a nova geração. Por enquanto, pelo menos mais sistematicamente, só da prosa.

Um dia, o discurso vai fluir com mais rigor de análise, com observação mais acurada. Por enquanto, o que prevalece é a vontade de dizer, de ler, de aprender, mais do que criticar. Muito embora seja salutar e necessário, de vez em quando, escrever sobre os desgostos estéticos, o contraponto do ideal de escritura aos olhos de quem lê.

Mesmo assim, dá para levantar algumas questões nessa viagem de barco de médio porte em mares pouco revoltos. É bom indagar, por exemplo, para onde olham os novos autores? O que eles valorizam? Qual e onde está a ênfase daquilo que escrevem (de que modo escrevem)? É o básico do que todos perguntam sempre.

Critérios

É claro que alguém com 60 anos de idade, se publica seu primeiro livro, é novo como autor. Mas não é este o critério adotado para designar, aqui, o que é nova geração. O recorte basal para o conceito de novos autores da literatura brasileira neste blog é simplesmente (com todas as contradições, vantagens e desvantagens) o fator idade.

Quem nasceu a partir de 1970 é da nova geração. Os nascidos em 1969 para trás é da geração intermediária ou da velha guarda. Isso significa que escritores como Luiz Ruffato (1961), Marcelino Freire (1967), Nelson de Oliveira (1966), Bernardo Carvalho (1960), Ana Miranda (1951), Carlos Herculano Lopes (1956), Adriana Lunardi (1964), Miguel Sanches Neto (1965), Beatriz Bracher (1961), Heloísa Seixas (1952) e Maria Esther Maciel (1963), entre outros nascidos ao longo das décadas de 1950 e 1960, são intermediários.

Do mesmo modo, nomes como Ariano Suassuna (1927), João Ubaldo Ribeiro (1941), Carlos Heitor Cony (1926), Luiz Vilela (1942), Autran Dourado (1926), entre outros, é da velha guarda, mesmo que muitos ainda estejam na ativa, porque não é a idade que determina a produtividade, e sim, se o autor ainda tem algo a dizer ou não.

Espero que aqui esteja nascendo um divisor de águas do blog, que continuará falando sobre literatura de modo geral, mas olhando para a nova geração como quem procura o que há de novo e o que permanece da tradição.

Adriana Lisboa (carioca) (1970 - )

Anna Paula Maia (carioca) (1977 - )

André de Leones (Goianiense) (1980 - )

André Laurentino (pernambucano, de Olinda) (1972 - )

Antonia Pellegrino (carioca) (1979 - )

Antônio Dutra (carioca) (1974 - )

Antonio Prata (paulistano) (1977 - )

Bruno Zeni (curitibano) (1975 - )

Carol Bensimon (Gaúcha, de Porto Alegre) (1982 - )

Carola Saavedra (chilena, de Santiago, e carioca) (1973 - )

Cecília Giannetti (carioca) (1976 - )

Chico Mattoso (franco-paulistano) (1978 - )

Daniel Galera (paulistano) (1979 - )

Daniel Pellizzari (amazonense, radicado em Porto Alegre - RS) (1974 - )

Eduardo Baszczyn (paulistano) (1976 - )

Edward Pimenta (paulista) (1974 - )

Estevão Azevedo (potiguar, de Natal) (1978 - )

Fernanda Young (fluminense, de Niteroi) (1970 - )

João Paulo Cuenca (carioca) (1978 - )

Letícia Wierzchowski (gaúcha, de Porto Alegre) (1972 - )

Marcelo Ferroni (paulistano) (1974 - )

Michel Laub (gaúcho, de Porto Alegre) (1973 - )

Moacyr Moreira (paulistano) (1972 - )

Paulo Polzonoff Jr. (curitibano) (1977 - )

Ricardo Lísias (paulistano) (1975 - )

Ronaldo Bressane (paulistano) (1970 - )

Simone Campos (carioca) (1983 - )

Tatiana Salem Levy (portuguesa, de Lisboa, naturalizada brasileira) (1979 - )

Tércia Montenegro (cearense) (1976 - )

Tiago Novaes (paulista, de Avaré) (1979 - )

Verônica Stigger (gaúcha, de Porto Alegre) (1973 - )

Wesley Peres (goianiense) (1975 - )

Whisner Fraga (mineiro, de Ituiutaba) (1971 - )

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

IDIOTISMO

Quando tinha 30 anos de idade (2005), fui contratado para fazer uma pesquisa no Dedoc da editora Abril. Deliciei-me ao ler (em leitura dinâmica ou algo que o valha, claro) todas as edições das revistas Cláudia, NegritoCapricho, Homem, Playboy, Realidade, Veja, e outras.

Nessa ocasião, li um belo texto de Norman Mailer sobre Mohamed Ali. Li contos de Dalton Trevisan, outros de Arthur Koestler, entrevistas nas Páginas Amarelas, com Murilo Mendes, por exemplo. No entanto, nada me abalou mais do que uma tirada de humor do Millôr Fernandes, na Veja dos primeiros anos.

A frase do Millôr me veio à memória de um jeito, e depois, ao consultá-la de novo, vi que era de outro, e agora já não me lembro qual é a redação correta. Em todo caso, seguem as duas:

Rapazinho, estude depressa, porque ser burro aos 30 é ser burro à beça.

Acho que é a correta. Mas muitas vezes me peguei a citá-la como:

Estude, meu rapaz, porque ser besta aos 30 é ser besta demais.

Qualquer que seja, é devastadora. Pensei lá comigo “estudei pouco, já estou com a minha cota de 30 anos e, pronto, serei burro (ou besta) para sempre (e à beça).

Hoje, na Ilustrada da Folha de São Paulo, lendo mais um texto de Carlos Heitor Cony, escritor que admiro pela fineza de humor, me deparei com uma frase dele que corrobora à de Millôr, e me lança ao mar de infortúnios. Culpabilidades.

É uma vergonha um sujeito chegar à provecta idade e permanecer ignorando toda uma vasta zona do pensamento humano.

Estudei pouco, muito pouco. Minha culpa, minha máxima culpa.

Foram-se os anos e não aprendi alemão, nem japonês, nem árabe, nem li Kant o suficiente para entender se o imperativo categórico é um arremedo de Os sete mandatos do céu, de Confúcio ou não. Cony está na casa dos 80. Ainda tenho uns 50 anos para fazer esses estudos e diminuir minha cota de vergonha sobre a humanidade.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

LITERATURA INDIANA: o perfil de V. S. Naipaul

Naipaul: "irado, sincero, intenso"

Certa vez li uma entrevista de V. S. Naipaul que me deixou uma impressão duvidosa sobre ele. Naipaul se queixava da mediocridade da produção literária de seu tempo e não deixava dúvida quanto a se achar melhor do que qualquer um na contemporaneidade. Queixava-se, sobretudo, do esquecimento da crítica, pelo estado de silêncio em que haviam posto sua obra.

Agora, eis que Naipaul é assunto do El País do dia 18 de setembro, por causa de sua biografia, El mundo és asi, que acaba de ser traduzida na Espanha. O biógrafo é Patrick French, entrevistado pelo jornal espanhol, que cita um trecho do livro: “Naipaul podia se mostrar irado, agudo, sincero, autocompassivo, sarcástico, lamurioso, mas sempre se resultava intenso.”

Essa intensidade de alma, claro, explica a voluntariedade, os arroubos de arrogância do escritor, Prêmio Nobel de Literatura de 2001 e o primeiro de origem indiana a vencer o Booker Prize, em 1971. Junto com Salman Rushdie, Naipaul é o autor da Índia mais publicado no Brasil.

Na verdade, não é indiano de nascença. Seus pais o são. Sua origem, portanto, é clara. Mas nasceu mesmo em 1932 na ilha de Trinidad, que forma o país Trinidad e Tobago, situado nas Pequenas Antilhas, logo acima da costa venezuelana. Atualmente é cidadão britânico, o que para sua obra não faz diferença, sempre escreveu em inglês.

Homem culto e viajado, houve um tempo em que Naipaul explorou boa parte da Índia e da África, tomando conhecimento dos vários problemas sociais e políticos dessas duas regiões. Um de seus perfis facilmente encontrados na internet diz o seguinte: “Estas observações [feitas a partir das viagens] são encontradas nos livros de V.S. Naipaul, que escreveu sobre escravidão, revolução, guerrilhas, políticos corruptos, sobre pobres e oprimidos, interpretando o ódio profundamente arraigado em nossa sociedade.”

Quem leu Uma curva no rio, belo romance ambientado na África, pode entender melhor essa descrição da sensibilidade de Naipaul. Para querer ler sua biografia é um pulo de estado d’alma. Por isso mesmo, segue abaixo um trecho do texto do El País, com a entrevista de Patrick French.

ENTREVISTA DO ÉL PAÍS

Esta biografa [publicada em 1997 na Inglaterra] agora é lançada na Espanha, e seu autor, um brilhante escritor britânico de 43 anos, sobreviveu sobressalentemente (segundo a crítica) a aventura de trabalhar cinco anos sobre a vida de um escritor que, neste livro, reconhece que pode ter matado (de desgosto) sua primeira mulher (Pat), revelando, por exemplo, que no decorrer dos primeiros anos de casamento saía com prostitutas. Além disso, em dado momento do matrimônio, o escritor passou a ter uma amante, chamada Margaret.

Mas o livro de French é muito mais que isso. Intitula-se El mundo es así, publicado pela Duomo, e seu autor esteve ontem (17/09) em Madrid. Segue abaixo o resultado de nossa conversa.

El País: Não é uma biografia complacente. Estranha-nos que seja uma biografia autorizada.

Patrick French: É irônico, sim, porque é o oposto daquilo que esperamos. Seguiram-se aqui os cânones clássicos. Naipaul acredita que é preciso sempre decidir pela verdade, ainda que doa, e aí o pus diante do espelho.

EP: O livro é brutal. É surpreendente esta confissão sobre Pat. Quiçá a tenha matado de infelicidade, como ele mesmo disse.

PF: Conversei muito com ele sobre temas que jamais havia falado abertamente com outra pessoa. Quando disse aquilo sobre Pat foi como se formulasse esses pensamentos pela primeira vez. Não o disse para ficar bem, nem para ficar mal. Simplesmente disse que talvez seu comportamento tenha causado a morte dela.

EP: Como você reagiu quando ele falou isso?

PF: Pat era inteligente e brilhante. Por alguma razão estava disposta a se sacrificar pelo gênio de Naipual. Mas começou a fraquejar de maneira gradual. Em meados dos anos 80 já não tinha muitas aspirações. Ele dependia dela. Disse que não se atreveu a deixá-la livre para voar. Mas o que fez com ela foi brutal. Ela não teve forças para deixá-lo, nem ele pôde deixá-la ir. E a vida de Pat foi destruída.

EP: A literatura de Naipaul não parece perturbada pela presença das mulheres.

PF: Isso sempre está escondido em seu trabalho. Sempre teve as mulheres fortes em seu redor. Sua mãe era assim. Ele se submetia a ela, e Pat o salvou. Margaret, em outro sentido, o ajudou muitíssimo também. Para ele, tudo depende das mulheres. Mas nunca conseguiu expressar isso em seus livros. De forma que esta biografia é uma espécie de decodificador de sua vida.

EP: Como você conseguiu romper as barreiras íntimas de um homem considerado tão frio?

PF: Fui muito direto. Não demonstrei nervosismo diante dele, como acontece com outros que lhe defrontam. Não o julguei. Somente escutei o que me dizia. Não creio que tenha feito coisas tão diferentes de muitos outros homens. A diferença é que não tinha contado isso publicamente.

EP: Você disse que contar a vida assim, da forma que fez, é um ato de narcisismo e de humildade de Naipaul.

PF: Ele quis contar a verdade. É a única coisa que lhe interessa como escritor. É uma pessoa que rompeu com sua vida, e por isso a conta.

EP: Como você mudou de ideia sobre ele ao longo desse trabalho?

PF: Ele criou muitas barreiras, e não se abre para nada. Não me dei conta a não ser mais tarde do caribenho que é, e o muito que entrou nele a cultura de Trinidad. Levei tempo para me dar conta disso e notar quão havia sido difícil sua vida anterior na Índia e em Londres dos anos 50. Não é raro que alguém que tenha passado por tantas dificuldades queira se vingar.

EP: Mas você disse que ele é humilde.

PF: Ele é distante, mantém-se à distância. É calado, observador. Escuta aos desfavorecidos com grande interesse. Isso requer humildade. Outras vezes se comporta de maneira totalmente diferente.

EP: Você gosta dele?

PF: Sim, gosto. Sinto afeto por ele, mas tenho em conta o cruel que ele pode ser. Ele tem um lado muito engraçado. É muito gracioso, muito inteligente. Mas tive de me distanciar para poder escrever sua biografia. É um sentimento ambíguo o que tenho por ele.

EP: Por que ele aceitou você como biógrafo?

PF: Talvez por ter lido uma biografia que escrevi sobre um explorador do século XIX. Ele gostou, provavelmente, porque nem condenei nem elogiei. Simplesmente contei a história.

EP: Você disse que ele pode ser irado, sarcástico, tenso ... Chegou a pensar em abandonar o trabalho sobre um homem tão difícil?

PF: Cada vez que ele vinha, eu pensava que poderia ser a última vez. Ele tem muita facilidade em brigar com as pessoas. Às vezes se enfurecia com alguma coisa, mas eu o combatia como um psicanalista. Não tomava isso como pessoal. Só me limitava a escutá-lo.

EP: Ele se arrepende, às vezes?

PF: Não, jamais. Sente-se culpado de como tratou a Pat. Mas nunca se arrependeu de nada mais.

EP: Você diz que ele é capaz de falar grosseria sem mais nem menos a alguém.

PF: É seu lado de ator. É como se estivesse num teatro. Quando o visitei na Índia, estávamos na casa de uma família de classe alta em Nova Delhi, num jantar formal. E ali havia pessoas que o deixavam possesso. Não as conhecia, mas eram do tipo de gente da qual ele não gostava nem um pouco. E provocava situações tensas. Lembro-me de uma festa em que uma senhora o procurou com alguns livros dele. Ele lhe perguntou qual dos livros ela havia gostado mais. E depois me disse que aquela mulher não tinha pinta de leitora: “Você notou como ela manuseava os livros? Levava os livros na mão como um jogador de cricket segura seu taco. Nessas situações, ele é cruel e malicioso. Em outras circunstâncias é totalmente diferente.

EP: O que o faz feliz?

PF: Quando supera algum desafio intelectual ou de escrita. As pessoas não o fazem feliz. É um sujeito que vive em sua própria mente, complemente só. Mas não é uma pessoa feliz. Pode se divertir, ser gracioso, mas não é feliz de maneira natural. Acredito que em algum lugar de sua mente tema a perda de sua capacidade física. Ele viu o que se passou com seu pai, seu irmão, com ele mesmo... Sempre esse temor. Creio que seja esta a razão por que fica tanto na defensiva.


Serviço

Os livros de V. S. Naipaul podem ser comprados na Livraria Cultura, clique no título.

Título: Entre os fiéis
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 1999, 552 páginas
Gênero: História
Preço: R$ 71,50

Título: Sementes mágicas
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 2007, 264 páginas
Gênero: Romance
Preço: R$ 47,00

Título: Além da fé
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 1999, 552 páginas
Gênero: Viagens
Preço: R$ 71,50

Título: O enigma da chegada
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 2001, 344 páginas
Gênero: Romance
Preço: R$ 56,50

Título: O massagista místico
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 2003, 224 páginas
Gênero: Romance
Preço: R$ 42,00

Título: Meia vida
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 2002
Gênero: Romance
Preço: R$ 44,00

Título: Uma casa para o Sr. Biswas
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 2001, 528 páginas
Gênero: Romance
Preço: R$ 68,00

Título: Uma curva no rio
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 2004, 320 páginas
Gênero: Romance
Preço: R$ 55,50

Título: Os mímicos
Autor: V. S. Naipaul
Editora: Companhia das Letras, 2001, 320 páginas
Gênero: RomancePreço: R$ 51,00

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A ESPADA DE PIZARRO: para quem conhece a história da espoliação

Réplica da espada de Pizarro, sem sangue


"Eu vi a espada de Pizarro
na vitrina
de um museu em Lima

Era fina.
Foi comprada por um peruano rico
de um americano rico
para o espanto de meus olhos pobres.

Eu vi a espada de Pizarro
– era fina –
numa tarde cinzenta em Lima.

Num museu podia ser um histórico ornamento.
Mas uma gota de sangue escorria
escorria no assoalho ainda."

Este belo poema foi publicado em Textamento (Rocco, 1999), de Affonso Romano Sant’Anna. O título do livro é uma fusão da palavra ‘texto’ com a denominação da carta que descreve o legado de alguém que morre. No caso de A espada de Pizarro, a poesia é o testamento do poeta. A violência, a pobreza e o sangue escorrendo na história foram o que nos deixou Pizarro.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FLORES AZUIS: escrita, fetiche, amor, violência e loucura


As cartas de amor figuram na literatura desde há muitos séculos. Entre as mais tocantes estão as inventadas pelo poeta Ovídio, em seu livro Cartas de Amor, em que ele recria missivas entre Medeia e Jasão, Penélope e Ulisses e outras tantas.

Diário de um sedutor, romance do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, também é outro que lida com o tema. Mas talvez o mais emblemático desses romances epistolares seja mesmo As relações perigosas, de Chardelos de Laclos, que no Brasil conta com uma das raras traduções feitas por Carlos Drummond de Andrade.

Dito isso, em 2008, a escritora chilena-carioca Carola Saavedra publicou um romance muito bom, que também traz em seu fulcro uma espécie de missivas amorosas, intitulado Flores azuis (Companhia das Letras, 2008), que “homenageia e ao mesmo tempo desconstrói o gênero do romance epistolar”, conforme está escrito na quarta capa do livro. Foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2009, mas não levou os R$ 200 mil para casa.

Em todo caso, Flores azuis vale a leitura. São duas narrativas paralelas, em que, de um lado, um homem recém-separado começa a receber cartas em seu apartamento destinadas a quem ele imagina ser o antigo morador. De outro, eis a autora das cartas, que não se identifica, assinando apenas A.

À medida que as correspondências vão chegando ao seu endereço, Marcos penetra no universo angustiante e fascinante dessa suposta mulher que escreve. As primeiras cartas revelam um amor incondicional, submisso, mas também uma insinuação sado-masoquista ou uma espécie de fetiche, o que acaba criando a tensão que atinge em cheio o leitor fictício e o leitor real.

Tudo seria mais fácil se fosse só isso, a violência, o sangue, as marcas no dia seguinte, as coisas mais espantosas. E eu poderia te amar ou te odiar profundamente. Mas, não. Havia também outras nuances, outros momentos, às vezes, havia uma suavidade, e eu ficava pensando, de onde viria aquele teu jeito dócil, indefeso, de onde viria, assim, de repente. Havia algo em você que de te tão suave me emocionava, como se você também estivesse sofrendo, o tempo todo. E eu te olhava surpresa e extasiada. Por que você sofria?

A autora das cartas sabe bem o que faz. Tem domínio da escrita, consciência das palavras e clareza na maneira de usá-las em cada texto. Nesse sentido, Flores azuis é também um exercício de linguagem, um tipo de literatura muito em voga nos dias de hoje.

“Há sempre uma palavra que nos une”, diz em uma das cartas. “Agora, os meus dedos sobre as teclas. Agora, a tua leitura no sofá, ou na cadeira, ou na poltrona, o lado que eu desconheço. Essa palavra que nos une.”

A vida de Marcos não será a mesma após receber essas cartas misteriosas. Seu cotidiano muda completamente. Os problemas com a ex-mulher, a dificuldade de lidar com a filha pequena e de se acertar com as novas namoradas, antes fatores centrais de sua rotina, passam a ser secundários.

Há um deslocamento de atenção e de sentido. Nesse ponto, a dinâmica do jogo criado pela autora se parece um pouco com os personagens de Paul Auster em Trilogia de Nova York, uma lembrança sutil, principalmente no que se refere ao desfecho da trama de Flores azuis.

Além da violência retratada, que imprime uma estranheza sui generis, as outras temáticas exploradas pelo texto de Carola ajudam a compor esse romance singular. Um desses fios é justamente a metalinguagem, ou seja, a maneira de se construir um texto discutida dentro do texto ao longo do livro.

“O tempo que se interpõe entre as palavras e as suas voltas e retornos. Entre esta e a primeira carta há todo um desencadear de fatos e consequências e lembranças, entre esta e a primeira leitura, todo um desencadear preenchendo, desvirtuando o que e com tanto empenho quis dizer.” O que nos faz desconfiar de tudo que ela diz, recompondo sempre o texto dentro de nós.

Carola tem 36 anos de idade e já é um a autora de respeito, com alguns livros publicados, como Do lado de fora (7 Letras, 2005) e Toda terça (Companhia das Letras, 2007). A julgar por Flores azuis, sua literatura promete frutos cada vez melhores.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

CONY E A JULIANA PAES

Na crônica dessa sexta-feira, na Folha de São Paulo, Carlos Heitor Cony citou Juliana Paes. Seria essa imagem mais um truque de Cony para continuar vivendo (conforme texto comentado aqui)? Se for, é um dos melhores. O homem que pensa em Juliana Paes não tem motivos para morrer.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

AS AVENTURAS DE HUCKLEBERRY FINN: o retrato tragicômico de uma sociedade



Obra-prima do escritor Mark Twain (1835 - 1910), As aventuras de Huckleberry Finn (Ática, 2002) desenha o rosto pouco lisonjeiro de uma sociedade que começava a se firmar num mundo novo: a sociedade norte-americana, escravagista, ignorante, ou simplória, violenta e cheia de elementos marginalizados, mãe de trapaceiros e pilantras de toda ordem.

O sonho americano que se vê no cinema, na literatura, nos objetos fetichizados da sociedade de consumo a partir dos anos pós-guerra, e que já está se perdendo, nasceu desse pesadelo narrado por Twain. Está ali o ambiente dentro do qual se formaria o império, dando os primeiros passos em sua revolução industrial, em alguns Estados, sem ainda ter abolido a escravidão (que seria feito em 1865).

Escrito em 1885, As aventuras de Huckleberry Finn foi ambientado bem antes, no período da infância do próprio Twain, quando ainda não haviam sido fixados na mente norte-americana os conceitos de ‘vencedor’ e ‘perdedor’. Mas isso estava sendo articulado no pensamento do filósofo inglês Herbert Spencer (1820 - 1903), que contribuiu para a criação do que seria o maior berço de psicopatas do mundo, o que é outra história

Na época de Huckleberry, o grande e único fio integrador entre sul e norte dos Estados Unidos era o rio Mississípi, cenário das aventuras do menino de 13 anos, que era órfão de mãe e tinha um pai opressor, violento e bêbado, na maior parte do tempo.

Foi para fugir desse pai que Huck desembestou numas das mais fantásticas narrativas da história da literatura mundial, recriando ao modo do gênio de Twain as características das principais ficções de aventura, como Dom Quixote, Robinson Crusoé e As mil e uma noites.

Margens

Huck esteve nas Aventuras de Tom Sawyer, romance anterior de Twain narrado em terceira pessoa, que Tom protagoniza. Mas aqui é o próprio Huckleberry Finn que registra suas peripécias. Após ganhar um bom dinheiro na companhia de Tom, ainda na outra história, e ser adotado por uma viúva, dona de um escravo chamado Jim, agora Huck começa a viver a sua própria aventura.

O pai de Huck ficou sabendo dessa história do dinheiro e o sequestrou numa tentativa desesperada de ficar com a poupança do filho. Huck consegue escapar, armando um cenário de horror, ao forjar seu próprio assassinato. Enquanto todos pensavam que o menino prodígio estava morto, ele descia numa jangada as águas do velho Mississípi.

Para ninguém descobrir seu paradeiro, só navegava à noite (ora acompanhado da luz da lua, ora enfiado na escuridão), escondendo-se durante o dia, enquanto se alimentava de frutas encontradas pelo caminho. Ao se refugiar numa ilha no meio do Mississipi (ilha Jackson), Huck encontra Jim, que também havia fugido por outras razões. E os dois seguem uma aventura de farsas e desafios até o fim.

Duas cenas

Entre as qualidades desse livro que influenciou muitos escritores no mundo inteiro, inclusive o nosso talentoso Monteiro Lobato, está a narração clara, com quadros pintados com vivacidade, às vezes bucólica, entrecortada pela realidade nua, crua, cômica e quase sempre violenta.

Um exemplo de clareza são duas cenas que se contrapõem pela posição do narrador Huckleberry, em que, numa, ele está na jangada no embalo da correnteza do rio noturno, ouvindo um grupo de homens à margem, e noutra, é ele que está em terra firme (na ilha Jackson), observando às escondidas uma expedição que saíra à procura do suposto corpo de Huck.

Primeira:

“Enfiei a canoa pelo meio dos troncos que passavam, me estendi no fundo e deixei ela ser levada pelo rio. Fiquei ali deitado, descansando e fumando meu cachimbo, olhando para o céu, sem nenhuma nuvem. O céu parece sem fundo quando a gente olha para ele desse jeito, deitado de costas numa noite de luar; nunca tinha reparado nisso antes. E como dá para ouvir de longe na água, numa noite assim! Escutei gente falando na estação da balsa. E ouvi cada palavra que eles diziam. Um homem disse que os dias estavam ficando mais comprimidos e as noites mais curtas. Outro disse que podia ser, mas que aquela ainda estava sendo bem comprida – e os dois riram, aí ele repetiu a piada e os dois riram de novo; depois acordaram um outro sujeito e contaram para ele, rindo, mas ele não achou graça nenhuma; só xingou os outros e disse para deixarem ele em paz. O primeiro sujeito disse que precisava contar aquela história para a mulher dele – ela ia gostar; mas que o outro precisava ver as piadas que ele já tinha inventado no tempo dele. Ouvi alguém dizer que já eram três da madrugada, e que esperava que não levasse ainda muito tempo para o dia amanhecer. Depois disso, a conversa foi ficando cada vez mais distante, e aí eu não conseguia mais entender as palavras, só dava para ouvir um murmúrio; e de vez em quando uma risada também, mas muito longe.”

Segunda (em que são dados tiros de canhão na água para fazer flutuar o suposto corpo de Huckleberry):

Aos poucos a balsa foi chegando, foi chegando, e passou tão perto que dava para terem descido uma prancha e desembarcado na ilha. Estava quase todo mundo a bordo daquela balsa. Meu pai, o juiz Thatcher, Bessie Thatcher, e Jo Harper, e Tom Sawyer, e a tia Polly, e Sid e Mary, e muito mais gente. Todo mundo só falava do assassinato, mas o capitão interrompeu e disse:

‘Olhem bem; aqui é o ponto onde a correnteza passa mais perto da ilha. Talvez a água tenha trazido ele para junto da margem e ele tenha ficado preso nas plantas na beira do rio. Pelo menos é o que eu espero.’

Mas eu não estava esperando. Todos os passageiros da balsa se amontoaram junto da amurada, bem pertinho da minha cara, e ficaram bem quietos, olhando com a maior atenção. Dava para ver todo mundo com toda a clareza, mas eles não conseguiam me ver. E aí o capitão avisou:

‘Cuidado!’, e o canhão deu um tamanho tiro bem na minha frente que eu fiquei surdo com o barulho e quase cego com a fumaça, e até achei que tinha morrido. Se o canhão estivesse carregado, eles bem que iam acabar com o corpo que estavam procurando. Mas eu vi que não tinha me machucado, graças a Deus. O barco seguiu em frente e desapareceu atrás da ponta de baixo da ilha. Eu ainda escutava os estrondos de vez em quando, mas cada vez mais longe, e mais ou menos depois de uma hora parei de ouvir.

O riso e o drama

No ambiente das aventuras de Huck Finn, o caudaloso rio, com sua gente e cidades ribeirinhas, representando o provincianismo norte-americano daquele século, Twain arma seu show, na voz do garoto Huckleberry, trazendo à tona o riso e o drama.

Mas um riso feito do trágico. O humor de Twain é marcado pela ironia e pelo sarcasmo (humor negro). Esse tom tragicômico começa na advertência do autor, que diz: “Se alguém tentar encontrar um tema nesta narrativa, será processado; se tentar encontrar uma moral, será banido; se tentar encontrar um enredo, será fuzilado.”

Ao longo da narrativa, a cara do país vai aparecendo em tom de galhofa. Huck narra sua história de forma séria, querendo fazer-nos acreditar em suas aventuras. Mas, o que vemos é o ridículo, às vezes a ingenuidade, a simplicidade, a ignorância, e, principalmente, a face má de uma sociedade a caminho.

A ignorância aparece, por exemplo, na maneira como o pai de Huckleberry o repreende por ter sido posto na escola pela viúva que o adotara, e ele ter aprendido a ler. “Eu vou ensinar essas pessoas que elas não podem meter na cabeça de um menino a ideia que ele é melhor que o pai dele, e que pode ficar melhor ainda. Eu não quero te ver nunca mais naquela escola, ouviu? A sua mãe morreu sem ter aprendido a ler e nem escrever. Ninguém da família aprendeu. Eu mesmo nunca aprendi; e aí vem você e me aparece com um rei na barriga. Eu não vou deixar – ouviu bem? Mas primeiro deixe eu ver você lendo.”

Numa das aventuras de Huck, ele ajuda uma dupla de trapaceiros a escapar do linchamento. E aí o mais jovem deles descreve seu currículo, expondo ao ridículo várias atividades, mas principalmente a de jornalista:

De ofício, sou jornalista e impressor; mas também mexo um pouco com a venda de remédios; sou ator de teatro – especializado em tragédias, sabe?; também pratico um pouco de mesmerismo e frenologia quando dá; ainda ensino geografia nas escolas para variar; e às vezes faço conferências – sabe como é, eu faço muita coisa – quase tudo que aparecer, contanto que não seja trabalho.

Ainda na esteira do riso, a narrativa de Huck mostra a situação dramática dos negros. Numa conversa entre ele, se passando por outro garoto, e uma dona da casa, há uma pitada de humor negro:

‘O vapor encalhou – mas, a gente só se atrasou um pouco por causa disso. É que explodiu a cabeça de um cilindro.’

‘Meu Deus! E alguém se machucou?’

‘Não. Só matou um negro.’

‘Que sorte; porque às vezes tem gente que se machuca.’

Em outra cena, o leitor experimenta mais uma dose desse humor e dessa realidade, que, diga-se de passagem, não era diferente da vivida pelos negros brasileiros.

‘Quando a gente estava almoçando, você não viu um negro entrar lá levando comida?’
‘Foi.’
‘E você pensou que a comida era para quem?’
‘Para um cachorro.’
‘Eu também. Mas não era.’
‘Por quê?’
‘Porque tinha melancia.’

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A GRANDE LIÇÃO DA LEITURA

Agência EFE/Divulgação
14ª Bienal do Rio. Ela ainda não alcança Adélia Prado, mas chegará lá. Do site de El País

Quem lê, uma das primeiras lições que aprende é a da solidão. Quem lê mais, penetra fundo nessa mata sempre virgem, sempre verde de silêncio. De vez em quando um caçador furtivo, um uivo, um grito estalam e ecoam nas frechas de luz da leitura.

A outra grande lição de quem lê, nem todos aprendem, é a de sair da solidão para ser sociável e ter e pedir complacência. Mas a dor da descoberta da leitura permanecerá. É dolorido ler um livro que ninguém leu e, portanto, não encontrar uma alma que compartilhe sua decepção ou contentamento.

Mesmo que a consciência aos berros nos indique que há milhões de livros, e que as pessoas procuram leituras diferentes, e que a margem de convergência, a intersecção, é mesmo mínima.

É verdade que com a internet essa sensação de caminhar sobre o Mar Vermelho solitariamente é menos intensa. Há sempre alguém que aparece para dividir a dor, ou criticar, ou agradecer a dica. Escrever em blogs pode ser uma maneira de não adoecer. Mas a leitura, apesar dos dois afiados gumes, ainda é o grande divã.

Outra maneira de não adoecer seria participando da 14ª Bienal do Livro (veja o blog da Bienal também), no Rio de Janeiro, que vai de 10 a 20 de setembro. Mas não posso viajar até lá, agora, para ver a floresta de livros. Fico na viagem pelos meus que chegaram, e pelos que existem na Biblioteca do Centro Cultural Marieta Telles Machado, em Goiânia, onde moro, onde vou voltar a estudar, ler mais, entrar e sair dessa solidão, sem medo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A originalidade de Chico segundo Leyla Perrone-Moisés

Li recentemente mais um texto da crítica de literatura Leyla Perrone-Moisés sobre Leite derramado, de Chico Buarque. O primeiro está estampado na primeira página do blog de divulgação do livro. O segundo saiu na revista eletrônica Trópico. Segue abaixo um trecho, em que ela fala da descrição das atitudes de uma personagem para provar a originalidade do autor:

A vitalidade e a espontaneidade de Matilde aparecem desde a primeira página do livro, quando ela é lembrada voltando ‘afogueada’ da praia. No decorrer da narrativa, são inúmeras as expressões felizes e originais encontradas pelo escritor para fixar seus comportamentos e sua personalidade. Matilde ‘saía da igreja como quem saísse do cinema Pathé’; cantava o Réquiem ruborizada, com ‘olhar em pingue-pongue’ e ‘um riso contido’; aproxima-se de Eulálio ‘não em linha reta, mas em parafuso, a se entreter com meio mundo à sua volta, como se estivesse numa fila se sorveteria’; ‘corava pouco a pouco até ficar bem vermelha, como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol’; entrava no mar ‘daquele jeito dela, como se pulasse corda’; saltitava na calçada ‘como se jogasse amarelinha’. Etc.

Respeito o ponto de vista de Leyla, mas, sinceramente, não consigo ver a novidade criativa de Buarque nesse trecho. Não li o livro, não por preconceito, mas por falta de verba para estender minhas pretensões de leitura. Se tenho alguns centavos, vou querer um Georges Perec, A vida - modo de usar, que acaba de ser lançado em edição de bolso pela Companhia das Letras e que para mim é mais urgente.

A única coisa que vejo nessas citações de Leyla Perrone-Moisés é um eco da música Construção: “Beijou sua mulher como se fosse a última/ E cada filho seu como se fosse o único/ (...) Subiu a construção como se fosse máquina/ (...) Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago/ (...) Seus olhos embotados de cimento e tráfego/ (...) Sentou pra descansar como se fosse um pássaro/ E flutuou no ar como se fosse um príncipe/ E se acabou no chão feito um pacote bêbado/ Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado.”

Isso, sim, me parece insuperável.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O equívoco em tempos de esquizofrenia

Sidney Santiago, que faz Ademir, o esquizofrênico genial de Caminho das Índias

As novelas da Globo ainda têm uma alcance impressionante, tão amplo, permeando todas as camadas da sociedade, que o tema abordado ali é o tema que se discute nas ruas e se vê estampado em capas de revistas.

Um desses objetos de discussão é a esquizofrenia, na novela Caminho das Índias, que agora chega à reta final. E a gente que vê novela se pega sondando a própria alma de maneira diferente, na desconfiança de que possa ter um pouco daquela loucura. Não as vozes, mas os buchichos do universo conspirando contra.

Basta um equívoco e um desencontro para surrarmos a consciência com o escrutínio de quem tem dupla personalidade. Uma quer denunciar a outra.