sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

GIORDANO BRUNO ERA UM MÁRTIR, MAS, DO QUÊ?

Giordano Bruno em ilustração da Universidade de Yale, EUA


A nova biografia de Giordano Bruno, escrita por Ingrid Rowland (leia mais aqui), está dando o que falar, tentando trazer de volta a discussão sobre um sujeito admirável, herético até a medula, gênio e insubordinado, corajoso e doidivanas, inconsequente, mal criado, e, por causa disso, queimado na Fogueira Santa.

Recentemente, o jornalista do New York Times, Anthony Gottlieb, escreveu um texto intitulado O homem partícula, sobre Bruno, falando de sua existência enigmática e da insuficiência das informações sobre seu julgamento, abordando alguns elementos trazidos à tona por Ingrid, cujo livro ainda não foi traduzido para o português.

Leia um trecho:

“Já está se tornando uma palavra gasta, mas Giordano Bruno pode ser descrito simplesmente como um dissidente. Queimado na fogueira em Roma numa Quarta-Feira de Cinzas, em 1600, ele parece ter sido uma mistura inclassificável de saltimbanco boca-suja napolitano, poeta tagarela, reformador religioso, filósofo escolástico e um tipo ligeiramente estranho de astrônomo.

Sua versão do Cristianismo é impossível de se rotular. Educado pelos dominicanos – guardiões da ortodoxia católica daqueles tempos –, reverenciou certas escrituras e os textos de Santo Agostinho, sempre duvidou da divindade de Cristo e flertou com as perigosas novas ideias do Protestantismo, e ainda pediu que o próprio Papa o livrasse da acusação de heresia.

Bruno foi mártir de alguma coisa, mas, quatro séculos depois de sua imolação, ainda não há clareza sobre o quê. O fato de todo os arquivos de suas 16 interrogações terem se perdido ou sido destruídos não ajuda em nada. O enigma de Bruno é mais profundo do que tudo isso, conforme Ingrid Rowland, pesquisadora da Renascença, que leciona em Roma, deixa claro em sua rica biografia recém-publicada, Giordano Bruno.

Era ele uma espécie de explorador científico, para ser comparado com Galileo, cujo suave encontro com a Inquisição Romana – de fato, com o mesmo inquisidor, Cardinal Bellarmine – não durou muito?

Como Galileo, Bruno rejeitou a cosmologia geocêntrica e a física aristotélica, que era endossada pela Igreja. No século XIX, historiadores da ciência viam-no como um precursor da teoria atômica e do universo infinito.

Ou era Bruno um sonhador ocultista, mais mágico do que matemático, conforme o renomado historiador Frances Yates, convincentemente, argumentou nos anos 1960? Em uma coisa ou outra, Bruno sofreu as conseqüências de falar o que pensava, embora, também tenha tido um bocado de azar nessa história, muitas vezes sendo o próprio responsável pelos seus revezes.”

OBS: Para saber mais sobre Giordano Bruno, uma boa dica é o livro de Frances Yates, citado no texto por Gottlieb, Giordano Bruno e a tradição hermética (Cultrix, 2ª ed., 1995, 505 páginas), que pode ser comprado na Livraria Cultura.

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