segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

UM POUCO DA LITERATURA DE ROBERTO BOLAÑO



O chileno Roberto Bolaño, morto precocemente aos 50 anos, em 2003, vem tendo uma grande visibilidade nos Estados Unidos. Considerado uma das principais influências da nova geração de escritores latinos, Bolaño tem alguns livros publicados no Brasil, como Noturno no Chile, A pista de gelo, Amuleto e Putas assassinas. Os dois últimos foram lançados em 2008, sendo Amuleto uma compilação de Detetives Selvagens.

Já nos Estados Unidos, recentemente foi lançado mais um livro de Bolaño, 2666. A jornalista da revista The New Yorker, Ligaya Mishan, escreveu uns textos elogiosos sobre o livro, disponíveis no blog que ela edita The book Bench, numa espécie de conferência nacional sobre o livro, em que os leitores opinam.

No primeiro texto, que segue abaixo, Ligaya começa fazendo ressalvas sobre Detetives Selvagens, que acaba sendo uma ressalva a Bolaño, na visão feminina (ou feminista) dela, para depois entrar no mérito de 2666. O blog já acumula três textos sobre o autor, mas aqui segue apenas o primeiro (para ler os outros, em inglês, clique aqui).

Leia:

“Sou uma felizarda por trabalhar numa função que me permite ganhar muitos livros. Quando realmente compro um, é um acontecimento. Foi o que houve em março de 2007, depois de eu ler o ensaio de Daniel Zalewski sobre Roberto Bolaño.

Fui correndo à livraria comprar avidamente Os detetives selvagens. Primeiro folheei com furor as páginas todas, daquele jeito alucinatório quando descobrimos uma novidade. Que voz sensacional! Foi como quando li Faulkner ou Rushdie pela primeira vez.

Mas então – e sei que vai parecer um sacrilégio aos fãs de Bolaño – perdi o entusiasmo. Era ‘macho’ demais para mim, essa obsessão pelo sexo e a aparente onipresença de ninfetas artificialmente espertas nas artes corporais, cinicamente mal intencionadas em seus carinhos. (É uma implicância que tenho contra romances de escritores homens). Talvez tenha sido o livro certo na hora errada. Estou louca para me arriscar de novo.

O que gostei em Detetives selvagens, pelo menos até aquele ponto, e o que adoro nos contos de Bolaño, é sua empatia extraordinária, sua disposição para desnudar – caso não seja algo sentimental demais para dizer – os contornos da alma.

O que li até agora de 2666 me parece distanciado, menos íntimo, quase clínico, por todo o calor e toda a violência presentes ali e os rompantes de poesia em queda-livre.

Não significa um livro sem paixão. De fato, apesar do que escrevi acima, concordo com um de nossos leitores, Wendy Breuer, que chamou o livro de ‘cri de coeur’ [grito do coração] – parece possuído por uma fúria gelada, que levou outro leitor, Mauro Javier Cardenas, a chamar a literatura de Bolaño de ‘fúria no destino dos infelizes’. A angústia é palpável. Mas simplesmente não me parece algo íntimo e pessoal.

Isso é pura observação e não uma crítica. (Controle a massa enfurecida!) Afinal, dificilmente descreveríamos ‘Moby-Dick’ como íntimo também. Em 2666, depois de 400 páginas, ainda estou encantada e subjugada pela medida de ambição de Bolaño, por seu destemor.

Apenas me pergunto por quais de seus personagens tenho compaixão, se por qualquer um. Podem me chamar de retrógrada, mas quero torcer e chorar pelos personagens, apostar no destino deles. Talvez quando alcançar a parte V, tudo vai se esclarecer e eu cairei de joelhos pedindo perdão.”

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