Ninguém ainda abordou a poesia de Vinicius de Moraes com o olhar que ela merece. Mas, justiça seja feita, o poeta Eucanaã Ferraz é quem mais dá atenção a ela, com a vantagem de ser contemporâneo nosso e mais distanciado do ‘poeta da paixão’, conforme denominou José Castello.
Aliás, José Castello, jornalista e escritor, romancista e biógrafo de Vinicius de Moraes, acaba de escrever mais um texto sobre o poeta das Cinco elegias, na revista Bravo! deste mês. Castello é outro que conhece bem Vinicius. Em sua biografia O poeta da paixão, ele fala sobre Soneto de Fidelidade, cujos três últimos versos
“Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
“descrevem, com precisão espantosa, a essência da visão que o poeta terá do amor ao longo de toda a vida: uma experiência avassaladora, superior, que traz a sensação de eternidade mas que necessariamente – como tudo o que é sentido pelo homem – acaba.”
Acho que há muito mais nesse soneto-chave de Vinicius. Infelizmente, para levantar todo seu significado, desconfio, seria necessário perfazer de novo e com outro recorte todo o caminho de estudos e influências do poeta, de quando ele virava noites lendo Pascal, Nietzsche e Kierkegaard com Octavio de Faria, Mário Vieira de Mello, entre outros colegas do fervor religioso do começo, até chegar às paixões avassaladoras.
Veja que irônico, mas nem tanto, Nietzsche, niilista, e Kierkegaard, existencialista cristão, que era lido pelo autor de Assim falou Zaratustra, juntos na alma de Vinicius!
Como já disse em outro post, Vinicius de Moraes está voltando (leia aqui). Exemplo disso são os lançamentos de novos livros, como Poemas esparsos (leia aqui) e o relançamento dos primeiros livros do poeta, como O caminho para a distância, além de Folha explica Vinicius de Moraes, de Eucanaã Ferraz, que é quem está por trás dos outros títulos também.
Mais um exemplo são as constantes reportagens e artigos sobre o poeta, como a que saiu na revista Língua Portuguesa, também de Eucanaã Ferraz, com Vinicius na capa (número 26, 2007, leia aqui), e o recente texto de Castello, na Bravo!, de janeiro agora.
Veja um trecho:
"Uma Alma Duplicada
Oscilando entre o prazer e o desamparo, Vinicius viveu os seus nove casamentos como um 'escravo da paixão', para quem o amor, mais que alegria, era fardo
Por José Castello
Vinicius de Moraes, o poeta da paixão, foi também o poeta do desespero. Sob a máscara do artista feliz, em eterno galanteio com a vida, escondeu-se, durante 67 anos, um homem atormentado, para quem o amor foi não só alegria, mas fardo, e a vida, uma sucessão de decepções.
Comecei a trabalhar em minha biografia de Vinicius de Moraes no início dos anos 90, uma década depois da morte do poeta. A única vez em que o vi, em fins dos anos 70, contudo, me bastou para perceber, não sem dificuldades, pequenos sinais desse Vinicius desconhecido. Eu era repórter de Veja e o poeta estreava um show no Rio. A entrevista foi agendada para a hora do almoço. Habituado a trocar a noite pelo dia, Vinicius me fez esperar por quase duas horas. Quando enfim apareceu, os olhos ainda esbugalhados pela noite, a voz lenta e rouca, custei a reconhecê-lo. Era difícil aceitar que aquele homem que me tratava com impaciência e desatenção fosse, de fato, Vinicius de Moraes. Mas era.
A entrevista foi um desastre. Sim, consegui meia dúzia de informações, e algumas declarações banais, que me renderam um texto discreto para a revista. Levei de volta comigo, porém, a imagem de um homem em contínuo desalinho com o mundo. Mais de uma década depois, foi dela que parti para escrever minha biografia. Ainda hoje, 16 anos depois de publicá-la, a figura desse Vinicius atormentado e em descompasso com o mundo me incomoda. Aos admiradores de canções suaves como Garota de Ipanema e Minha Namorada, ela parece não só falsa, mas absurda. Aos leitores que se habituaram à leveza de poemas como A Balada das Meninas de Bicicleta ou a Feijoada à Minha Moda, causa estranheza, ou mesmo repulsa.
Custo a admitir, mas a vida de Vinicius de Moraes foi uma linha irregular em que os grandes momentos de prazer e euforia se revezaram com descidas íngremes rumo à tristeza e ao desamparo. Os médicos de hoje, provavelmente, o rotulariam de "bipolar". Para além de qualquer diagnóstico, Vinicius foi, sim, um homem de alma duplicada. A paixão pela vida tinha, como avesso, íngremes descidas ao inferno. Quando rapaz, Vinicius desejou ser um poeta do talhe do francês Arthur Rimbaud. Foi um leitor apaixonado de Uma Estação no Inferno e, enquanto escrevia os primeiros poemas, olhava-se no espelho e via Rimbaud. Os versos torturados de seu primeiro livro, O Caminho para a Distância, escrito aos 19 anos, confirmam essa semelhança."
Aliás, José Castello, jornalista e escritor, romancista e biógrafo de Vinicius de Moraes, acaba de escrever mais um texto sobre o poeta das Cinco elegias, na revista Bravo! deste mês. Castello é outro que conhece bem Vinicius. Em sua biografia O poeta da paixão, ele fala sobre Soneto de Fidelidade, cujos três últimos versos
“Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
“descrevem, com precisão espantosa, a essência da visão que o poeta terá do amor ao longo de toda a vida: uma experiência avassaladora, superior, que traz a sensação de eternidade mas que necessariamente – como tudo o que é sentido pelo homem – acaba.”
Acho que há muito mais nesse soneto-chave de Vinicius. Infelizmente, para levantar todo seu significado, desconfio, seria necessário perfazer de novo e com outro recorte todo o caminho de estudos e influências do poeta, de quando ele virava noites lendo Pascal, Nietzsche e Kierkegaard com Octavio de Faria, Mário Vieira de Mello, entre outros colegas do fervor religioso do começo, até chegar às paixões avassaladoras.
Veja que irônico, mas nem tanto, Nietzsche, niilista, e Kierkegaard, existencialista cristão, que era lido pelo autor de Assim falou Zaratustra, juntos na alma de Vinicius!
Como já disse em outro post, Vinicius de Moraes está voltando (leia aqui). Exemplo disso são os lançamentos de novos livros, como Poemas esparsos (leia aqui) e o relançamento dos primeiros livros do poeta, como O caminho para a distância, além de Folha explica Vinicius de Moraes, de Eucanaã Ferraz, que é quem está por trás dos outros títulos também.
Mais um exemplo são as constantes reportagens e artigos sobre o poeta, como a que saiu na revista Língua Portuguesa, também de Eucanaã Ferraz, com Vinicius na capa (número 26, 2007, leia aqui), e o recente texto de Castello, na Bravo!, de janeiro agora.
Veja um trecho:
"Uma Alma Duplicada
Oscilando entre o prazer e o desamparo, Vinicius viveu os seus nove casamentos como um 'escravo da paixão', para quem o amor, mais que alegria, era fardo
Por José Castello
Vinicius de Moraes, o poeta da paixão, foi também o poeta do desespero. Sob a máscara do artista feliz, em eterno galanteio com a vida, escondeu-se, durante 67 anos, um homem atormentado, para quem o amor foi não só alegria, mas fardo, e a vida, uma sucessão de decepções.
Comecei a trabalhar em minha biografia de Vinicius de Moraes no início dos anos 90, uma década depois da morte do poeta. A única vez em que o vi, em fins dos anos 70, contudo, me bastou para perceber, não sem dificuldades, pequenos sinais desse Vinicius desconhecido. Eu era repórter de Veja e o poeta estreava um show no Rio. A entrevista foi agendada para a hora do almoço. Habituado a trocar a noite pelo dia, Vinicius me fez esperar por quase duas horas. Quando enfim apareceu, os olhos ainda esbugalhados pela noite, a voz lenta e rouca, custei a reconhecê-lo. Era difícil aceitar que aquele homem que me tratava com impaciência e desatenção fosse, de fato, Vinicius de Moraes. Mas era.
A entrevista foi um desastre. Sim, consegui meia dúzia de informações, e algumas declarações banais, que me renderam um texto discreto para a revista. Levei de volta comigo, porém, a imagem de um homem em contínuo desalinho com o mundo. Mais de uma década depois, foi dela que parti para escrever minha biografia. Ainda hoje, 16 anos depois de publicá-la, a figura desse Vinicius atormentado e em descompasso com o mundo me incomoda. Aos admiradores de canções suaves como Garota de Ipanema e Minha Namorada, ela parece não só falsa, mas absurda. Aos leitores que se habituaram à leveza de poemas como A Balada das Meninas de Bicicleta ou a Feijoada à Minha Moda, causa estranheza, ou mesmo repulsa.
Custo a admitir, mas a vida de Vinicius de Moraes foi uma linha irregular em que os grandes momentos de prazer e euforia se revezaram com descidas íngremes rumo à tristeza e ao desamparo. Os médicos de hoje, provavelmente, o rotulariam de "bipolar". Para além de qualquer diagnóstico, Vinicius foi, sim, um homem de alma duplicada. A paixão pela vida tinha, como avesso, íngremes descidas ao inferno. Quando rapaz, Vinicius desejou ser um poeta do talhe do francês Arthur Rimbaud. Foi um leitor apaixonado de Uma Estação no Inferno e, enquanto escrevia os primeiros poemas, olhava-se no espelho e via Rimbaud. Os versos torturados de seu primeiro livro, O Caminho para a Distância, escrito aos 19 anos, confirmam essa semelhança."
Para ler o texto completo, acesse aqui. Vale, principalmente, para quem não leu O poeta da paixão (Companhia das Letras) ou Vinicius de Moraes (Relume-Dumará).
2 comentários:
Poeta de Sua paixão.
Don't worry: everbody have a homossexual tentation...cause every little thing is gonna be all right (little, big, small, large, toda forma de amor vale a pena!).
Flávia, a filha de Creta.
For the first time you said bullshit, hehehe! If I were fall in love, probably it would be with someone more appropriate, someone with big pots, hehehe!
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