Em
2009, o Leituras compilou e publicou
42 frases do romance Grande sertão: veredas, de João
Guimarães Rosa, mas a compilação foi colhida só até a página 371.
O feixe de imagens impressas nestas 32 frases é grandioso
tanto quanto as que vieram no lote de 42, embora lá elas apareçam com mais
densidade. Riobaldo estava mais falante. À medida que o romance vai chegando ao
fim, privilegia-se a ação rumo ao desfecho, e a reflexão se esconde um pouco.
Mesmo assim, podemos ler observações profundamente
filosóficas e agudas da vida, como “quem ama é sempre muito escravo, mas não
obedece nunca de verdade”, ou “sossego traz desejos”. Para quem quer ser anti-Nietzsche,
pode dizer: “Homem tem nojo é do humano.” E para quem deseja ser freudiano, ou
até mais revelador que Freud, pode se agarrar à verificação metafísica desta
frase: “E o demo existe? Só se existe o estilo dele, solto, sem um ente próprio
– feito remanchas n’água.”
A quem possa interessar, seguem agora as frases roseanas,
a partir da página 373 de Grande sertão:
veredas:
“Posso
me esconder de mim?”
“Amor
é assim – o rato que sai dum buraquinho: é um ratazão, é um tigre leão.”
“O pássaro que se separa de outro, vai voando
adeus o tempo todo.”
“O sertão é confusão em grande demasiado
sossego.”
“Aqui digo: que se teme por amor; mas que, por
amor, também, é que a coragem se faz.”
“A gente principia as coisas, no não saber por
que, e desde aí perde o poder de continuação.”
“Só quando se tem rio fundo, ou cava de
buraco, é que a gente por riba põe ponte.”
“Muito quieto é que a gente chama o amor: como
em quieto as coisas chamam a gente.”
“Um menino nasceu – o mundo tornou a começar.”
“Arejei que toda criatura merecia tarefa de
viver.”
“E o demo existe? Só se existe o estilo dele,
solto, sem um ente próprio – feito remanchas n’água.”
“Ao que tropecei, e o chão não quis minha
queda.”
“Minha alma tem de ser de Deus: se não, como é
que ela podia ser minha?”
“Meu medo é esse. Todos não vendem? Digo ao
senhor: o diabo não existe, não há, e a ele eu vendi a alma... Meu medo é este.
A quem vendi? Medo meu é este, meu senhor: então, a alma, a gente vende, só, é
sem nenhum comprador...”
“O amor só mente para dizer maior verdade.”
“O sertão aceita todos os nomes.”
“O que não existe de se ver, tem força
completa demais, em certas ocasiões.”
“Um homem é um homem, no que não vê e no que
consome.”
“Homem tem nojo é do humano.”
“O sertão não tem janelas nem porta. E a regra
é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos
governa...”
“Um lugar conhece o outro é por calúnias e
falsos levantados; as pessoas também, nesta vida.”
“A vida é um vago variado.”
“Picapau voa é duvidando do ar.”
“Sossego traz desejos.”
“Hoje-em-dia eu nem sei o que sei, e, o que
soubesse, deixei de saber o que sabia...” (Diadorim falando pra Riobaldo)
“Quem ama é sempre muito escravo, mas não
obedece nunca de verdade.”
“Tinha medo não. Tinha era cansaço de
esperança.”
“Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião,
gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com
pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas...”
“Aprender-a-viver é que é o viver, mesmo.”
“A vida da gente nunca tem termo real.”
“O existir da alma é a reza.”
“O diabo não há! É o que eu digo, se for...
Existe é homem humano. Travessia.”
Um comentário:
Amo
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