quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

CINCO LIVROS LIDOS EM 2008

A sugestão foi do Blog do Jefferson (LIBRU LUMEN). Acatei. Deixei o texto nas mensagens do blog de lá, e agora faço um post aqui, com pequenos acréscimos.

Li tanto em 2008 que já nem sei se posso dizer o que me marcou mais. É verdade que há sempre dois ou três que dilaceram nossa intenção e se fincam em nossa alma, como estaca no coração de vampiro, nos tirando a sensação de eternos. São esses que valem a pena, e são tão poucos.

Nessa busca, vivo um luta feroz para não me atrasar na procura de novos bons autores, ao mesmo tempo que ainda quero, necessito, descobrir os encobertos pelo tempo, ou me aproximar daqueles que nunca saem de cena. Guimarães Rosa e Proust, por exemplo, estão sempre acordados para mim.

Gostaria de me aprofundar e falar mais de literatura, principalmente desses cérebros mais calibrados que o meu. Por enquanto nado em águas mais rasas, e talvez um dia saberia lidar com o mar aberto e as profundezas.

Cinco livros que mais me marcaram, quer pela beleza, pela intensidade do verbo, quer pela novidade, são:


Os cus de Judas, de António Lobo Antunes


Esse livro foi publicado em 1979, em Portugal, mas eu mesmo só fui descobri-lo no ano passado, depois de ler, em 2004, A Ordem natural das coisas, do mesmo autor. É dilacerante. Um homem sai de Angola, depois de servir na guerra como médico, e volta a Portugal para se reencontrar com sua amada. É um monólogo labiríntico, carregado de lirismo, incertezas e dor existencial (leia mais sobre Lobo Antunes aqui).



O teatro de Sabbath, de Philip Roth


Passei um tempão procurando nos sebos até encontrá-lo. A busca não foi em vão. Publicado originalmente em 1995, é um dos melhores romances de Philip Roth, junto com Pastoral americana e O animal agonizante. O teatro de Sabbath conta a história de Mickey Sabbath e sua absoluta recusa em viver dentro dos padrões morais convencionais.

Ele quer transgredir, quer viver sempre no limite do escândalo, explorando os desejos secretos dos outros, das mulheres, mais especificamente. É classificado como um romance pornográfico, mas duvido que o próprio Roth o classifique assim. É um romance e ponto (leia mai aqui).


Meu tio Roseno, a cavalo, de Wilson Bueno


Essa novela de Wilson Bueno foi, sem dúvida, o livro que mais me emocionou em 2008. Também não é do ano passado, foi publicada em 2000. Uma cigana conta a Roseno que Doroí, a mulher dele, estava grávida, daria à luz uma menina, a quem a cigana logo deu o nome de Andradazil.

Roseno estava longe de casa e tinha de chegar a tempo de assistir ao nascimento da menina. Ele cavalga sete dias de viagem, de Guairá a Ribeirão do Pinhal, no Paraná, 50 léguas e meia, para ver sua filha nascer.

É nesse ínterim que existe a história, um espaço entre a esperança e a vida, em que o narrador, sobrinho de Roseno, inscreve uma geografia poética, à medida que o cavalo avança. Livro para ser lido com sotaque gaúcho, à la Simões Lopes Neto, à la Mário Arregui.



Mãos de cavalo, de Daniel Galera

Publicado em 2006, Mãos de cavalo é o primeiro romance de Daniel Galera, jovem escritor de 30 anos, cuja técnica demonstra o potencial para estar entre os grandes daqui a uns dez anos.

O livro é narrado em primeira pessoa e conta como um rapaz de seus vinte e poucos anos está fazendo para forjar sua identidade sem o sentimento de culpa que o atormenta, por não ter ajudado um amigo na adolescência. Repassa a geração dos anos 1990.

Daniel Galera é autor também de Até o dia em que o cão morreu, que deu origem ao filme de Beto Brant, Cão sem dono, Cordilheira e Dentes guardados, livro de contos, que foi seu primeiro e que está disponível na internet (acesse aqui).


Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum

Hatoum já é grande. Órfãos do Eldorado confirma a capacidade que ele tem de construir um tecido de amor em meio ao sentimento de morte e destruição, crise de família, visão apocalíptica do mundo. O otimista acha que ele constrói a luz. O pessimista está certo de que ele cria a escuridão, com pequenos pontos luminosos em meio à falência total. O amor já não constrói mais nada. O amor é que dá a esperança. Eis o contraste.

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