Onetti: talento narrativo, universo fantasioso e sentimento de fracasso
No ano do centenário de seu nascimento, o uruguaio Juan Carlos Onetti, falecido em 1994, é lembrado por um dos mais célebres escritores da América Latina, Mário Vargas Llosa.
Notável pelos romances, como A cidade e os cachorros, Pantaleão e as visitadoras e, mais recentemente, Travessuras da menina má, Llosa também é reconhecido pelos seus ensaios, entre os quais está A orgia perpétua, em que analisa Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Agora em 2009, Llosa acaba de lançar El viaje a la ficción [A Viagem à Ficção] (inédito no Brasil), traçando um panorama elogioso da obra de Onetti. Segundo o autor peruano, em entrevista publicada no caderno Mais!, da Folha de S. Paulo (8 de março), Onetti foi um contista extraordinário e “um homem muito inteligente e muito culto.”
Onetti nasceu em Montevidéu, em 1909. Aprendeu o ofício de jornalista em Buenos Aires, onde morou dos 22 aos 30 anos. De volta à terra natal, publicou seu primeiro livro, O poço (que em junho será lançado aqui pela Editora Planeta). Seus livros mais reconhecidos pela crítica são os romances O estaleiro e Deixemos falar o vento.
Tinha uma vida conturbada, que o levou a se afastar do convívio social, escrevendo seus livros com um olho na pena e outro nas relações humanas, de espreita e com muita argúcia. Por razões políticas, em 1975, mudou-se para a Espanha, onde morou até sua morte.
Segundo Llosa, o que mais o impressiona no escritor uruguaio é sua técnica narrativa: “Creio que ele é um dos primeiros, senão o primeiro escritor na língua espanhola a fazer uma literatura completamente moderna”, diz.
Outra coisa impressionante em Onetti, é seu mundo pessoal. “É um mundo de grande autenticidade, evidentemente direcionado ao pessimismo, a uma visão muito negativa da condição humana”, diz Llosa.
De acordo com o escritor argentino César Aira, os três elementos básicos da obra de Onetti são o talento narrativo, o universo fantasioso e o sentimento de fracasso. Llosa vai mais longe e diz: “Seu mundo é um mundo que nos entristece, nos desmoraliza.”
Como a literatura não é armada para servir de bonbonnière, vale a pena ler Onetti. Alguns de seus títulos foram publicados no Brasil e estão disponíveis nas livrarias: 47 Contos de Juan Carlos Onetti, O estaleiro e Junta-Cadáveres.
Também podem ser encontradas nos sebos as edições esgotadas de Tão triste como ela e Deixemos falar o vento.
Até comprarmos seus livros ou pegá-los emprestados em alguma boa biblioteca e vermos o que o uruguaio tem a nos dizer sobre essa condição humana, fiquemos com um trecho da entrevista de Llosa.
Trecho:
PERGUNTA - Existem teorias feministas sobre a visão que Onetti tem da mulher.
VARGAS LLOSA - Imagino que as feministas não devam estar muito contentes com Onetti.
PERGUNTA - Elas criticam sobretudo essa visão coisificada da mulher. E a sua teoria, qual é?
VARGAS LLOSA - Seu mundo é um mundo machista, claro, mas onde os homens, de modo geral, são muito fracos. Em "El Infierno Tan Temido" [O Inferno Tão Temido], quem é mais temível: o jornalista ou a atriz? É a atriz quem concebe a vingança, que ao mesmo tempo não se sabe se é uma vingança ou uma busca de recuperação com uma frieza mental e uma amoralidade que homem nenhum chega a superar.
Ou seja: essas mulheres são mulheres também tremendas, que têm uma capacidade feroz de resistência às adversidades. Mas é um mundo que se pode chamar de machista; não é um mundo igualitário.
PERGUNTA - Que consolo nos resta depois de ler Onetti?
VARGAS LLOSA - O consolo da ficção. Sua obra parece destinada a ilustrar como, por meio da ficção, somos recompensados por tudo aquilo que nos faz sofrer ou que nos desmoraliza na vida, como, ao mesmo tempo, vivemos mais, enriquecemos nossa experiência, amamos, vivemos aventuras extraordinárias. Ou seja, a função da ficção não é apenas compensatória -é também enriquecedora da experiência.
Notável pelos romances, como A cidade e os cachorros, Pantaleão e as visitadoras e, mais recentemente, Travessuras da menina má, Llosa também é reconhecido pelos seus ensaios, entre os quais está A orgia perpétua, em que analisa Madame Bovary, de Gustave Flaubert.
Agora em 2009, Llosa acaba de lançar El viaje a la ficción [A Viagem à Ficção] (inédito no Brasil), traçando um panorama elogioso da obra de Onetti. Segundo o autor peruano, em entrevista publicada no caderno Mais!, da Folha de S. Paulo (8 de março), Onetti foi um contista extraordinário e “um homem muito inteligente e muito culto.”
Onetti nasceu em Montevidéu, em 1909. Aprendeu o ofício de jornalista em Buenos Aires, onde morou dos 22 aos 30 anos. De volta à terra natal, publicou seu primeiro livro, O poço (que em junho será lançado aqui pela Editora Planeta). Seus livros mais reconhecidos pela crítica são os romances O estaleiro e Deixemos falar o vento.
Tinha uma vida conturbada, que o levou a se afastar do convívio social, escrevendo seus livros com um olho na pena e outro nas relações humanas, de espreita e com muita argúcia. Por razões políticas, em 1975, mudou-se para a Espanha, onde morou até sua morte.
Segundo Llosa, o que mais o impressiona no escritor uruguaio é sua técnica narrativa: “Creio que ele é um dos primeiros, senão o primeiro escritor na língua espanhola a fazer uma literatura completamente moderna”, diz.
Outra coisa impressionante em Onetti, é seu mundo pessoal. “É um mundo de grande autenticidade, evidentemente direcionado ao pessimismo, a uma visão muito negativa da condição humana”, diz Llosa.
De acordo com o escritor argentino César Aira, os três elementos básicos da obra de Onetti são o talento narrativo, o universo fantasioso e o sentimento de fracasso. Llosa vai mais longe e diz: “Seu mundo é um mundo que nos entristece, nos desmoraliza.”
Como a literatura não é armada para servir de bonbonnière, vale a pena ler Onetti. Alguns de seus títulos foram publicados no Brasil e estão disponíveis nas livrarias: 47 Contos de Juan Carlos Onetti, O estaleiro e Junta-Cadáveres.
Também podem ser encontradas nos sebos as edições esgotadas de Tão triste como ela e Deixemos falar o vento.
Até comprarmos seus livros ou pegá-los emprestados em alguma boa biblioteca e vermos o que o uruguaio tem a nos dizer sobre essa condição humana, fiquemos com um trecho da entrevista de Llosa.
Trecho:
PERGUNTA - Existem teorias feministas sobre a visão que Onetti tem da mulher.
VARGAS LLOSA - Imagino que as feministas não devam estar muito contentes com Onetti.
PERGUNTA - Elas criticam sobretudo essa visão coisificada da mulher. E a sua teoria, qual é?
VARGAS LLOSA - Seu mundo é um mundo machista, claro, mas onde os homens, de modo geral, são muito fracos. Em "El Infierno Tan Temido" [O Inferno Tão Temido], quem é mais temível: o jornalista ou a atriz? É a atriz quem concebe a vingança, que ao mesmo tempo não se sabe se é uma vingança ou uma busca de recuperação com uma frieza mental e uma amoralidade que homem nenhum chega a superar.
Ou seja: essas mulheres são mulheres também tremendas, que têm uma capacidade feroz de resistência às adversidades. Mas é um mundo que se pode chamar de machista; não é um mundo igualitário.
PERGUNTA - Que consolo nos resta depois de ler Onetti?
VARGAS LLOSA - O consolo da ficção. Sua obra parece destinada a ilustrar como, por meio da ficção, somos recompensados por tudo aquilo que nos faz sofrer ou que nos desmoraliza na vida, como, ao mesmo tempo, vivemos mais, enriquecemos nossa experiência, amamos, vivemos aventuras extraordinárias. Ou seja, a função da ficção não é apenas compensatória -é também enriquecedora da experiência.
Graças à ficção podemos converter em realidade apetites, desejos, anseios que, sem a ficção, ficariam para sempre frustrados, pois jamais na vida alguém estará à altura do que são seus sonhos e seus desejos. Esse é um tema fundamental, e por isso chamei meu livro de "A Viagem à Ficção", pois esse é um tema recorrente nos contos e nos romances.
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