domingo, 5 de julho de 2009

STRANGE FRUIT EM VERSÃO BRASILEIRA COM SEU JORGE

Foto: Bettmann/Corbis/ Divulgação (9/08/1930)



“Eis uma fruta
Pra que o vento sugue
Pra que um corvo puxe
Pra que a chuva enrugue
Pra que o sol resseque
Pra que o chão degluta
Eis uma estranha
E amarga fruta.”

Trecho da letra de Strange Fruit, em versão novinha em folha de Carlos Rennó.
Foi a coluna da Monica Bergamo da Folha de S. Paulo deste domingo (05/07/09) que trouxe a bela matéria, cujo trecho segue abaixo:

Na década de 30, Abel Meeropol, um professor judeu do ensino médio do Bronx, em NY, colocou os olhos em uma das mais dantescas imagens do século 20: uma foto em que dois negros americanos pendem de uma árvore, depois de linchados por uma multidão em Indiana, no sul dos EUA. Sob o pseudônimo de Lewis Allan, ele escreveu ‘Strange Fruit’, que expressa o seu horror. Foi sua primeira, e única, canção gravada.

Ao descobrir e emprestar sua voz para ‘Strange Fruit’, Billie Holiday [veja abaixo vídeo no Youtube] a transformou num hino contra o racismo e numa das mais populares canções americanas. Não foi fácil: temendo represálias no sul, a Columbia, por onde ela lançava discos, não quis gravar a música; Billie recorreu à Commodore, selo alternativo de jazz. Era sempre a última música de seus shows. Ela exigia que os garçons parassem de servir e que as luzes se apagassem. Um foco de luz iluminava seu rosto e Billie entoava os versos da canção.





Eu não sabia dessa história”. A frase replicou o que eu dizia comigo mesmo ao ler o texto, por razões gerais. Mas quem disse mesmo foi o jornalista, letrista e produtor Carlos Rennó, por razões particulares (apenas sobre o episódio de Holiday, imagino). Rennó vai produzir “um disco de versões de músicas negras americanas, como Strange Fruit, compostas por judeus”, junto com o músico Jaques Morelenbaum.

Segundo a matéria, “No cardápio, clássicos como ‘My Romance’ com Gal e Carlinhos Brown, ‘Over The Rainbow’ com Zélia Duncan, ‘Bewitched’ por Maria Rita e ‘Strange Fruit’ por Seu Jorge.

Antes de cantar, Seu Jorge disse: ‘Preciso representar isso aqui. O que eu devo encarnar? Um amigo dos dois negros pendurados naquela árvore? Ou os amigos que perdi no Brasil?’. Os amigos. Ao final, todos choraram. ‘A versão desta canção tem relação profunda com as duas maiores escravocracias do mundo, a americana e a brasileira.’ A capa de ‘Nego’ é azul, vermelha, verde e amarela.

Para quem é assinante da Folha e não se deu conta dessa beleza de matéria e gosta de música, corra aqui.

Letra de Strange Fruit

Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

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