No dia 1º de julho de 1998, morria o crítico, biógrafo e poeta britânico Martin Seymour-Smith. Seu último trabalho foi o polêmico e ousado Os 100 Livros Que Mais Influenciaram a Humanidade , lançado no Brasil em 2002 pela Difel, em que o crítico comenta a importância dos autores e obras que, segundo ele, modificaram de algum modo a maneira de sentir e pensar dos homens.
De modo geral, o trabalho de Seymour-Smith sempre foi polêmico, preferindo uma análise marcada pela subjetividade, sem deixar de observar cada centímetro dos fatos que rodeiam seu objeto de estudo. Foi assim ao escrever a biografia do poeta e romancista inglês Thomas Hardy, suscitando fúrias e admiração nos leitores ao redor do mundo. Foi assim também ao ter seu último livro publicado.
Enquanto em Thomas Hardy – A Biography, a polêmica fica por conta das minúcias sobre a vida pessoal do biografado, como tentativa de por abaixo a interpretação de seus biógrafos anteriores, em Os 100 Livros, o grito de protesto vem daqueles que não se conformam com a preterição de seus queridinhos por parte de Seymour-Smith.
Entre os que ficaram de fora da lista do polêmico selecionador, estão Heidegger e Husserl. Mas os motivos da ausência de um e de outro são díspares. O primeiro porque, para Seymour-Smith, era um “charlatão e jurado anti-semita” cuja filosofia encanta muita gente, de maneira incompreensível, mas que não se pode dizer que mudou alguma coisa no paradigma do pensamento humano.
Já Husserl, só não fez parte da lista – com Idéias: Introdução Geral à Fenomenologia Pura – porque “sua influência foi totalmente indireta”. Segundo Seymour-Smith, Husserl só é acessível aos filósofos profissionais. Mas acrescenta: “O existencialismo, porém, não pode ser entendido sem Husserl, um homem decente e honrado, bem diferente de Heidegger, seu aluno traiçoeiro”.
Esse rancor em relação a Heidegger talvez se explique pelo fato de que Seymour-Smith era judeu. E todos sabemos que Heidegger fez parte do staff nazista de Hitler, aliás, o único filósofo entre a trupe imediata do ditador alemão. Isso foi dito inclusive pelo mais famoso e mais completo biógrafo de Hitler, Joachim Fest.
Em todo caso, Seymour-Smith era polêmico com muitas sumidades intelectuais. Sua verve cáustica não se dirige apenas ao filósofo nazista. Em cada página dedicada a uma das obras analisadas, em Os 100 Livros, ele aplica um pouco de sua acidez contra alguém ou alguma coisa.
Sobre o filósofo francês Jacques Derrida, ele diz: “Derrida é tão interessante como um borrão, e somente uma conspiração de mentes inseguras pode dar-lhe alguma importância”. Mas Derrida não está sozinho nessa. Afinal, da própria filosofia francesa atual, Seymour-Smith não deixa pedra sobre pedra: “O Pensamento francês contemporâneo não se distingue nem pelo seu humor nem por sua imediata inteligibilidade. Distingue-se, talvez, isso sim, pela veemência de seu pomposo blá-blá-blá”.
As pinceladas malditas não poupam sequer certos pensadores influentes, da lista que ele mesmo elaborou. B. F. Skinner, por exemplo, que está entre os que mais influenciaram a humanidade com seu livro Para Além da Liberdade e da Dignidade, era, segundo o crítico mordaz, “um excelente cientista experimental, mas, como ser humano, um idiota desesperado para banir de si mesmo qualquer traço de ternura que pudesse possuir”.
Trechos antes dessa avaliação, ele já havia dito que Skinner “pensava saber melhor do que ninguém o que era melhor para os outros”, fazendo com que sua conduta, a de Skinner, diante da vida fosse “mais repreensível, se não totalmente estúpida, do que a de qualquer outro estudioso”.
Ainda de Heidegger: “Hoje sinistramente popular (...), nazista até o fim, anti-semita, oportunista e fraudulento (...), nazista não arrependido (...), maléfico inspirador do corrente niilismo chamado de pós-modernismo”. Com todos esses adjetivos, talvez o mais leve seja mesmo “charlatão”.
De T. S. Eliot, ele diz: “hoje, aos olhos de muita gente, ele não passa de um velho anti-semita e secretamente um fascista, cujos versos não são muito mais do que uma antologia e amálgama do talento de outros homens”.
Mas, a despeito de tudo que foi citado acima, Seymour-Smith era sobretudo honesto com seus leitores, em relação ao que pensava. E elogiou muita gente, quando era o caso de se fazerem apreciações. Num só período de frase, ele aprecia dois grandes filósofos, ao falar de Thomas Hobbes: “nenhum filósofo de qualquer nacionalidade o superou na prosa e somente Schopenhauer se lhe igualou”.
Ao citar Relatividade, por exemplo – livro que Einstein publicou para divulgar sua teoria homônima –, como uma das obras que mais influenciaram a humanidade, Seymour-Smith se sentiu na obrigação de dizer: “Cá entre nós, podemos apenas fingir que entendemos a Teoria da Relatividade de Einstein, mas temos, pelo menos, uma boa desculpa: ela é tão difícil de ser compreendida, tão misteriosa à sua maneira, que levou alguns anos até ser aceita pela maioria dos físicos.”
Da mesma forma, à sua maneira, Martin Seymour-Smith é encantador. Ele nos passa a impressão de que foi um homem conhecedor de todas as coisas, que penetrou todos os mistérios, que leu tudo, que sabia tudo sem ser pernóstico, sem ser, de maneira alguma, enjoativo e pedante. Sua erudição nos mantém o tempo todo acesos ao que ele diz.
Seymour-Smith é sem dúvida um autor prolífico. Entre suas mais de 40 obras, estão os livros de poesia Wilderness e Reminiscenses of Norma. Também escreveu sobre a poesia de Shakespeare e sobre as prostitutas na literatura. Mas, apesar de toda a sua dedicação ao trabalho intelectual e de seus 50 anos – dos 70 que viveu – serem voltados para isso, pouco se sabe sobre sua vida. Na internet não há quase nada sobre ele. Pode-se dizer que Seymour-Smith é mais um exemplo de autores brilhantes lançados no mar da solidão e do esquecimento.
De modo geral, o trabalho de Seymour-Smith sempre foi polêmico, preferindo uma análise marcada pela subjetividade, sem deixar de observar cada centímetro dos fatos que rodeiam seu objeto de estudo. Foi assim ao escrever a biografia do poeta e romancista inglês Thomas Hardy, suscitando fúrias e admiração nos leitores ao redor do mundo. Foi assim também ao ter seu último livro publicado.
Enquanto em Thomas Hardy – A Biography, a polêmica fica por conta das minúcias sobre a vida pessoal do biografado, como tentativa de por abaixo a interpretação de seus biógrafos anteriores, em Os 100 Livros, o grito de protesto vem daqueles que não se conformam com a preterição de seus queridinhos por parte de Seymour-Smith.
Entre os que ficaram de fora da lista do polêmico selecionador, estão Heidegger e Husserl. Mas os motivos da ausência de um e de outro são díspares. O primeiro porque, para Seymour-Smith, era um “charlatão e jurado anti-semita” cuja filosofia encanta muita gente, de maneira incompreensível, mas que não se pode dizer que mudou alguma coisa no paradigma do pensamento humano.
Já Husserl, só não fez parte da lista – com Idéias: Introdução Geral à Fenomenologia Pura – porque “sua influência foi totalmente indireta”. Segundo Seymour-Smith, Husserl só é acessível aos filósofos profissionais. Mas acrescenta: “O existencialismo, porém, não pode ser entendido sem Husserl, um homem decente e honrado, bem diferente de Heidegger, seu aluno traiçoeiro”.
Esse rancor em relação a Heidegger talvez se explique pelo fato de que Seymour-Smith era judeu. E todos sabemos que Heidegger fez parte do staff nazista de Hitler, aliás, o único filósofo entre a trupe imediata do ditador alemão. Isso foi dito inclusive pelo mais famoso e mais completo biógrafo de Hitler, Joachim Fest.
Em todo caso, Seymour-Smith era polêmico com muitas sumidades intelectuais. Sua verve cáustica não se dirige apenas ao filósofo nazista. Em cada página dedicada a uma das obras analisadas, em Os 100 Livros, ele aplica um pouco de sua acidez contra alguém ou alguma coisa.
Sobre o filósofo francês Jacques Derrida, ele diz: “Derrida é tão interessante como um borrão, e somente uma conspiração de mentes inseguras pode dar-lhe alguma importância”. Mas Derrida não está sozinho nessa. Afinal, da própria filosofia francesa atual, Seymour-Smith não deixa pedra sobre pedra: “O Pensamento francês contemporâneo não se distingue nem pelo seu humor nem por sua imediata inteligibilidade. Distingue-se, talvez, isso sim, pela veemência de seu pomposo blá-blá-blá”.
As pinceladas malditas não poupam sequer certos pensadores influentes, da lista que ele mesmo elaborou. B. F. Skinner, por exemplo, que está entre os que mais influenciaram a humanidade com seu livro Para Além da Liberdade e da Dignidade, era, segundo o crítico mordaz, “um excelente cientista experimental, mas, como ser humano, um idiota desesperado para banir de si mesmo qualquer traço de ternura que pudesse possuir”.
Trechos antes dessa avaliação, ele já havia dito que Skinner “pensava saber melhor do que ninguém o que era melhor para os outros”, fazendo com que sua conduta, a de Skinner, diante da vida fosse “mais repreensível, se não totalmente estúpida, do que a de qualquer outro estudioso”.
Ainda de Heidegger: “Hoje sinistramente popular (...), nazista até o fim, anti-semita, oportunista e fraudulento (...), nazista não arrependido (...), maléfico inspirador do corrente niilismo chamado de pós-modernismo”. Com todos esses adjetivos, talvez o mais leve seja mesmo “charlatão”.
De T. S. Eliot, ele diz: “hoje, aos olhos de muita gente, ele não passa de um velho anti-semita e secretamente um fascista, cujos versos não são muito mais do que uma antologia e amálgama do talento de outros homens”.
Mas, a despeito de tudo que foi citado acima, Seymour-Smith era sobretudo honesto com seus leitores, em relação ao que pensava. E elogiou muita gente, quando era o caso de se fazerem apreciações. Num só período de frase, ele aprecia dois grandes filósofos, ao falar de Thomas Hobbes: “nenhum filósofo de qualquer nacionalidade o superou na prosa e somente Schopenhauer se lhe igualou”.
Ao citar Relatividade, por exemplo – livro que Einstein publicou para divulgar sua teoria homônima –, como uma das obras que mais influenciaram a humanidade, Seymour-Smith se sentiu na obrigação de dizer: “Cá entre nós, podemos apenas fingir que entendemos a Teoria da Relatividade de Einstein, mas temos, pelo menos, uma boa desculpa: ela é tão difícil de ser compreendida, tão misteriosa à sua maneira, que levou alguns anos até ser aceita pela maioria dos físicos.”
Da mesma forma, à sua maneira, Martin Seymour-Smith é encantador. Ele nos passa a impressão de que foi um homem conhecedor de todas as coisas, que penetrou todos os mistérios, que leu tudo, que sabia tudo sem ser pernóstico, sem ser, de maneira alguma, enjoativo e pedante. Sua erudição nos mantém o tempo todo acesos ao que ele diz.
Seymour-Smith é sem dúvida um autor prolífico. Entre suas mais de 40 obras, estão os livros de poesia Wilderness e Reminiscenses of Norma. Também escreveu sobre a poesia de Shakespeare e sobre as prostitutas na literatura. Mas, apesar de toda a sua dedicação ao trabalho intelectual e de seus 50 anos – dos 70 que viveu – serem voltados para isso, pouco se sabe sobre sua vida. Na internet não há quase nada sobre ele. Pode-se dizer que Seymour-Smith é mais um exemplo de autores brilhantes lançados no mar da solidão e do esquecimento.
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Veja a lista de Os Cem Livros Que Mais Influenciaram a Humanidade, segundo Seymour-Smith
I Ching
O Velho Testamento
A Ilíada e A Odisséia, de Homero
Os Upanishads
O Caminho e Seu Poder, de Lao-tzu
O Avesta
Analectos, de Confúcio
História da Guerra do Peloponeso, de Tucídedes
Obras, de Hipócrates
Obras, de Aristóteles
História, de Heródoto
A República, de Platão
Elementos de Geometria, de Euclides
O Dhammapada
A Eneida, de Virgílio
Da Natureza da Realidade, de Lucrécio
Exposições Alegóricas das Leis Divinas, de Philo de Alexandria
O Novo Testamento
Vidas Paralelas, de Plutarco
Anais, Da Morte do Divino Augusto, de Cornélio Tácito
O Evangelho da Verdade
Meditações, de Marco Aurélio
Hipotiposes Pirrônicas, de Sexto Empírico
Novenas, de Plotino
Confissões, de Agostinho de Hipo (St Agostinho)
O Corão
Guia Para os Perplexos, de Moisés Maimônides
A Cabala
Suma Teológica, de Tomás de Aquino
A Divina Comédia, de Dante Alighieri
Elogio da Loucura, de Desidério Erasmo (de Roterdã)
O Príncipe, de Maquiavel
Do Cativeiro Babilônico da Igreja, de Martinho Lutero
Gargântua e Pantagruel, de François Rabelais
Institutos da Religião Cristã, de Calvino
Da Revolução das Órbitas Celestiais, de Nicolau Copérnico
Ensaios, de Michel Eyquem de Montaigne
Dom Quixote (primeira e Segunda partes), de Miguel de Cervantes
A Harmonia do Mundo, de Johannes Kepler
Novum Organum, de Francis Bacon
Primeiro Folio, de Shakespeare
Diálogo Sobre os Grandes Sistemas do Universo, de Galileu Galilei
Discurso Sobre o Método, de René Descartes
Leviatã, de Thomas Hobbes
Obras, de Gottfried W. Leibniz
Pensamentos, de Blaise Pascal
Ética, de Baruch Spinoza
O Progresso do Peregrino, de John Bunyan
Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, de Isaac Newton
Ensaio Sobre a Compreensão Humana, de John Locke
Os Princípios Sobre o Conhecimento Humano, de George Berkley
A Nova Ciência, de Giambatista Vico
Um Tratado Sobre a Natureza Humana, de David Hume
A Enciclopédia, de Denis Diderot (org.)
Um Dicionário da Língua Inglesa, de Samuel Johnson
Cândido, de François Marie de Voltaire
Senso Comum, de Thomas Paine
Uma Pesquisa Sobre a Natureza Humana e a Causa da Riqueza das Nações, de Adam Smith
Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon
Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant
Confissões, de Jean-Jacques Rousseau
Reflexões Sobre a Revolução na França, de Edmund Burke
Reivindicações dos Direitos da Mulher, de Mary Wollstonecraft
Uma Pesquisa Sobre Justiça Política, de William Godwin
Ensaio Sobre o Princípio da População, de Thomas Robert Malthus
Fenomenologia do Espírito, de George Wilhelm Hegel
O Mundo Como Vontade e Representação, de Arthur Schopenhauer
Curso em Filosofia Positivista, de Auguste Comte
Da Guerra, de Carl Marie von Clausewitz
Ou Isso/Ou Aquilo, de Søren Kierkegaard
O Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels
“Desobediência Civil”, de Henry David Thoreau
A Origem das Espécies, de Charles Darwin
Sobre a Liberdade, de John Stuart Mill
Primeiros Princípios, de Herbert Spencer
“Experiências sobre Híbridos das Plantas”, de Gregor Mendel
Guerra e Paz, de Tolstoi
Tratado Sobre Eletricidade e Magnetismo, de James Clerk Maxwell
Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche
A Interpretação dos Sonhos, de Freud
Pragmatismo, de William James
Relatividade, de Albert Einstein
Tratado da Sociologia Geral de Vilfredo Pareto
Tipos Psicológicos, de Carl G. Jung
Eu e Tu, de Martin Buber
O Processo, de Franz Kafka
A Lógica da Descoberta Científica, de Karl Popper
Teoria Geral do Emprego, Lucro e Dinheiro, de John Maynard Keynes
O Ser e o Nada, de Jean-Paul Sartre
O Caminho para a Servidão, de Friedrich von Hayek
O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir
Cibernética, de Norbert Wiener
1984, de George Orwell
Histórias de Belzebu para Seu Neto, de Ivanovitch Gurdjieff
Investigações Filosóficas, de Ludwig Wittgenstein
Estruturas Sintáticas, de Noam Chomsky
A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas S. Khun
A Mística Feminina, de Betty Friedan
Citações do Comandante Mao Tse-tung, de Mao Tse-tung
Além da Liberdade e da Dignidade, de B. F. Skinner
2 comentários:
Estou lendo agora esse expeço livro de mais de 600 páginas que não me surpreendeu muito, porque já tenho leitura sobre os livros citados. Mas não posso deixar de dizer que encontrei informações novas. Muito boa a sua iniciativa de citar o livro e seu autor!
Até mais.
A lista de Syemour-Smith é uma boa carga de leituras. Você, e qualquer pessoa que as tem, merece os parabéns, por se tratar de um conjunto de leituras invulgar. E fico contente que você tenha deixado o comentário aqui. Se voltar de novo, saiba que agradeço.
Abç!
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