Jamil Snege (1939-2003)
Para cada escritor brasileiro bom que está na mídia, há pelo menos um que é tão bom quanto – ou melhor – e que permanece obscuro, no silêncio da pena, sem nunca se voltar para a multidão. Este é o caso de Jamil Snege, escritor curitibano, falecido em 2003, dono de uma verve fora do comum, autor de livros acima da média, mas que não quis ser publicado por editoras importantes, nem fez questão de ser conhecido, nem lá, nem alhures.
Seus títulos eram engraçados. Entre eles está o livro de crônicas Como tornar-se invisível em Curitiba. Este, muita gente conhece, mesmo que seja de ler sobre ele na internet. Porém, seu livro mais importante, o mais poético e dramático, que golpeia o leitor pelo que tem de irônico e ao mesmo tempo soturno, é Como eu se fiz por si mesmo. A começar pelo título, anárquico, torto de nascença. A obra pode ser lida como um romance confessional ou uma autobiografia. Dá no mesmo. O que não dá é para ignorar o título, cômico, que anuncia um ignorante, analfabeto funcional, um sujeito à margem, ou um fino riso sobre os autodidatas.
Jamil Snege era de descendência sírio-libanesa. Nasceu em Curitiba, morou um tempo no Rio de Janeiro (se levarmos em conta seu romance confessional), e estudou Sociologia Política na PUC do Paraná. Ganhava a vida como publicitário, fazendo campanhas políticas e outros raids, além de escrever semanalmente para a Gazeta do Povo, o jornal curitibano de maior circulação. Era amigo de todo mundo, ou quase, uma figura inesquecível, esguio, lembrando vagamente Dom Quixote. Morreu de câncer, ainda na casa dos 60.
Como eu se fiz por si mesmo foi publicado originalmente na década de 90 pela Travessa dos Editores e está esgotado. É um primor de obra literária. Como o li apenas uma vez, e há muito tempo, o que me ficou na lembrança são apenas traços gerais, mas do tipo que me permite dizer que é um dos melhores livros de seu tempo.
2 comentários:
Jamil Snege é desnorteante, de uma clareza de pensamento impressiva. Junto com Leminski é a nata espiritual de Curitiba.
Também acho. Há uma espécie de wit, um humor e uma simplicidade nele admiráveis.
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