Ninguém lê um livro com ódio no coração, seja o livro técnico, filosófico, científico, de história da arte, ou religião, e muito menos, ninguém lê romance, poesia ou conto expelindo fel. A literatura é o receptáculo da boa vontade. Para ler é preciso abrir a alma e ascender os sentidos. Ou por acaso você leu Cem anos de solidão sem chorar, ainda que essas lágrimas tenham sido interiores? Ou por acaso você acha que homem não chora, ainda que para isso seja necessário que se leia Odisséia e perceba a relação metafórica do mar com as lágrimas do saudoso Ulisses?
Ninguém se prende à leitura se não sabe suspirar e se deixar conquistar, encantar-se pelo espírito do outro, ali presente, amigo transcendental que nos acolhe na acre-doce solidão. Ninguém pode amar a literatura, e por extensão o vasto mundo que tangencia o pequeno universo de quem lê, sem que aceite a palavra do outro como a luz daquele caminho.
Aprender a ler é aprender a entender o esforço de quem escreveu, nas madrugadas “sem tato”, nas noites insones, de solidão e tristeza, de amores perdidos e alegrias vãs, porque só; sorriso furtivo, porque ímpar em sua tentativa quase sempre malograda de alcançar o outro um dia, quem sabe. “Um dia, quem sabe” foi o que disse Nietzsche a si mesmo, depois de constatar que aos sete anos de idade nenhuma palavra o alcançaria mais, e no seu crepúsculo ao meio da tarde teve que se contentar em abraçar um cavalo, porque os homens para ele não passavam de trapos sem luz, menos que funâmbulos, menos que sonâmbulos, nessa escuridão sem par.
Quantas letrinhas já não costuraram o mundo, e ele, ingrato caldeirão de nonsense, nau dos insensatos, teima em quedar no caos, como se não tivesse recebido tantas tergiversações! Para ler é preciso mesmo se livrar do ódio, porque senão, apenas duas linhas, no máximo duas páginas, terão o prazer de receber o foco das retinas. Com raiva não se lê. Na literatura é preciso amar mesmo o que se odeia de antemão, ou que se odiará depois de lido. Porque se não fosse assim não encontraríamos coisas belas no meio da lama.
Em sua História concisa da literatura brasileira, Alfredo Bosi deixou de lado as Lições de Abismo, de Gustavo Corção Borba. E porque deixou? Só porque o autor de Lições era direitista, meio fascista, cheio de istas contrários aos istas de Bosi. Mas o livro é belo, e fala coisas lindas. Mencken acaba com meio mundo em seu Livro dos insultos. Nietzsche não deixa pedra sobre pedra em sua obra, mas reconstrói de outro modo, o que não alivia em nada, e chega a sonhar: “Sempre para os homens, impele-me a minha vontade de criar; do mesmo modo é o martelo impelido para a pedra”.
Ninguém se prende à leitura se não sabe suspirar e se deixar conquistar, encantar-se pelo espírito do outro, ali presente, amigo transcendental que nos acolhe na acre-doce solidão. Ninguém pode amar a literatura, e por extensão o vasto mundo que tangencia o pequeno universo de quem lê, sem que aceite a palavra do outro como a luz daquele caminho.
Aprender a ler é aprender a entender o esforço de quem escreveu, nas madrugadas “sem tato”, nas noites insones, de solidão e tristeza, de amores perdidos e alegrias vãs, porque só; sorriso furtivo, porque ímpar em sua tentativa quase sempre malograda de alcançar o outro um dia, quem sabe. “Um dia, quem sabe” foi o que disse Nietzsche a si mesmo, depois de constatar que aos sete anos de idade nenhuma palavra o alcançaria mais, e no seu crepúsculo ao meio da tarde teve que se contentar em abraçar um cavalo, porque os homens para ele não passavam de trapos sem luz, menos que funâmbulos, menos que sonâmbulos, nessa escuridão sem par.
Quantas letrinhas já não costuraram o mundo, e ele, ingrato caldeirão de nonsense, nau dos insensatos, teima em quedar no caos, como se não tivesse recebido tantas tergiversações! Para ler é preciso mesmo se livrar do ódio, porque senão, apenas duas linhas, no máximo duas páginas, terão o prazer de receber o foco das retinas. Com raiva não se lê. Na literatura é preciso amar mesmo o que se odeia de antemão, ou que se odiará depois de lido. Porque se não fosse assim não encontraríamos coisas belas no meio da lama.
Em sua História concisa da literatura brasileira, Alfredo Bosi deixou de lado as Lições de Abismo, de Gustavo Corção Borba. E porque deixou? Só porque o autor de Lições era direitista, meio fascista, cheio de istas contrários aos istas de Bosi. Mas o livro é belo, e fala coisas lindas. Mencken acaba com meio mundo em seu Livro dos insultos. Nietzsche não deixa pedra sobre pedra em sua obra, mas reconstrói de outro modo, o que não alivia em nada, e chega a sonhar: “Sempre para os homens, impele-me a minha vontade de criar; do mesmo modo é o martelo impelido para a pedra”.
O que então dizer de autores mais baixos, cuja leitura deve ser cautelosa para que nem o ódio nem o tédio surpreendam o coração do leitor? Autores como Olavo de Carvalho, que em seus livros diz coisas vis, exercício erístico não confesso! Autores como Paulo Coelho, que em seus romances a palavra não anda, não se mistura com as outras; ela simplesmente aparece e desaparece imediatamente. Mas há quem goste e ame tais autores, porque para ler é preciso apenas a boa vontade e a mente aberta. Para ler, basta esvaziar a alma de toda coisa que não seja luz e interesse, ainda que seja a vontade de um dia, o entusiasmo efêmero, o instante revelado.
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