No dia que nasci, 25 de março de 1975, uma terça-feira, a manchete da Folha de S. Paulo foi “Manobras no Oriente Médio agravam tensão.” Isso diz alguma coisa? Não nasci ontem.
A atual convulsão em alguns países árabes foi deflagrada no Norte da África, mas está tudo muito interligado ali (Iêmen e Bahrein, por exemplo ficam no Oriente Médio e também já se deu lá seu sinal de inquietação. Embora nada disso se refira ao conflito Palestinos X Israelenses, nunca se sabe por onde passa o rio invisível).
Há diversos tipos de ensaios naquelas regiões, desde fotográficos, literários, até bélicos e suicidas. Mas, enfim. Na capa da Ilustrada vinha um desaforo (ou seria um elogio?) a Graham Greene: “Graham Greene Apenas Um Bom Autor Popular”.
Nasci num lugar muito distante de São Paulo, e meu pai, semianalfabeto contumaz, não leu a Folha daquele dia, nem de dia algum de sua vida. Ele, portanto, não saberia me dizer o que acontecia no Oriente Médio, nem em São Paulo, não poderia dizer o que acontecia, nada, em qualquer parte do país.
Nasci num ano em que a informação não era coisa fácil e a vida no Brasil não era mole. Se meu pai desejasse saber algo pelos jornais naquele fatídico dia, ficaria bem informado, por exemplo, de que Ernesto Geisel estava exigindo um formulário mais simples do Imposto de Renda (será pra quê?), para abocanhar gente mais simples, do tipo meu pai. Depois foi só.
Se os rudimentos de leitura de meu pai o levassem à Ilustrada da Folha, talvez ele lesse, e se deliciasse, com a crônica de Lourenço Diaféria (esse empinador de estrela) daquele dia, em que falava de “Glórias e miséria do bacalhau”. Mas, ó, raios!
Sei de tudo isso que aconteceu no meu dia (que seria de cão?) porque a Folha (falha minha, mas é quase o único jornal que leio) acaba de lançar o Acervo Folha, com todo seu cabedal, desde a fundação do jornal em 1921, com Folha da Manhã.
Não é a primeira, diga-se de passagem. A revista Veja já tinha feito isso há uns dois anos. E o serviço não será de graça. Está aberto só para degustação, deus sabe lá até quando.
O que sei é que na Ilustrada do dia em que nasci, há uma campanha do DNER com o seguinte título:
“Não é só o carro que tem de ter freio, o motorista também.”
Depois segue o texto:
“Dependendo do motorista, um restaurante de beira de estrada pode ser tão perigoso como uma lombada ou uma pista derrapante. As estatísticas provam que um copo a mais já fez muita gente terminar a viagem bem antes do fim.”
O foco, no entanto, é para outro tipo de consumo: “Na estrada qualquer abuso pode acabar numa tragédia. Comer demais é tão arriscado quanto correr demais.”
É. Comer de menos também é arriscado. A pessoa pode morrer de fome. Como se vê, o dia em que nasci, pela Folha, foi o mais normal dos dias. Mesmo porque, fui dado à luz à noite.
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