caracóis – carregamos a nossa casa nas costas”
Em 1978, o jornalista uruguaio Ernesto González Bermejo publicou um livro chamado Conversas com Cortázar, resultado de uma série de entrevistas com o escritor argentino Julio Cortázar (1914 – 1984). Em 2002, o livro foi publicado no Brasil pela Zohar, com tradução de Luiz Carlos Cabral e prefácio de Eric Nepomuceno.
Nestas conversas, Cortázar, autor que se consagrou no gênero conto, fala de sua criação literária, da narrativa fantástica, da condição de escritor e de uma infinidade de assuntos ligados à literatura, principalmente ao conto, que, segundo ele, é um gênero cujo acabamento deve ser tão perfeito quanto uma esfera, sem arestas, sem relevos.
“Um conto pode revelar uma situação e ter um enredo interessante, mas para mim isso não basta”, diz Cortázar. Em sua concepção, a esfera tem que ser fechada. “Não estou dizendo que eu negue a qualidade de contos admiráveis, dos quais gosto muito – alguns de Katherine Mansfield, por exemplo – só porque eles não atendem à minha noção de conto. Simplesmente, eu não os teria escrito da mesma maneira.”
Aqui o escritor argentino esclarece perfeitamente sua maneira de olhar para a técnica de escrever. Este conceito, aliás, pode se juntar a outro, comentado pelo autor no livro Obra crítica 2, no qual ele diz que o bom conto precisa vencer o leitor por nocaute, enquanto o romance sempre ganha por pontos.
O escritor é um caracol
Ao escolher a França como sua morada, aos 37 anos, em 1951, Cortázar foi muito criticado pelos seus compatriotas, que o acusaram de escritor estrangeiro, alegando que, com a escolha, ele se tornara no mínimo um autor franco-argentino.
A esta acusação, o autor de O jogo da amarelinha respondia ser uma injustiça, uma vez que, apesar de morar na França, ou por isso mesmo, sua obra era uma experiência positiva para a literatura argentina, pois escrevia em castelhano e com foco direto na América Latina.
Além disso, Cortázar acreditava que o escritor não tem de se preocupar com o lugar onde está, porque onde quer que ele esteja, sempre terá o que necessita para escrever, ou seja, sua bagagem interior.
“Os verdadeiros escritores são como caracóis – carregamos a nossa casa nas costas”, diz Cortázar, sem deixar nenhuma dúvida de que, além de ser, se sentia um verdadeiro escritor.
Trechos:
Literatura = brincadeira, jogo, felicidade e amor
“Creio que a literatura serve como uma das muitas possibilidades do homem de realizar-se como homo ludens. E, em última instância, como homem feliz. A literatura é uma das possibilidades da felicidade humana.”
Segundo Cortázar, o romance é um conceito de retórica, algo que nos moldes originais já não existe. É, segundo ele, um baú, “a possibilidade de expressar uma multiplicidade de conteúdos com uma liberdade enorme. (...). É um instrumento preciso nas mãos do criador, que dá a ele infinitas possibilidades.”
“Minha noção de brincadeira – demonstrada exaustivamente ao longo de tudo o que fiz – é séria e profunda. Eu acho que a brincadeira é uma atividade essencial do ser humano. Confundir brincadeira com frivolidade é uma primeira distração.”
Nestas conversas, Cortázar, autor que se consagrou no gênero conto, fala de sua criação literária, da narrativa fantástica, da condição de escritor e de uma infinidade de assuntos ligados à literatura, principalmente ao conto, que, segundo ele, é um gênero cujo acabamento deve ser tão perfeito quanto uma esfera, sem arestas, sem relevos.
“Um conto pode revelar uma situação e ter um enredo interessante, mas para mim isso não basta”, diz Cortázar. Em sua concepção, a esfera tem que ser fechada. “Não estou dizendo que eu negue a qualidade de contos admiráveis, dos quais gosto muito – alguns de Katherine Mansfield, por exemplo – só porque eles não atendem à minha noção de conto. Simplesmente, eu não os teria escrito da mesma maneira.”
Aqui o escritor argentino esclarece perfeitamente sua maneira de olhar para a técnica de escrever. Este conceito, aliás, pode se juntar a outro, comentado pelo autor no livro Obra crítica 2, no qual ele diz que o bom conto precisa vencer o leitor por nocaute, enquanto o romance sempre ganha por pontos.
O escritor é um caracol
Ao escolher a França como sua morada, aos 37 anos, em 1951, Cortázar foi muito criticado pelos seus compatriotas, que o acusaram de escritor estrangeiro, alegando que, com a escolha, ele se tornara no mínimo um autor franco-argentino.
A esta acusação, o autor de O jogo da amarelinha respondia ser uma injustiça, uma vez que, apesar de morar na França, ou por isso mesmo, sua obra era uma experiência positiva para a literatura argentina, pois escrevia em castelhano e com foco direto na América Latina.
Além disso, Cortázar acreditava que o escritor não tem de se preocupar com o lugar onde está, porque onde quer que ele esteja, sempre terá o que necessita para escrever, ou seja, sua bagagem interior.
“Os verdadeiros escritores são como caracóis – carregamos a nossa casa nas costas”, diz Cortázar, sem deixar nenhuma dúvida de que, além de ser, se sentia um verdadeiro escritor.
Trechos:
Literatura = brincadeira, jogo, felicidade e amor
“Creio que a literatura serve como uma das muitas possibilidades do homem de realizar-se como homo ludens. E, em última instância, como homem feliz. A literatura é uma das possibilidades da felicidade humana.”
Segundo Cortázar, o romance é um conceito de retórica, algo que nos moldes originais já não existe. É, segundo ele, um baú, “a possibilidade de expressar uma multiplicidade de conteúdos com uma liberdade enorme. (...). É um instrumento preciso nas mãos do criador, que dá a ele infinitas possibilidades.”
“Minha noção de brincadeira – demonstrada exaustivamente ao longo de tudo o que fiz – é séria e profunda. Eu acho que a brincadeira é uma atividade essencial do ser humano. Confundir brincadeira com frivolidade é uma primeira distração.”
“A literatura é para mim uma atividade lúdica, lúdica naquele sentido que eu dou ao jogo, à brincadeira, (e ainda) uma atividade erótica, uma forma de amor.”
4 comentários:
Acredito que para um escritor a literatura deixa de ter essa possibilidade de felicidade, porque o prazer perde lugar para o ofício, que é um cão raivoso vigiando o empregado.
Whisner, obrigado pela visita!
Também acho que escrever, fazer literatura, é mais uma angústia. Todo artista tem uma angústia, porque lida com a emoção. Talvez o ato de escrever, para muitos escritores, tirando Cortázar e mais alguns, seja uma espécie de angústia que busca no desfecho da escrita uma felicidade. Mas aí entra o cão raivoso. Essa imagem é forte e dá quase uma conotação de relação senhor (escrita-literatura)/escravo (escritor). A diferença é que há um ganho, ainda que seja um mero alívio ao cabo da empreitada de escrever.
Um abraço!
caro Giba,estou passando aqui para convida-lo a participar da blogagem coletiva-leitura coletiva,que estou promonendo com a Vanessa do fio de ariadne.Dê uma passada no meu blog,e leia o post.Um abraço.
Não tenho passado muito por aqui ultimamente porque estive cheio de trabalho nas duas últimas semanas.
adiós.
James, também estou navegando menos (rs). Mas aceito, sim seu convite, vou acessar o link.
Grande abraço!
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