sábado, 30 de maio de 2009

PARA ESTUDAR BATAILLE

Bataille: escritor que encarou a arte da palavra como absoluta transgressão dos valores

O francês Georges Bataille influenciou muita gente, direta ou indiretamente. O brasileiro Marcelo Mirisola, por exemplo, é um deles. A violência de O azul do filho morto, de Mirisola, tem muito a ver com a obscenidade do autor de A literatura e o mal e O azul do céu. É um tipo de literatura que vai a fundo na proposta de transgressão.

Para quem se interessa por essa vertente de texto literário e quer estudar Bataille, a edição de História do Olho feita por Cosac Naify traz uma ótima sugestão de leitura. Segue abaixo:

Georges Bataille testemunhou, em vida, o lançamento de três edições da História do olho, todas sob o pseudônimo de Lord Auch. A primeira, publicada por René Bonnel e ilustrada por André Masson, apareceu em 1928; a tiragem clandestina, de 134 exemplares, omitia os nomes do editor e do ilustrador. A segunda, na versão que é objeto desta tradução, embora trouxesse na capa a inscrição ‘Sevilha, 1940’, foi na verdade publicada em 1945 pela editora francesa K, contendo seis gravuras de Hans Bellmer. Fruto de uma revisão do autor que resultou em significativas modificações no texto, essa edição suprimia igualmente as referências ao editor e ao ilustrador nos seus 199 exemplares. Outra impressão clandestina dessa ‘nova versão’, dita então de ‘Burgos, 1941’, foi lançada por Jean-Jacques Pauvert em 1952, com tiragem de 500 exemplares. As duas versões da novela encontram-se no primeiro volume das Obras completas de Georges Bataille, publicadas pela Gallimard com apresentação de Michel Foucault.

Entre os títulos mais relevantes da obra batailliana estão alguns ensaios que, com sorte, podem ser encontrados em traduções brasileiras ou portuguesas: A noção de despesa – A parte maldita (Rio de Janeiro: Imago, 1975), O erotismo (São Paulo: Arx, 2004), A experiência interior (São Paulo: Ática, 1992), Teoria da religião (São Paulo: Ática, 1993) e A literatura e o mal (Lisboa: Ulisseia, s/d.). O mesmo vale para textos de ficção como Minha mãe (São Paulo: Brasiliense, 1984), O azul do céu (São Paulo: Brasiliense, 1986) e O padre C. (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999). Em edição esgotada, há uma outra tradução da História do olho, assinada por Glória Correia Ramos (São Paulo: Escrita, 1981).

A biografia mais completa do escritor é Georges Bataille, La mort à l’oeuvre (Paris: Gallimard, 1992), assinada por Michel Surya. O mesmo biógrafo organizou o volume intitulado Georges Bataille – Une liberte souveraine (Tours: farrago, 2000) que reúne uma série de entrevistas concedidas entre 1948 e 1958. Um perfil mais breve do autor foi traçado por Alain Arnaud e Gisele Excoffon-Lafage em Bataille (Paris: Seuil, 1978), e outro por Sarane Alexandrian em ‘Georges Bataille e o amor negro’, capítulo do livro Os libertadores do amor (Lisboa: Antígona, 1999).

Entre as obras fundamentais sobre o escritor destaca-se um volume da revista Critique intitulado Hommage a Georges Bataille (número 195-196, Agosto-Setembro 1963) que reúne textos de contemporâneos e amigos como Rland Barthes, Maurice Blanchot, Pierre Klossowski, Michel Leiris e André Masson. Um estudo seminal é La Prise de La Concorde (Paris: Gallimard, 1974), assinado por Dennis Hollier, que também organizou o volume Le Collège de Sociologie 1937-1938 (Paris: Gallimard, 1979). Outro trabalho de fôlego, concentrado na análise do romance O azul do céu, é L’indifférence dês ruines de François Marmande (Paris: Parenthèses, 1985). Jean Michel Besnier propõe uma instigante interpretação do pensamento de Bataille nos livros La politique de l’impossible (Paris: La Découverte, 1988) e Éloge de l’irrespect (Paris: Descartes & Cie, 1998). No Brasil, há o ensaio de Eliane Robert Moares, O corpo impossível, que examina o projeto batailliano de ‘decomposição da figura humana’ (São Paulo: Iluminuras/FAPESP, 2002).

O impacto das ideias do autor da História do olho sobre os estudiosos das artes visuais é digno de nota. Algumas reflexões contemporâneas sobre estética têm por base a ‘teoria do informe’ de Bataille, como é o caso de La ressemblance informe ou le gai savoir de Georges Bataille, de Georges Didi-Huberman (Paris: Macula, 1995), ou de Formless – A user’s guide, assinado por Yve-Alain Bois e Rosalind E. Krauss (new York: Zone Books, 1997). Merece a atenção do leitor o décimo número da revista La part de l’oeil (Bruxelas, 1994) que traz um dossiê sobre ‘Bataille e as artes plásticas’.

Entre os estudos voltados exclusivamente à História do olho destaca-se o notável ensaio de Marie-Magdaleine Lessana, publicado em conjunto com uma reedição de luxo da novela: De Borel à Blanchot, une joyeuse chance, Georges Bataille (Paris: Pauvert/ Fayard, 2001). Vale conferir ainda a extensa apresentação de Mario Vargas Llosa, ‘El placer glacial’, à edição espanhola (Barcelona: Tusquets, 1986). Michel Foucault dedicou longas passagens do seu ‘Prefácio à transgressão’ ao exame da metáfora visual na obra de Bataille; o ensaio está recolhido no quarto volume dos Ditos e escritos (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999). Susan Sontag analisa a História do olho como um dos textos exemplares da moderna ficção erótica no ensaio ‘A imaginação pornográfica’, incluído no livro A vontade radical (São Paulo: Companhia das Letras, 1987).

2 comentários:

Gianna disse...

Buondia,eu sto facendo uno estudio de Foucault e quizer encontrar una biblioteca online pra leer Critique n° 195-196 : Hommage à Georges Batailleeu, mais nau posso encontrar. Voce pode me aiutar?
Disculpa meu portuges, mais eu so chilena.
Oubrigada
Gianna

Gilberto G. Pereira disse...

Olá, Gianna! Não sei se posso te ajudar. Você já tentou acessar o site da Biblioteca Nacional Francesa (BnF - Bibliothèque national de France - http://www.bnf.fr/fr/acc/x.accueil.html). Bonne chance!