ninguém levava a sério o que escrevia, porque textos tão densos não
podiam vir de uma mulher tão desejada; e deviam ser tomados como
uma brincadeira inofensiva, ou uma fraude." (Inventário das sombas)
Hilda Hilst (1930 – 2004) foi uma grande escritora que viveu bom tempo refém da própria beleza, que escamoteava sua literatura. Para muitos críticos, durante muito tempo, ela era apenas o rostinho lindo que escrevia umas coisinhas.
Sua obra, com mais de 40 livros, entre poesia, contos, romances e teatro, vem sendo republicada pela Editora Globo desde 2001. Mas não parece ser o bastante. Continua obnubilada.
Hilda sofreu preconceitos por ter sido bela, mas o olhar de cigana dissimulada dos críticos à obra dela também se deve a outro comportamento. Ela ouvia vozes do além, e acreditava piamente em suas alucinações auditivas.
Essa história é bem conhecida, inclusive, contada no livro de José Castello, Inventário das sombras, de 1999. A escritora montou em sua casa “um equipamento de radiofonia destinado a captar, através das ondas de rádio, mensagens emitidas por extraterrestres e falecidos, experiência que se iniciou ainda nos anos 70, inspirada nos experimentos do músico suíço Friedrich Jungersson.”
Hilda chegou a gravar alguns trechos dessa paranormalidade. E mais. O caso foi parar no Fantástico do dia 18 de março de 1979.
Navegando pelos registros de vídeo da Globo.com, cujo acesso, em sua maioria, é gratuito, encontrei o vídeo (veja), que a Globo deve ter usado na comemoração dos 30 anos do Fantástico. Não sei até quando vai ficar disponível.
Em certa passagem dos dez minutos de reportagem, Hilda diz o seguinte:
“Era mais ou menos 11 horas da noite, estava tocando uma música e de repente aparece o meu nome nessa fita. A cantora, em vez de dizer o que teria eventualmente de dizer, diz: ‘Hilda, tu es après du mois.’ [Hilda,você está perto de mim]”
Ela acreditava que tinha gravado a voz da própria mãe, já falecida. A razão de a voz surgir em francês, e não em português, nem sei eu.
Na reportagem, um psicólogo disse que se trata de um fenômeno psíquico, em que Hilda grava a própria voz, sem perceber.
OBS: Quando tentei linkar diretamente o vídeo, a janela do post se multiplicou rapidamente em mais de 50 vezes. Desliguei o computador imediatamente e desisti. Não acredito em bruxas, mas elas devem existir.
4 comentários:
Caro Giba,gosto muito da Hilda Hilst.E a relação dela com o Caio Fernando Abreu é muito interessante.O Caio escreveu carlas belíssimas para ela(Estão no livro Cartas de Caio Fernando Abreu da editora Aeroplano-uma leitura imperdível).Foi no sítio de Hilda perto de Campinas que Caio se escondeceu no final dos anos 60,escondendo-se do Dops.Assim vão se formando esses círculos concêntricos da literatura.
Abração.amigo.
James, demorei para acessar meu próprio blog. Estive sem conexão.
Eu também gosto de Hilda, na veradde de seus poemas. A prosa ainda não tive oportunidade de ler, só As Bufólicas, hilários textos eróticos.
O sítio dela perto de Campinas era chamado de Casa do Sol, né, já com a proposta de ser um lugar propíco à recepção de extraterrestres, né, à lá Friedrich Jungersson.
Abç!
Quando li a primeira vez, fiquei em estado de choque, era muito nova, mas hoje reconheço esse grande talento brasileiríssimo!
É mesmo um escândalo, Luciana, num bom sentido, como toda a literatura deve ser. O escândalo vale como um estranhamento. É claro que Bataille e Machado de Assis, por exemplo, não têm muito a ver um com o outro, mas ambos também nos causam escândalo, de certa forma, como a Hilda, de outra maneira.
Obrigado pelo comentário.
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