quarta-feira, 19 de novembro de 2008

CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA DECLARAÇÃO RACISTA

Será que o biólogo norte-americano James D. Watson votou em Barack Obama para presidente dos Estados Unidos? Certamente, não. Obama é descendente de africanos do Quênia, e Watson deprecia a inteligência dos negros.

Prêmio Nobel de Medicina de 1962 (junto com Francis Harry C. Crick e Maurice Hugh F. Wilkins), pela descoberta da estrutura do DNA, Watson tem uma visão muito estreita daquilo que se entende por humanidade. Em 2007, ele eriçou o mundo com declarações racistas, segundo as quais, os africanos são menos inteligentes do que os ocidentais brancos.

Watson confundiu facilmente inteligência com conhecimento técnico. Como se os negros africanos fossem burros porque ficaram à margem do largo avanço tecno-científico realizado pelos europeus, norte-americanos e japoneses. Com isso, ele engrossou a camada dos homens de inteligência caolha, de argúcia manca.

É curioso como um biólogo, estudioso da vida, descobridor de um dos mais poderosos instrumentos de decodificação da estrutura do organismo vivo, não é capaz de entender as relações humanas, muito menos a complexidade da linguagem dentro da qual se desenvolve a inteligência. Ou as razões teriam sido outras?

O racismo é um entendimento enviesado ou uma incapacidade de olhar profundamente a condição humana.

Um racista não é capaz de perceber, por exemplo, que o negro africano tem outra visão de mundo, como os orientais também o têm. Quer impor o mesmo sentimento, a mesma estética, o mesmo olhar, e ao perceber a diferença, não aceita, e vê no outro a inferioridade de alma, a baixa capacidade cognitiva, a frouxidão moral.

Mais do que isso, a maioria que nutre a convicção racista sequer chega a perceber que se o Ocidente tem relações mais íntimas com a cultura do Oriente, e por isso ambos se comunicam melhor, têm mais afinidades, é porque a cultura oriental foi fonte da formação da ocidental. Por isso, os traços da linguagem que formam a compreensão das coisas e dão forma à inteligência são próximas entre essas duas culturas, mas não se aproximam da cultura africana tão acentuadamente.

A relação entre africanos e europeus é mais distante, embora a terra daqueles tenha sido o berço da humanidade. Em razão dessa distância, a sensibilidade dos negros é outra, os traços da linguagem que formam sua inteligência vêm de outros rios, cujos interesses profundos são outros, mesmo com toda a chuva de persuasão que se fez na África para que os negros fossem iguais (ou subiguais) aos brancos europeus colonizadores, com o jugo sob o domínio dos brancos, claro, num período de pouco sol sobre o solo africano.

África e Ásia, portanto, se reconhecem muito mais do que o entendimento que há entre europeus e africanos. No caso de Watson, talvez ele nem se dê conta disso. Ou não quer saber, como acontece com todos os racistas. Partem do princípio de que já sabem tudo sobre a condição humana.

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