Publicado originalmente em 2005, O Livro dos livros perdidos (compre aqui), de Stuart Kelly, é um daqueles que não dizem nada, mas falam tudo. O autor, um inglês de 36 anos, demonstra muita erudição, mas o que encanta mesmo é seu estilo de escrever. É rápido e preciso, versando sobre quase nada de novo, mas encantando com palavras bem colocadas.
Ele faz um levantamento de livros que não existem mais e quiçá nunca existiram, que se perderam ou estiveram apenas na cabeça dos autores que planejavam, um dia, quem sabe, escrevê-los.
Não podendo falar do conteúdo de um livro que não existe, Kelly comenta as desventuras de seus autores, os possíveis destinos da criação, e arranca aplausos dos leitores, entusiasmados.
Ele fala, por exemplo, de Camões, que supostamente escreveu um livro chamado O parnasmo de Camões, sobre “muito conhecimento, doutrina e filosofia”, nas palavras de Diogo Couto, contemporâneo e amigo do bardo lusitano. Mas os manuscritos foram roubados e ninguém mais deu conta da obra.
Nessa linha, Kelly faz brotar palavras, sempre com um caso espirituoso para contar, sobre Homero, Safo, Aristóteles, Racine, Dostoievski, Flaubert, Gogol, Georges Perec e vários outros. Ao todo, ele montou uma lista de não-livros, ou livros perdidos, de 81 autores notáveis.
O grande valor do livro de Kelly é o convite irresistível a continuar lendo. Ao falar de livros que não existem mais, que nem ele mesmo leu, Kelly narra de outro ângulo a história da leitura e da escrita e empolga o leitor.
Por isso mesmo, seu livro vale mais do que um tratado inteiro de filosofia da linguagem ou de teoria da recepção sobre a epistemologia da leitura e do gosto literário. Grande leitor que é, cria atmosfera para o ápice da expectativa de um autor, conforme suas próprias palavras:
“Se o livro dos livros perdidos conseguir estimular e divertir os leitores o bastante para que eles iniciem suas próprias peregrinações entre a plenitude de livros que restam, terá feito tudo que eu esperava.”
Ele faz um levantamento de livros que não existem mais e quiçá nunca existiram, que se perderam ou estiveram apenas na cabeça dos autores que planejavam, um dia, quem sabe, escrevê-los.
Não podendo falar do conteúdo de um livro que não existe, Kelly comenta as desventuras de seus autores, os possíveis destinos da criação, e arranca aplausos dos leitores, entusiasmados.
Ele fala, por exemplo, de Camões, que supostamente escreveu um livro chamado O parnasmo de Camões, sobre “muito conhecimento, doutrina e filosofia”, nas palavras de Diogo Couto, contemporâneo e amigo do bardo lusitano. Mas os manuscritos foram roubados e ninguém mais deu conta da obra.
Nessa linha, Kelly faz brotar palavras, sempre com um caso espirituoso para contar, sobre Homero, Safo, Aristóteles, Racine, Dostoievski, Flaubert, Gogol, Georges Perec e vários outros. Ao todo, ele montou uma lista de não-livros, ou livros perdidos, de 81 autores notáveis.
O grande valor do livro de Kelly é o convite irresistível a continuar lendo. Ao falar de livros que não existem mais, que nem ele mesmo leu, Kelly narra de outro ângulo a história da leitura e da escrita e empolga o leitor.
Por isso mesmo, seu livro vale mais do que um tratado inteiro de filosofia da linguagem ou de teoria da recepção sobre a epistemologia da leitura e do gosto literário. Grande leitor que é, cria atmosfera para o ápice da expectativa de um autor, conforme suas próprias palavras:
“Se o livro dos livros perdidos conseguir estimular e divertir os leitores o bastante para que eles iniciem suas próprias peregrinações entre a plenitude de livros que restam, terá feito tudo que eu esperava.”
Trecho:
Ernest Hemingway
(1899-1961)
“Se houvesse um prêmio para o autor mais propenso a acidentes, Ernest Hemingway o teria recebido antes de ganhar o Pulitzer ou o Nobel. Ele quebrou ossos em diversos desastres de automóvel, escapou de uma queda de avião, contraiu antraz, foi esfolado por diversos projéteis e numa ocasião foi baleado de verdade, cortou o globo ocular, sofreu de congestão dos rins e problemas de fígado, puxou uma clarabóia para cima de si mesmo e resistiu a numerosos golpes, arranhões, batidas, colapsos, e tombos.
Um acidente, no entanto, deixou sem palavras até mesmo esse que foi o mais macho dos autores. Em 1922, Hadley Hemingway (a primeira de suas quatro esposas) estava viajando para a Suíça com os pertences do marido. Até essa época, Ernest escrevera muito, mas publicara pouco. Conseguira ‘seis frases perfeitas’ e estava bem adiantado num romance sobre suas experiências na Primeira Guerra Mundial. Entre as valises e os baús que Hadley transportava havia uma maleta com tudo que Ernest escrevera até então. De algum jeito, ela foi roubada.
Ele vinha desenvolvendo a teoria de que, se algo pertencente a uma obra de arte fosse retirado dela, seus vestígios permaneceriam. Agora tinha de buscar todas as ramificações, a reductio ad absurdum, de sua idéia. O fato de tanto Ezra Pound quando Gertrude Stein lhe terem dito para esquecer tudo que escrevera e começar novamente não deve ter servido de consolo. Todo autor produz textos juvenis. A maioria os destrói. O roubo dos manuscritos de Hemingway foi um curto-circuito no processo. Se ele tivesse passado os dez anos seguintes tentando melhorar seus rabiscos imaturos, poderíamos jamais ter visto os romances de que era capaz.”
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