Foto: Divulgação do filme em inglês
Bauby (Mathieu Amalric) imagina um jantar romântico com sua intérprete
Está em cartaz em algumas salas de cinema de São Paulo o filme francês O escafandro e a borboleta (112 min.), baseado no livro homônimo do jornalista Jean-Dominique Bauby (publicado no Brasil pela Martins Fontes). Quando Bauby era editor da revista francesa Elle, em 1995, sofreu um acidente vascular cerebral.
Após passar 20 dias em coma, ele acordou sem movimento nenhum no corpo e descobriu que era portador de uma doença rara, conhecida como síndrome de locked-in, que permite o paciente mover apenas a pálpebra do olho esquerdo.
A partir daí, ele desenvolveu uma habilidade de comunicação que, com o único movimento de levantar e baixar a pálpebra, o permitiu ditar um livro inteiro, narrando um drama lírico que agora muita gente pode ver na telona.
Trata-se de uma história incrível demais para ser real, a mais improvável, a mais mirabolante, no entanto, verdadeira. A inverossimilhança dos fatos, uma lógica de vida totalmente anti-aristotélica.
Na história real de Bauby, parece que o processo se inverteu e Deus brincou de cineasta, dirigindo um filme impossível de ser readaptado para o cinema humano sem perder a força, o alcance real do drama.
Mesmo assim, a adaptação recupera um pouco daquilo que era o mundo interior de Bauby, intacto ao acidente, uma mente que produz belas imagens e desejos. O melhor do filme é sem dúvida a projeção dessa sondagem psicológica.
Seu senso de humor é ótimo. Sua inteligência não foi afetada. Mas ele está enclausurado no próprio corpo. Impossível viver assim. Impossível, inclusive, imaginar essa vida.
É claro que o que faz o filme é a tradução dessa angústia e dessa vontade de expressar os sentimentos, mostrando ao mundo como é essa experiência, intercalando os momentos vividos no passado, o drama do presente e a imaginação larga, o vigor fantasioso do homem inerte por fora, mas ativo por dentro (a única vida possível).
O contraste entre o estado lamentável de Bauby na cadeira de rodas ou na cama, com o olho direito costurado, a boca torta e o olho esquerdo mexendo para todos os lados (a única coisa em movimento no exterior de seu corpo) e a vivacidade de seu espírito é tocante. É o brilho eterno de uma mente com lembranças e fantasias.
Metáforas e desconsolo
Estar totalmente paralítico, como estava Bauby, é seguir preso em si mesmo. O título traduz bem a sensação. O corpo torna-se prisioneiro de uma espécie de escafandro que afunda a vida para o oceano do real, cheio de dificuldades e de poucas esperanças.
Bauby sentia-se assim, ao mesmo tempo em que sua imaginação era uma borboleta, metáfora da liberdade, na mínima expectativa de sair leve a explorar os espaços deixados para trás.
O que mais dói nessa história toda é imaginá-la acontecendo com uma pessoa simples. Bauby tinha toda a atenção da equipe médica. Isso porque era jornalista da Elle, conceituada revista feminina parisiense. Se isso ocorre com um homem comum, ele provavelmente morre aos poucos e à míngua, sem ao menos saber por quê, enquanto agoniza.
Bauby morreu em 1997, dez dias depois de seu livro ser lançado. Com o sucesso do filme – que ganhou dois Globo de Ouro, como melhor filme e melhor diretor (Julian Schnabel) e foi indicado ao Oscar 2008 em quatro categorias, entre elas, direção e roteiro adaptado –, o livro alcançou um grande impulso de vendas.
Ficha do filme:
O Escafandro e a borboleta
Diretor: Julian Schnabel
Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner e Max von Sydou
Ano : 2007
Duração : 112 minutos
Após passar 20 dias em coma, ele acordou sem movimento nenhum no corpo e descobriu que era portador de uma doença rara, conhecida como síndrome de locked-in, que permite o paciente mover apenas a pálpebra do olho esquerdo.
A partir daí, ele desenvolveu uma habilidade de comunicação que, com o único movimento de levantar e baixar a pálpebra, o permitiu ditar um livro inteiro, narrando um drama lírico que agora muita gente pode ver na telona.
Trata-se de uma história incrível demais para ser real, a mais improvável, a mais mirabolante, no entanto, verdadeira. A inverossimilhança dos fatos, uma lógica de vida totalmente anti-aristotélica.
Na história real de Bauby, parece que o processo se inverteu e Deus brincou de cineasta, dirigindo um filme impossível de ser readaptado para o cinema humano sem perder a força, o alcance real do drama.
Mesmo assim, a adaptação recupera um pouco daquilo que era o mundo interior de Bauby, intacto ao acidente, uma mente que produz belas imagens e desejos. O melhor do filme é sem dúvida a projeção dessa sondagem psicológica.
Seu senso de humor é ótimo. Sua inteligência não foi afetada. Mas ele está enclausurado no próprio corpo. Impossível viver assim. Impossível, inclusive, imaginar essa vida.
É claro que o que faz o filme é a tradução dessa angústia e dessa vontade de expressar os sentimentos, mostrando ao mundo como é essa experiência, intercalando os momentos vividos no passado, o drama do presente e a imaginação larga, o vigor fantasioso do homem inerte por fora, mas ativo por dentro (a única vida possível).
O contraste entre o estado lamentável de Bauby na cadeira de rodas ou na cama, com o olho direito costurado, a boca torta e o olho esquerdo mexendo para todos os lados (a única coisa em movimento no exterior de seu corpo) e a vivacidade de seu espírito é tocante. É o brilho eterno de uma mente com lembranças e fantasias.
Metáforas e desconsolo
Estar totalmente paralítico, como estava Bauby, é seguir preso em si mesmo. O título traduz bem a sensação. O corpo torna-se prisioneiro de uma espécie de escafandro que afunda a vida para o oceano do real, cheio de dificuldades e de poucas esperanças.
Bauby sentia-se assim, ao mesmo tempo em que sua imaginação era uma borboleta, metáfora da liberdade, na mínima expectativa de sair leve a explorar os espaços deixados para trás.
O que mais dói nessa história toda é imaginá-la acontecendo com uma pessoa simples. Bauby tinha toda a atenção da equipe médica. Isso porque era jornalista da Elle, conceituada revista feminina parisiense. Se isso ocorre com um homem comum, ele provavelmente morre aos poucos e à míngua, sem ao menos saber por quê, enquanto agoniza.
Bauby morreu em 1997, dez dias depois de seu livro ser lançado. Com o sucesso do filme – que ganhou dois Globo de Ouro, como melhor filme e melhor diretor (Julian Schnabel) e foi indicado ao Oscar 2008 em quatro categorias, entre elas, direção e roteiro adaptado –, o livro alcançou um grande impulso de vendas.
Ficha do filme:
O Escafandro e a borboleta
Diretor: Julian Schnabel
Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner e Max von Sydou
Ano : 2007
Duração : 112 minutos
Título original : Le Scaphandre et le papillon
3 comentários:
Legal ver que alguém que conhece Goiás também é apreciador de livros e de blogs. Uma mistura q particulamente me interessa, hehe.
Li sua crítica do filme e já coloquei ele na lista de minhas próximas pipocas.
1 abraço.
Muito obrigado, jml! Eu tenho aqui em minha pequena biblioteca um livro sobre a história de Anápolis, uma das cidades mais agradáveis de Goiás, um ótimo clima, ambiental e socialmente. O livro é de haydée Jayme Ferreira.
Abç!
você foi ver o filme, afinal? eu fui. e espero o recadinho de parabéns, seu coisa.
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