sábado, 5 de julho de 2008

POR QUE NÃO LER?

Neste domingo (06/07), o psicanalista francês Pierre Bayard participa da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty (02 a 06 de julho). Ele é autor de Como falar de livros que não lemos? (leia o primeiro capítulo no site da Livraria Cultura) e vai tratar do assunto no evento. Bem que eu poderia falar do livro dele sem a menor cerimônia, já que não o li e não preciso ler para comentá-lo.

Mas me atenho aqui a uma declaração sua, dada ao jornal Folha de S. Paulo. De acordo com o psicanalista, as pessoas não devem ter vergonha de não ter lido alguns livros, mesmo que estes sejam importantes.

Essa vergonha de dizer que não se leu um livro, segundo ele, vem do fato de os intelectuais, principalmente os professores, tentarem criar uma imagem sagrada do livro.

Como psicanalista, ele tenta ‘desculpabilizar' o leitor. Segundo ele, mesmo os grandes leitores têm lacunas, ou seja, há sempre bons livros que eles nunca leram.

Essa afirmação é interessante porque, a primeira vista, a impressão que se tem é que ele dirige seu livro ao leitor medíocre (sem nenhuma reserva, incluindo aqui este humilde blogueiro), ao leitor de fim de semana, ou até mesmo, e talvez principalmente, ao leitor de best-sellers.

Seu livro foi muito bem aceito nos Estados Unidos, mas os ingleses viraram a cara.

Ao dizer que não precisa ler para falar de um determinado livro, ou para saber dele, o autor, claro não está dizendo que se devem ignorar os livros importantes para a formação intelectual.

O que ele quer dizer é que há várias formas de se conhecer uma obra literária, entre elas ouvindo alguém. Muitas vezes, temos mais proveito de um livro ouvindo a explicação de um leitor mais atento.

Trechos:

FOLHA - Não é necessário ler todo o livro para compreendê-lo?

BAYARD - Tento tirar do discurso sobre os livros tudo o que significa "é necessário" ou "se deve". Acho que há muitos itinerários possíveis. Claro que há o mais habitual, de ler da primeira à última linha. Mas há outras formas. Podemos apenas folhear ou ler até uma certa altura. Pode não ser o bom momento para lê-los. Assim como há várias maneiras de conhecer uma pessoa.

FOLHA - Os seus argumentos são de um professor ou de um psicanalista?

BAYARD - Naturalmente, há uma dimensão psicanalítica, já que a questão inicial da psicanálise é a de liberar o paciente da culpa. Mas também é um livro de professor. Percebi, na prática, que os alunos tendiam a considerar o livro como um objeto religioso. Tendiam a ler da primeira à última linha sem se dar a liberdade de percorrer a obra. Meu livro é sobretudo para os grandes leitores. Houve uma certa confusão, porque alguns jornalistas consideraram que eu queria dissuadir as pessoas da leitura. Mas sou um grande leitor, precisei ler muitas obras para poder escrever meu livro. O grande leitor é uma pessoa livre em relação aos livros.

....

FOLHA - A internet é um bom meio de formar leitores ou é o contrário?

BAYARD - É um instrumento formidável. Mas há um risco de apenas se "passar os olhos" em tudo. Por outro lado, vejo muitos alunos que entram na biblioteca, selecionam alguns livros e tratam de lê-los da primeira à última linha.

Quantos livros vão acabar lendo em suas vidas?

In: Folha de S. Paulo, Caderno Ilustrada, sábado, 05 de julho de 2008.

Um comentário:

Anônimo disse...

A tão festejada Flip está cada vez mais parecida com a ABL: confetes na mediocridade!!! Livros não, são meros objetos de quê? se capazes de es(ou des)truturar todo um ser racional, seu lugar não é em um altar sacrosanto ou beatificadamente pagão? Mercenário, esta criatura, não??? Deve ser nascido em Creta...
Bayard...Buy hard...Bah argh!
Flávia Pyton (e o sentido da vida).