quinta-feira, 12 de junho de 2008

O AMOR EM PALAVRAS: a reverberação do discurso amoroso

“O amor é primo da morte
E da morte vencedor
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor”
Carlos Drummond de Andrade


No Dia dos Namorados, este blog também quer falar de amor. Deixemos as brigas, os desentendimentos, as relações promíscuas, as sem-relações, os foras, os micos, as vendas para os sites de fofocas e de mercado de capital.

Falemos da mais fictícia das paixões, sem demérito, no labirinto do discurso amoroso. O amor é cheio de malabarismo, como se a gente mesmo fosse do circo, como se todos que amam se compenetrassem no abismo cômico da arena circense.

O Amor nos faz rir: de contentamento, de histeria, de gozo, de saudades marcadas pelas lembranças de instantes sublimes na alma de quem ama.

Ele rompe na reta infinita do tempo. Amor e tempo. Eis um raio de clarão, uma centelha tantas vezes insignificante e piegas e outras tantas objeto de maior desejo, o que mais se pede e se deseja no mundo.

Ao incitar o amante ao discurso, o amor revela apenas o que todos já sabem de seu caráter; de sua condição fora do ser amado: literatura, o ramo da bifurcação mais apreciado, mais apaixonante, mas que não passa de tautologia, redundância amorosa, ainda assim, rica e profunda. “Eu te amo”, todos dizem.

Seguidamente, repete-se esse discurso para todos. Mas o amor, em seu caráter literário, é mesmo profundo, porque podemos expressar em palavras, que são tantas, o que muitas vezes deixamos de viver em sentimentos, que podem ser poucos – Casanova embevecido.

Quando um deseja o outro, o que menos quer é deixá-lo, ainda que seja por um segundo. Quer dizer mil coisas à pessoa amada – Sherazade enamorada – e por isso sente uma espécie de tempestade permanente de palavras replenas de sentimentalidade. Só mesmo motivados pela separação podemos sentir as reverberações que o amor causa em nós. Até aí é literatura.

Apenas, e somente apenas, quando há um revestimento de grandeza inefável, aparece o amor em si, infinito e soberano. Tão denso e cortante que podemos não suportá-lo (mas ele é tão raro nas pessoas!). “Não suporto aquela mulher”, que nunca vi antes, digo eu. Mas posso estar querendo dizer que ela mexe com meus inefáveis sentimentos, e por isso não tenho motivos para abrir meu coração a ela. Ela seria cruel demais, avassaladora demais, infinitamente grandiosa para mim. “Não a suporto porque a amo demais.”

O amor é assim: carga solitária que procura no outro um alívio em comum. Inefabilidades. Só vivendo para sentir e não dizer, porque o amor de que se sente é indizível. Só podemos tangenciar sua verdade. Somente o ser amante pode entrar no círculo de seu próprio amor.

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