Foto: Catraca Livre
Vista aérea da região da Paulista e da 9 de Julho, com destaque para o MASP |
São Paulo me vestiu de prédios, banhou-me de concreto e me ofereceu uma armadura de gelo no entretrópicos. Ganhei uma ligeireza deslizante na alma e um tipo cortante de afeto, uma quentura de amor, uma grandiosidade nos olhos para ver. Em São Paulo, ou você se engrandece ou se apequena. Mas às vezes demora pra você saber o diagnóstico preciso.
Seus
ossos não sabem. Seu sangue não sabe. Sua saliva não sabe. Seu gozo não sabe.
Suas lágrimas, suas secreções, seus segredos ainda se formam e se escondem do
mundo. São Paulo ainda o esconde. Falta a dimensão das lentes, às vezes. Falta
a ferocidade nos dentes, às vezes. Falta o lancinar dos gritos, às vezes.
Um
paletó de concreto, túmulo retumbante, São Paulo é só saudade, cidade
inexistente, que aparece e assusta, susta, ergue-se diante de você e o engole,
mastiga. Mas se você tiver um sangue bom, o mastigar de São Paulo é como o das
sanguessugas, faz bem, sangra, mas faz bem, arranha, mas faz bem, afaga, apaga
a mágoa, às vezes.
E
você cresce. São Paulo ainda cresce dentro da gente. E crescerá até que a gente
definhe, enquanto São Paulo cresce mais, e a gente afina, invisivelmente fina,
vire fio de vento e assobio nas esquinas
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