Fotos: Gilberto G. Pereira
Painéis como este na 5ª Avenida impressionam pela beleza das mulheres e pelo tamanho |
A 5ª Avenida, considerada um dia por certo personagem como
“a avenida que simbolizava a civilização humana”, ainda traz em suas marcas o
charme da modernidade. Nela, ainda vemos as fachadas das grandes grifes, como
Prada, Tiffany, Banana Republic, Rolex, Armani, Louis Vuitton, and several
more.
No dia 17 de julho de 2016, caminhamos pela 5ª Avenida
pela enésima vez, rumo ao Central Park, mas com o objetivo de visitar o Guggenheim.
Passamos pelo gigantesco prédio que sediou o Metropolitan Museum por um longo
tempo, e que agora está vazio. O Metropolitan acabara de se transferir para uma
quadra vizinha, fora do chamado Trecho dos Museus (Museum Mile), no Central
Park. Por causa disso, talvez a civilizada avenida tenha caído um pouquinho de consideração.
Talvez tenha caído. Mas quando caminhamos por sua longa
linha reta que abraça desde o Harlem até o sul da ilha, na Washington Square,
onde fica o campus da New York University, não duvidamos de que é um horizonte
maravilhoso de se percorrer. Painéis fotográficos imensos, que tomam muitas
vezes uma fachada inteira de prédios gigantes, impressionam.
O passeio ao Guggenheim foi suave e tranquilo. Além de
admirarmos sua bela arquitetura e a vertiginosa cadência espiralada de seu
interior, apreciamos obras de velhos conhecidos de livros e de filmes, como A mulher de cabelo amarelo, de Pablo Picasso,
e diversos quadros de Kandinsky (mais de 150 peças do artista se encontram no
acervo do museu) e de Miró, além de obras de artistas conceituados, mas que
nunca havia ouvido falar antes, como uma galeria inteira com quadros de Alexander
Archipenko.
Guggenheim: destaque para a bela arquitetura e a vertiginosa cadência espiralada |
Deixamos o museu, sentimos o ar do oásis de árvores em
meio a tanto concreto espigado, e cruzamos para a Central Park Avenue, do outro
lado. Nova York era agora uma deliciosa paisagem de arranha-céus com a qual já
havíamos nos acostumado.
Desde que Albert Camus a visitara, muita coisa mudara, mas
algo do espírito nova-iorquino ainda permanecia. Como pensava Camus, eu também
não conseguia manter a cabeça erguida para admirar as alturas dos prédios, mas
fotografei bastante.
A admiração de Camus pelas “mulheres na rua, o colorido
dos vestidos, dos táxis – todos com um ar de insetos endomingados, vermelhos,
amarelos, verdes”, ainda era visível. “O Cheiro de Nova York – um aroma de ferro
e de cimento – o ferro domina”, ainda era o mesmo. Já o colorido dos táxis, como se sabe, ficou
para trás.
Em Bonequinha de
luxo, filme de 1961 ambientado na Nova York da década de 50, aparecem táxis em cinco cenas. O primeiro - do qual
Holly desce em frente a uma loja da Tiffany, na 5ª Avenida - e o segundo são
amarelos com listra negra e teto vermelho. O terceiro táxi é vermelho com capô
e teto brancos. O quarto é verde e amarelo com listras em preto e branco. O
quinto é todo amarelo.
No filme baseado no romance de Truman Capote, outros táxis
aparecem na paisagem, sempre coloridos, como os carros da época. Raros eram os
táxis de uma cor só. Em 1970, uma lei municipal fez que todos os táxis fossem
amarelos, tornando famosos no cinema os chamados yellow cabs, que atualmente
são cerca de 14 mil em Manhattan, segundo dados publicados no site da Bloomberg.
Em 2013, uma nova cor de táxi passou a ser vista na
cidade, operando a partir do Bronx. A figura dos taxistas mal educados permanece,
embora menos do que nas primeiras décadas do século XX. Ao contrário, no
entanto, daquela época, hoje os veículos são limpinhos e modernos. Nada de bitucas
de cigarros sobre os bancos, ou copinhos de café no assoalho, janelas sujas,
forro nojento, chicletes grudados nos forros dos bancos. Ou seja, de lá pra cá,
Nova York ganhou em civilidade no seu mais famoso sistema de transporte.
Na volta para casa, o taxista que nos levou ao aeroporto era
bengali, e falava pelos cotovelos, numa conversa muito simpática e reclamona da
concorrência, num terrível inglês de sotaque bengali. Disse que não é só o Uber
que está tomando o mercado dos taxistas, há uma série de outros modelos,
incluindo os táxis verdes.
De quebra, o taxista arranjou um jeito de criticar também
a educação pública da cidade. “É uma bosta”, disse ele, em outras palavras,
claro. O termo pesado utilizado aqui, fui eu mesmo que arranjei, porque estou
pensando em nosso próprio sistema básico de ensino. Se o de Nova York é ruim,
imagina o nosso.
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário