quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O futuro do livro e a literatura

Hoje em dia, pipocam na imprensam dados de pesquisas que mostram que as vendas de livros estão caindo. Os supostos leitores da nova geração estão nascendo dentro das plataformas virtuais. Isso não é alento para os amantes dos livros e, principalmente, para o mercado editorial, porque as vendas dos e-books também estão caindo.

Significa que o modo de consumir informação está mudando drasticamente. A transferência de conhecimento está reivindicando uma nova tecnologia que não parece estar calcada na palavra escrita, mas numa mescla de palavras faladas com um rol de imagens numa nova plataforma, a de vídeos.

Nesse novo formato, os pensadores falam, dão exemplos, explicam, argumentam, enquanto um sistema de dados vai ilustrando as conversas, criando links com outros canais ao toque na tela. Isso ainda não é ponto pacífico, mas resistentes como Ruy Castro estarão mortos quando a mudança estiver efetivada.

O problema é que até hoje, todos os pensadores e pesquisadores vêm das gerações que leram livros. Ou seja, quem pensa é quem leu livros, quem sabe é quem leu livros, quem ensina de verdade é quem colheu palavras escritas e as assimilou. Quem serão os pensadores do futuro?

Em um texto mui arguto na edição de hoje da Folha de S. Paulo, intitulado O futuro do livro pode ser uma questão de dicionário, o jornalista Roberto Dias argumenta: “Se não for pelos livros atuais, como se dará a transmissão massificada do conhecimento? É impossível responder a isso por ora, mas parece inegável que formatos em vídeo vão ficando cada vez mais populares.”

Roberto Dias não é leviano. Ele pondera sobre as consequências dessas mudanças, abre espaço para o debate do futuro do livro. Mas ao demonstrar que o futuro do livro pode descambar para um formato que não tem nada a ver com a palavra escrita, me faz indagar sobre o futuro da literatura.

Como ficaria a literatura? Acabaria? A poesia se desprega muito facilmente do formato escrito, sobretudo porque nasceu na oralidade, quando todo mundo era analfabeto, aliás, mais do que isso, todo mundo era ágrafo (palavrinha horrorosa). Mas a prosa atual, não (à exceção dos contos de fadas). E o romance? O romance muito menos. O romance é o caçula dos gêneros literários, a menina dos olhos dos escritores de hoje. Sem palavra escrita, não há romance, há cinema.

É claro que tudo é uma questão de evolução, em meio a vendavais de involução, retrocessos e avanços, quedas e aprumos. Mas pensar num futuro sem o formato de livros tal como se conhece hoje, é pensar na própria ruína do presente ou numa passagem de bastão do passado, mais uma vez, e tudo isso é muito dolorido.


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