Passei um bom tempo lendo e ouvindo dizer que os
nova-iorquinos eram grosseiros e sem paciência com os turistas. Mas isso nem
sempre é verdade. São gentis e nos tratam com educação. Quando o ambiente é de
atendimento de massa, como em filas para os museus ou para o almoço em certos
locais, alguns são ríspidos.
Aprendi isso rapidamente. Então, formulava meu pensamento
em inglês o mais encaixado possível naquilo que eu queria dizer, ficava ligado
nas possíveis perguntas para evitar os “excuse-mes”, e tudo corria bem.
Um exemplo de adaptação ocorreu na primeira vez que pedi
um sorvete. O rapaz me perguntou: “cup or cone?”. Não entendi a frase, porque a
palavra “cone” não me era familiar numa situação dessas.
Pra mim “cone” era apenas uma forma geométrica específica,
como aqueles que se colocam no trânsito aqui no Brasil (que em inglês são
chamados de traffic cones). A palavra, portanto, não se encaixou no meu ouvido.
O que entendi foi algo mais ou menos como “capracórnio?”.
O simpático atendente não devia está perguntando meu
signo, não fazia sentido. Eu disse “excuse-me?”. Ele repetiu: “Capracórnio?”, e
eu devo ter feito cara de idiota. O rapaz então perguntou ainda em inglês de
onde eu era. Eu disse “do Brasil”, e ele
disse em português: “Acho que sei um pouco de português, morei em Belo
Horizonte. Você precisa escolher se quer o sorvete no copo ou na casquinha.”
Casquinha de sorvete (que tem um formato de cone) é cone
em inglês, aprendi. Era uma coisa óbvia, mas no estilo ovo de Colombo. Só fica
óbvio quando a gente aprende sobre a situação.
Ocorreu comigo mais ou menos o que ocorreu com duas moças
que foram ver a Copa do Mundo na França, em 1998, e não sabiam francês. Elas
precisaram ir ao banheiro. Ficaram horas tentando saber como se dizia banheiro
em francês. Não descobriram.
Fizeram todos os tipos de gestos ao pedir informação, até
conseguirem ir ao banheiro. Só depois ficaram sabendo que banheiro em francês é
toilet (que se lê ‘tualê’), palavra que existe em inglês também (com pronúncia
diferente, algo como ‘tóilit’).
Voltando à minha experiência, na segunda vez que fui pedir
sorvete pra minha filha, em outro local, eu já tinha melhorado a comunicação:
“I’ll have an ice cream, vanilla one, in that big cone, please” (apontando para
a casquinha grande). A moça me serviu, disse o preço, paguei, e pronto.
As pequenas coisas do dia a dia são muito importantes, eu
já sabia disso, e não sofri com meu tropeço na língua de Shakespeare. Não sofri
por não saber pedir um sorvete. Quis aprender mais, e aprendi.
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