Gostei mesmo de Como funciona a ficção (CosacNaify, 2011, 232 páginas, tradução de Denise Bottmann), de James Wood. Achei Wood simpático, mesmo não concordando com tudo que ele diz.
Ele sabe mais do que eu, isso é verdade, mas em alguns momentos parece se deixar levar por uma grande empolgação estética na linha de romances que prefere. O que é legítimo. Mesmo assim, ou talvez por isso, gostei.
O que me fez gostar dele, e desse livro, em particular, é essa capacidade de conversar com o leitor. Como se eu pudesse dizer “pêra aí, Jim, também não exagera!”, ou, “Pô, cara, que sacada genial!”.
Nas frases abaixo, uma aula de bolso mindin’. Aqui, Wood deixa transparecer seu interesse particular pela linguagem do romance, e argumenta com bastante sustentação a importância literária deste gênero.
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“A memória seleciona, mas não do jeito que a narrativa literária seleciona. Nossas lembranças não possuem talento estético.”
“O romancista inexperiente se prende ao estático, porque é muito mais fácil de descrever do que o móvel: o difícil é tirar as pessoas desse amálgama estagnado e movimentá-las numa cena.”
“O personagem desliza por entre nossas percepções mutáveis, como um barco se movendo por entre barragens.”
“O romance é o grande virtuose da excepcionalidade: sempre se esquiva às regras que lhe são ditadas.”
“Creio que os romances tendem a falhar não quando os personagens não são vívidos ou profundos o suficiente, e sim quando o romance em questão não nos ensina como nos adaptar a suas convenções, não desperta uma fome específica por seus personagens, por seu grau de realidade.”
“No romance, podemos ver o eu melhor do que em qualquer outra forma literária.”
“O romance nos mostrou um avanço técnico assombroso na capacidade de construir um enredo e em nos permitir enxergar a motivação psicológica.”
“A novidade é o único mérito num romance, e a curiosidade o único motivo que nos leva a lê-lo.”
Diante de Saul Bellow, “um dos maiores estilistas da prosa norte-americana (...), até autores de andar ligeiro – os Updikes, os DeLillos, os Roths – parecem pernetas.”
“Toda metáfora ou símile é uma pequena explosão de ficção dentro da ficção maior do conto ou do romance.”
“Nenhum detalhe na literatura é exclusivamente visual.”
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