“Quem for fazer o ‘exercício’ de olhar o livro de Tanussi, acaba dando com isto e, se não tiver preguiça, acaba lendo; e, se ler, acaba divergindo; se divergir, tanto melhor, algumas coisas ficarão mais claras.” ‘Isto’, a que o texto se refere, é o prefácio do livro de poemas do carioca Tanussi Cardoso, Exercício do olhar, de 2006. O autor do prefácio é o goiano Gilberto Mendonça Teles, também poeta, crítico, ensaísta e professor de literatura.
A observação acaba expondo todo o espírito do seu próprio livro, Contramargem II: Estudos de Literatura (UGC/Kelps, 2009, 532 páginas), em que Teles reúne – junto ao texto citado – uma série de resenhas, prefácios discursos, homenagens, artigos e ensaios sobre tempos e autores distintos, como Camões, Cervantes, Eça de Queirós, Mário Quintana, Machado de Assis, Alberto da Costa e Silva, Lêdo Ivo, entre outros.
O melhor de Contramargem é justamente esse cruzamento de textos que apontam perspectivas e fomentam o debate em torno do cânone, da teoria literária e da produção atual. Sobre Álvares de Azevedo, por exemplo, Teles quer acreditar que o poeta romântico tinha uma alegria definidora de sua poesia, ou seja, que o pessimismo, a tristeza e a falta de esperança são elementos presentes, mas que não configuram sua obra. Esta característica negativista, portanto, ficaria à margem daquilo que de fato é a poesia de Azevedo.
Vale lembrar que Antônio Cândido, em A formação da literatura brasileira, de 1957, embora ponha na conta do autor de Lira dos 20 anos toda a pulsão de morte e pessimismo, também chama a atenção para o lado contente de Azevedo. Segundo Cândido, os poemas da série “Spleen e Charutos” dão esse tom, de “alegria saudável, graciosa, a dosagem exata do humor.” Mas em seguida argumenta que nada é mais forte que o poeta “entregue a si mesmo”, em cujos versos se encontram a melancolia e o desencanto.
O fato é que na obra de Azevedo a tônica dominante pouca importa. O equilíbrio se faz pela essência da poesia dele. Neste caso, em seus melhores poemas, junto com a prosa de Noites na Taverna, reúnem as duas características. É só conferir. Ao fazê-lo, o leitor estará realizando a intenção de Contramargem, que é ler, divergir e se esclarecer.
Contramargem II é quase a reedição do livro publicado em 2002, com o acréscimo de 15 textos escritos a partir de 2003, além de uma entrevista. Fica, portanto, entre um segundo volume e uma segunda edição encorpada. Aos 77 anos, Gilberto Mendonça Teles já conquistou seus méritos no Brasil e no exterior, de modo que não precisa comprovar, nem provar, nada a mais ninguém. Nesse sentido, Contramargem é um deleite, ao mesmo tempo em que é oferecido ao público como diálogo, espaço de debate e aula prazerosa.
No campo do verso, vemos uma definição do poético que pode ser levada para as leituras seguintes, dando-nos uma chave para a sondagem da própria poesia de Teles e de outros: “O poema provém de um ritmo que passa pelo mais íntimo do poeta, repercute no cosmo cultural e toca, em última instância, no Logos do Criador (Deus e Homem).”
Em outra passagem, o autor lembra que os jovens poetas de hoje parecem ter perdido essa capacidade de criar o ritmo poético sem perder de vista as iluminações da linguagem, dentro das quais está o “segredo retórico do poema”, e não na obscuridade das palavras.
Sobre autobiografias, gênero que voltou a ser objeto de interesse literário do público mais amplo, Teles dá outra aula: “A narrativa autobiográfica sofre os efeitos da pátina do tempo, e o que se conta como realidade recebe a sua dose de ficção, de maneira que a realidade empírica, ao se submeter à escrita, se transforma em realidade histórica e, noutra direção, se metamorfoseia na realidade literária.” (Leia o texto completo na Tribuna do Planalto)
A observação acaba expondo todo o espírito do seu próprio livro, Contramargem II: Estudos de Literatura (UGC/Kelps, 2009, 532 páginas), em que Teles reúne – junto ao texto citado – uma série de resenhas, prefácios discursos, homenagens, artigos e ensaios sobre tempos e autores distintos, como Camões, Cervantes, Eça de Queirós, Mário Quintana, Machado de Assis, Alberto da Costa e Silva, Lêdo Ivo, entre outros.
O melhor de Contramargem é justamente esse cruzamento de textos que apontam perspectivas e fomentam o debate em torno do cânone, da teoria literária e da produção atual. Sobre Álvares de Azevedo, por exemplo, Teles quer acreditar que o poeta romântico tinha uma alegria definidora de sua poesia, ou seja, que o pessimismo, a tristeza e a falta de esperança são elementos presentes, mas que não configuram sua obra. Esta característica negativista, portanto, ficaria à margem daquilo que de fato é a poesia de Azevedo.
Vale lembrar que Antônio Cândido, em A formação da literatura brasileira, de 1957, embora ponha na conta do autor de Lira dos 20 anos toda a pulsão de morte e pessimismo, também chama a atenção para o lado contente de Azevedo. Segundo Cândido, os poemas da série “Spleen e Charutos” dão esse tom, de “alegria saudável, graciosa, a dosagem exata do humor.” Mas em seguida argumenta que nada é mais forte que o poeta “entregue a si mesmo”, em cujos versos se encontram a melancolia e o desencanto.
O fato é que na obra de Azevedo a tônica dominante pouca importa. O equilíbrio se faz pela essência da poesia dele. Neste caso, em seus melhores poemas, junto com a prosa de Noites na Taverna, reúnem as duas características. É só conferir. Ao fazê-lo, o leitor estará realizando a intenção de Contramargem, que é ler, divergir e se esclarecer.
Contramargem II é quase a reedição do livro publicado em 2002, com o acréscimo de 15 textos escritos a partir de 2003, além de uma entrevista. Fica, portanto, entre um segundo volume e uma segunda edição encorpada. Aos 77 anos, Gilberto Mendonça Teles já conquistou seus méritos no Brasil e no exterior, de modo que não precisa comprovar, nem provar, nada a mais ninguém. Nesse sentido, Contramargem é um deleite, ao mesmo tempo em que é oferecido ao público como diálogo, espaço de debate e aula prazerosa.
No campo do verso, vemos uma definição do poético que pode ser levada para as leituras seguintes, dando-nos uma chave para a sondagem da própria poesia de Teles e de outros: “O poema provém de um ritmo que passa pelo mais íntimo do poeta, repercute no cosmo cultural e toca, em última instância, no Logos do Criador (Deus e Homem).”
Em outra passagem, o autor lembra que os jovens poetas de hoje parecem ter perdido essa capacidade de criar o ritmo poético sem perder de vista as iluminações da linguagem, dentro das quais está o “segredo retórico do poema”, e não na obscuridade das palavras.
Sobre autobiografias, gênero que voltou a ser objeto de interesse literário do público mais amplo, Teles dá outra aula: “A narrativa autobiográfica sofre os efeitos da pátina do tempo, e o que se conta como realidade recebe a sua dose de ficção, de maneira que a realidade empírica, ao se submeter à escrita, se transforma em realidade histórica e, noutra direção, se metamorfoseia na realidade literária.” (Leia o texto completo na Tribuna do Planalto)
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