quarta-feira, 3 de junho de 2009

SONETO SENTIMENTAL À CIDADE DE SÃO PAULO


"Ó cidade tão lírica e tão fria!
Mercenária, que importa? – basta! importa
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia

Não te amo à luz plácida do dia
Amo-te quando a neblina te transporta
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e fugidia

Sinto como a tua íris fosforeja
Entre um poema, um riso e uma cerveja...
E que mal há se o lar onde se espera

Traz saudade de alguma Baviera
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?
"


Encontrei esse soneto em Poemas Esparsos, de Vinicius de Moraes, livro organizado pelo poeta carioca Eucanaã Ferraz, com as poesias avulsas e esquecidas do autor de Operário em construção.

Veja o efêmero belamente construído entre as rimas ‘fosforeja’, ‘cerveja’, ‘mesa’ e ‘beleza’. Destas quatro palavras, a menos vulnerável é mesa, e é ela que sustenta a leveza do álcool, a liquidez da vida, do álcool, que deixa tudo belo, até mesmo a cidade de São Paulo.

Não que ela seja sempre feia. É justamente nesse fosforejar que aparece sua beleza. Piscar o olho em São Paulo é dizer adeus ao quadro que se tinha logo antes. Se o Rio de Janeiro para Vinicius é luz do sol, Sampa é vista com o olhar noturno e boêmio do poeta.

6 comentários:

Unknown disse...

Muito lindo,Giba,também não conhecia.Espero que você esteja se readaptando bem aí.Aqui,(90 km de Bh),geada leve hoje cedinho,coisa que não se via há anos.tirei umas fotos(rs).
A propósito,você tem twitter?
Grande abraço,meu caro.

Leila Silva disse...

Desculpe mas acho que eu fiz alguma bagunça ali no SEGUIR o seu blog...acho que me inscrevi duas vezes e não estou conseguindo resolver o problema. Sorry!

Gilberto G. Pereira disse...

Obrigado, James! Aos poucos a gente se ajeita, né (rs). Enquanto você se delicia com o frio aí na sua cidade, estou me deliciando com o clima de meia estação de Goiânia (rs). Eu tenho twitter mas não atualizo. Ainda não criei ânimo de escrever periodicamente num meio tão fugaz. É muito relâmpago para minha tempestade (rs).
Grande abraço!

Gilberto G. Pereira disse...

Não tem problema. É bom que você acessa meu blog duas vezes (rs).
Um abraço!

laura caselli disse...

e tu? como vai?

Gilberto G. Pereira disse...

Vou bem.