O veneno e o antídoto da humanidade são traduzidos fielmente numa só ideia: a necessidade que temos de passar adiante qualquer informação, qualquer uma, seja boa, má, irrelevante. Não digo do poder, falo do povo, do traço mais comum do humano.
Quem está no poder ou no topo da cadeia quer mais é reter a informação, expandir cada vez mais sua influência por meio da manipulação do saber. Mas, no geral, carregamos nos genes essa intrigante missão viral de repassar o conhecimento de algo ao maior número possível de pessoas.
É por isso que a internet é tão grandiosa. Por isso mesmo os blogs, os twitters, o youtube e outras ferramentas se tornaram tão úteis e indispensáveis na mesma proporção que se veem tão maléficas e perigosas.
Alguém viu Susan Boyle cantar e emocionar os jurados do programa inglês Britain’s got talent e, já gravando tudo, imediatamente jogou na rede, arquivo que se juntou a outros iguais de outros semelhantes que pensaram e sentiram o mesmo e fizeram o mesmo a tantos que replicaram, levaram para a televisão, revistas, jornais, blogs.
Alguém quis zoar o colega ou o inimigo mais próximo (bullying) e o grampeou, o gravou, fotografou-o, filmou-o – descobrindo um segredo ou simplesmente revelando a intimidade – e o jogou na rede. Já era.
Mas, há também os que quiseram compartilhar a última informação sobre a cura de uma doença gravíssima e a internet foi um dos meios que estavam abertos à veiculação da boa nova.
Muito antes disso, no entanto, houve um primeiro homem a descobrir a maneira mais fácil de conservar o fogo e quis repassar o conhecimento aos semelhantes. Talvez não tenha sido o primeiro a descobrir essa técnica. Talvez este tenha preferido guardar para si a informação que o manteria numa posição superior. Mas há sempre, e em maior número, aqueles que querem espalhar a notícia.
Talvez por isso, com essa ciência incrustada em seu cerne, a razão humana nem inquiete o ser (numa perspectiva heideggeriana) no sentido de provocar o ódio a qualquer doença.
A humanidade simplesmente combate todas as enfermidades. As doenças provocadas por vírus são efeitos de uma ação muito semelhante ao nosso comportamento social.
Lembro-me de uma amiga que foi à minha casa, há muito tempo, para me mostrar a fita cassete (o CD estava aparecendo na época e ainda não tinha batida à minha porta) de um cantor muito engraçado.
“É legal, vamos ouvir agora”, ela insistia. Então fomos ouvir a tal fita. E escutamos a voz meio nasal cantar: “Forentina, Forentina, Forentina de Jesus, não sei se tu me amas, por que tu me seduz?”
Somos como vírus. Somos uma espécie de gripe.
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