Marco Feliciano (foto - PSC-SP), presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, acusa seus
críticos de serem membros da sociedade da desinformação. Já ele mais parece
fazer parte de uma sociedade sabedora, e bem informada, de um tipo medieval de
intolerância e má fé.
Veste-se de cristão, e com estas
vestes se sente no direito de excluir o outro, por ser negro, homossexual,
indígena, por não comungar a mesma fé (que aliás ele distorce, usando e
abusando de uma duvidosa homilética), por cultivar culturas de matrizes
diferentes das suas, por cantar melodias e usar elementos ritualísticos no
exercício da fé diferentes dos seus.
É preconceituoso, xenófobo, homofóbico,
tacanho, desagregador, megalomaníaco em cima de circo de pulga, ignorante,
desconhecedor de mil ramos da linguagem e das nuanças afetivas que servem de liga
para a vida em sociedade, um sujeito mesquinho e tapado capaz de dizer
nonsenses como este: “Até a palavra homossexual deveria ser abolida do
dicionário, já que se nasce homem ou mulher”. É um tipo raro de imbecil que
consegue ecoar bobagens voltaicas numa única sentença: “Índio nasce índio, não
tem como mudar; negro nasce negro, não tem como mudar, mas quem nasce
homossexual pode mudar.”
Ele usa uma espécie de filosofia
do desencontro, religião do desgaste para que ele, o pastor, ele, o líder de
espíritos mesquinhos ou pouco desenvolvidos, se sobressaia, crie um curral
próprio. O homem moderno não precisa disso, não deveria precisar. Mas ele ainda
encontra seu gado, suas ovelhas, um rebanho desinformado que cai na sua
ladainha.
Marco Feliciano é a infeliz
vítima de um autoengano, que quando se sente acuado, como está agora, usa de
velhos clichês para se defender, como: "Não sou homofóbico, estou sendo
mal interpretado. Peço apenas uma chance. Não fiz mal a ninguém e, se alguém
acha que fiz, que me perdoe o mal-entendido."
Está sendo mal interpretado, não.
Mal interpreta os códigos humanos. Ou pior, conduz seus guiados a mal
interpretarem os códigos humanos, a acharem que há um mundo verdadeiro, que é
uniforme e simétrico. Sente-se no direito de ofender o outro, de expurgá-lo,
usando a ferramenta democrática da liberdade de expressão, com a falsa premissa
de que se temos a liberdade de nos exprimir, então podemos falar qualquer
bobagem, podemos falar disparates como “a aids é o câncer gay”.
E quando é contestado pelos
ofendidos, se autodenomina uma vítima. A religião parece estar em crise, o que
explicaria por que tanta gente de boa fé se deixa levar por sujeitinhos
repugnantes como este senhor. Mas, sempre foi assim. O que muda são os tempos.
Para falar só de nosso quintal, a
Igreja Católica já cometeu tanta barbaridade em nome de Deus, e agora parece
ser a vez do protestantismo, mesmo nós estando em outros tempos. Ou talvez, por
não ter a mesma longevidade daquela, este ainda não alcançou suas Cruzadas, seu
direito maldito de matar, de criar uma inquisição em cada esquina. Uma lástima.
Um cristão que lê a Bíblia, e sabe tirar de lá o alimento da alma e do respeito,
não merece isso.