sexta-feira, 22 de março de 2013

Insensatez e posteridade


“Hamlet não é uma obra-prima, é uma tragédia desorganizada que não consegue harmonizar fontes diversas. Por essa razão, tornou-se enigmática e todo mundo continua a se interrogar a seu respeito. Hamlet não é uma obra-prima por suas qualidades literárias; é porque ela resiste a nossas interpretações que se tornou uma obra-prima. Às vezes basta pronunciar palavras insensatas para se passar à posteridade.” Umberto Eco

É bom lembrar que Eco disse isso numa conversa com Jean-Claude Carrière, que está na página 136 de Não contem com o fim do livro. Eco é um piadista de mão cheia. A gente morre de rir (ou seria de ira?) com ele. Eu gosto disso. Acho extremamente saudável esse tipo de aviso. Como quando Gustave Flaubert escreveu: “Que homem teria sido Balzac, se soubesse escrever!”

Ou: “O que há de mais mal construído do que tantas coisas de Rabelais, Cervantes, Molière e Hugo? Mas que murros súbitos! Quanto poder numa só palavra! Quanto a nós, é preciso empilhar pedra sobre pedra para construir nossa pirâmide que não chega a um centésimo das deles, que são feitas de um bloco só.”

Esses caras sabem muito mais do que eu (digo sabem porque para mim estão vivos. Tento dialogar com eles) e por isso, tudo que dizem eu aproveito para alguma coisa de importante. Ainda que seja para negá-los, como no caso da observação de Flaubert (tudo publicado em Cartas exemplares): “Como seríamos sábios, se se conhecessem bem somente cinco ou seis livros.” Pela construção da frase, fica claro que nem ele seguiu essa máxima. Portanto, fica apenas como lembrete de geladeira. Passemos adiante, junto com aquela observação de Rilke em Cartas a um jovem poeta.

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