Alma ausente
Não te conhece o touro nem a figueira,
nem cavalos nem formigas de tua casa.
Não te conhece a criança nem a tarde
porque morreste para sempre.
Não te conhece o dorso desta pedra,
nem o negro cetim onde te afliges.
Não te conhece a tua lembrança muda
porque morreste para sempre.
O outono virá com os seus búzios
uva de névoa e montes agrupados.
Mas ninguém desejará olhar teus olhos
porque morreste para sempre,
Porque morreste para sempre,
como todos os mortos da Terra,
como todos os mortos esquecidos
num montão de cães exterminados.
Ninguém mais te conhece. Mas eu te canto.
Eu canto para breve teu perfil, tua graça.
A madurez insigne do teu pensamento.
Tua apetência de morte e o gosto de sua boca.
A tristeza que sentiu tua intrépida alegria.
Tardará muito a nascer, se é que nasce,
um andaluz tão claro, tão rico de aventura.
Eu canto sua elegância com palavras que lamentam
e recordo uma brisa triste entre oliveiras.
Alma ausente
No te conoce el toro ni la higuera,
ni caballos ni hormigas de tu casa.
No te conoce el niño ni la tarde
porque te has muerto para siempre.
No te conoce el lomo de la piedra,
ni el raso negro donde te destrozas.
No te conoce tu recuerdo mudo
porque has muerto para siempre.
El otoño vendrá con caracolas
uva de niebla y montes agrupados.
Pero nadie querrá mirar tus ojos
porque te has muerto para siempre,
Porque te has muerto para siempre,
como todos los muertos de la Tierra,
como todos los muertos que se olvidan
en un montón de perros apagados.
No te conoce nadie. No. Pero yo te canto.
Yo canto para luego tu perfil y tu gracia.
La madurez insigne de tu conocimiento.
Tu apetencia de muerte y el gusto de su boca.
La tristeza que tuvo tu valiente alegria.
Tardará mucho tiempo en nacer, si es que nace,
un andaluz tan claro, tan rico de aventura.
Yo canto su elegancia con palabras que gimen
y recuerdo una brisa triste por los olivos.
Poema de Federico García Lorca (1935), tradução de Dora Ferreira da Silva.
O poeta escreveu uma série de poemas sobre Sanches Mejías, um dos mais admirados toureiros espanhóis, morto em 1934 pela estocada de um touro enfurecido e completamente alheio à valentia de seu oponente. O belo poema Alma ausente é o último desta série.
Agora que você já tem uma pista, leia o poema de novo e sinta a mesma coisa que sentiu o sujeito poético, ou seja, a brisa, a única coisa palpável na ausência imensa do herói morto (vide Hugo Friedrich, in: A estrutura da lírica moderna).
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