sexta-feira, 25 de setembro de 2009

IDIOTISMO

Quando tinha 30 anos de idade (2005), fui contratado para fazer uma pesquisa no Dedoc da editora Abril. Deliciei-me ao ler (em leitura dinâmica ou algo que o valha, claro) todas as edições das revistas Cláudia, NegritoCapricho, Homem, Playboy, Realidade, Veja, e outras.

Nessa ocasião, li um belo texto de Norman Mailer sobre Mohamed Ali. Li contos de Dalton Trevisan, outros de Arthur Koestler, entrevistas nas Páginas Amarelas, com Murilo Mendes, por exemplo. No entanto, nada me abalou mais do que uma tirada de humor do Millôr Fernandes, na Veja dos primeiros anos.

A frase do Millôr me veio à memória de um jeito, e depois, ao consultá-la de novo, vi que era de outro, e agora já não me lembro qual é a redação correta. Em todo caso, seguem as duas:

Rapazinho, estude depressa, porque ser burro aos 30 é ser burro à beça.

Acho que é a correta. Mas muitas vezes me peguei a citá-la como:

Estude, meu rapaz, porque ser besta aos 30 é ser besta demais.

Qualquer que seja, é devastadora. Pensei lá comigo “estudei pouco, já estou com a minha cota de 30 anos e, pronto, serei burro (ou besta) para sempre (e à beça).

Hoje, na Ilustrada da Folha de São Paulo, lendo mais um texto de Carlos Heitor Cony, escritor que admiro pela fineza de humor, me deparei com uma frase dele que corrobora à de Millôr, e me lança ao mar de infortúnios. Culpabilidades.

É uma vergonha um sujeito chegar à provecta idade e permanecer ignorando toda uma vasta zona do pensamento humano.

Estudei pouco, muito pouco. Minha culpa, minha máxima culpa.

Foram-se os anos e não aprendi alemão, nem japonês, nem árabe, nem li Kant o suficiente para entender se o imperativo categórico é um arremedo de Os sete mandatos do céu, de Confúcio ou não. Cony está na casa dos 80. Ainda tenho uns 50 anos para fazer esses estudos e diminuir minha cota de vergonha sobre a humanidade.

4 comentários:

jurisdrops disse...

Acredito que você traduziu bem uma situação que se agrava dia a dia. Para mim, faltam ainda uns trinta anos para tentar diminuir minha cota, mas cada vez mais chego à conclusão de que a máxima socrática é que continua valendo: "só sei que nada sei". Abraços.

Gilberto G. Pereira disse...

Isso mesmo, Maria. Essa é a ideia de Cony. Por meio da ironia, ele quis dizer que a busca do conhecimento é um poço sem fundo. Morrer feito uma besta é o destino de quem estuda, com exceção, talvez, dos gênios, né. A ignorância ainda é o lugar mais tranquilo da casa. Não sei se o mais seguro (rs).
Grande abraço

Minhas Caixas disse...

Giba... Gosto muito de seu blog e sempre que dá um tempinho,passo por aqui.
Lendo este post...me deu vontade de gritar essa frase..."Vai estudar e larga mão de ser besta!!"..rs..Por outro lado fui criada por uma mulher excepcioal e sábia , que acaba de fazer 90 anos, que sempre diz : "Não é bom ser muito inteligente. Seu avô, era uma inteligência e nunca soube aproveitar!!" E realmente vejo isso, são raras as pessoas que sabem fazer bom uso de sua inteligêcia. Acho que devemos procurar e buscar , a Sabedoria, essa sim , é a verdadeira benção da vida!!

Gilberto G. Pereira disse...

Adriana, gostei do seu comentário bem humorado. A inteligência precisa ser mesmo canalizada para algo produtivo, para não se perder, né, conforme intuiu a sua avó. Eu, do meu lado, vou seguir tua advertência. Vou estudar mais um pouco (rs).
Grande abraço!