Li recentemente mais um texto da crítica de literatura Leyla Perrone-Moisés sobre Leite derramado, de Chico Buarque. O primeiro está estampado na primeira página do blog de divulgação do livro. O segundo saiu na revista eletrônica Trópico. Segue abaixo um trecho, em que ela fala da descrição das atitudes de uma personagem para provar a originalidade do autor:
“A vitalidade e a espontaneidade de Matilde aparecem desde a primeira página do livro, quando ela é lembrada voltando ‘afogueada’ da praia. No decorrer da narrativa, são inúmeras as expressões felizes e originais encontradas pelo escritor para fixar seus comportamentos e sua personalidade. Matilde ‘saía da igreja como quem saísse do cinema Pathé’; cantava o Réquiem ruborizada, com ‘olhar em pingue-pongue’ e ‘um riso contido’; aproxima-se de Eulálio ‘não em linha reta, mas em parafuso, a se entreter com meio mundo à sua volta, como se estivesse numa fila se sorveteria’; ‘corava pouco a pouco até ficar bem vermelha, como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol’; entrava no mar ‘daquele jeito dela, como se pulasse corda’; saltitava na calçada ‘como se jogasse amarelinha’. Etc.”
Respeito o ponto de vista de Leyla, mas, sinceramente, não consigo ver a novidade criativa de Buarque nesse trecho. Não li o livro, não por preconceito, mas por falta de verba para estender minhas pretensões de leitura. Se tenho alguns centavos, vou querer um Georges Perec, A vida - modo de usar, que acaba de ser lançado em edição de bolso pela Companhia das Letras e que para mim é mais urgente.
A única coisa que vejo nessas citações de Leyla Perrone-Moisés é um eco da música Construção: “Beijou sua mulher como se fosse a última/ E cada filho seu como se fosse o único/ (...) Subiu a construção como se fosse máquina/ (...) Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago/ (...) Seus olhos embotados de cimento e tráfego/ (...) Sentou pra descansar como se fosse um pássaro/ E flutuou no ar como se fosse um príncipe/ E se acabou no chão feito um pacote bêbado/ Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado.”
“A vitalidade e a espontaneidade de Matilde aparecem desde a primeira página do livro, quando ela é lembrada voltando ‘afogueada’ da praia. No decorrer da narrativa, são inúmeras as expressões felizes e originais encontradas pelo escritor para fixar seus comportamentos e sua personalidade. Matilde ‘saía da igreja como quem saísse do cinema Pathé’; cantava o Réquiem ruborizada, com ‘olhar em pingue-pongue’ e ‘um riso contido’; aproxima-se de Eulálio ‘não em linha reta, mas em parafuso, a se entreter com meio mundo à sua volta, como se estivesse numa fila se sorveteria’; ‘corava pouco a pouco até ficar bem vermelha, como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol’; entrava no mar ‘daquele jeito dela, como se pulasse corda’; saltitava na calçada ‘como se jogasse amarelinha’. Etc.”
Respeito o ponto de vista de Leyla, mas, sinceramente, não consigo ver a novidade criativa de Buarque nesse trecho. Não li o livro, não por preconceito, mas por falta de verba para estender minhas pretensões de leitura. Se tenho alguns centavos, vou querer um Georges Perec, A vida - modo de usar, que acaba de ser lançado em edição de bolso pela Companhia das Letras e que para mim é mais urgente.
A única coisa que vejo nessas citações de Leyla Perrone-Moisés é um eco da música Construção: “Beijou sua mulher como se fosse a última/ E cada filho seu como se fosse o único/ (...) Subiu a construção como se fosse máquina/ (...) Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago/ (...) Seus olhos embotados de cimento e tráfego/ (...) Sentou pra descansar como se fosse um pássaro/ E flutuou no ar como se fosse um príncipe/ E se acabou no chão feito um pacote bêbado/ Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado.”
Isso, sim, me parece insuperável.
2 comentários:
Gilberto: gostei muito das sugestões e das reflexões que encontrei aqui e já me tornei sua seguidora. Leitura com perfil de "divã" foi o máximo. Abraços, Maria Teresa
Obrigado, Maria Teresa, pela visita, pelo comentário!
Grande abraço!
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