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da cantora
Bruna
Caram: Você está sempre sorrindo nas fotos. Alguma coisa te aborrece? - “Muitas! Esperar... Barulho... Preconceito... Trânsito... Michel Temer...” |
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Assessoria
Bruna Caram: “Meu maior trabalho é a divulgação, pois acredito que a música realmente muda a vida das pessoas.” |
Bruna Caram nasceu em Avaré, em 1986, interior de São Paulo, a 267 quilômetros da capital. Canta desde garotinha. Aos 20 anos, lançou seu primeiro álbum, Essa Menina, com canções marcantes que a colocaram no topo do sucesso nas rádios paulistas de MPB, como Palavras do coração (Otávio Toledo e J. C. Costa Netto).
Onze anos depois desse primeiro
lançamento, ela já é bastante conhecida no meio musical. Fez parcerias com
Chico César, Zeca Baleiro e vários outros artistas. Realizou turnês de cada
álbum pelo Brasil e fora do país (Espanha e Portugal), além de ter lançado
disco no Japão e nos EUA.
Seu quarto álbum, quase 100%
autoral, Multialma, foi lançado no
ano passado, e retrata bem o que ela se tornou ao longo da carreira. A música é
uma espécie de síntese para Bruna Caram, que toca piano, violão, cavaquinho e
estuda acordeon (sanfona), ballet clássico, interpretação e circo.
Formada em Licenciatura em
Música pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp, no câmpus da capital),
uma das melhores do país no gênero, Bruna é professora de canto e preparação
vocal para atores, em São Paulo, onde mora atualmente.
Em 2015, foi convidada para
fazer o papel da Rânia, irmã dos gêmeos Yaqub e Omar, da minissérie Dois irmãos, baseada no livro homônimo
de Milton Hatoum e dirigida por Luiz Fernando Carvalho. Por causa dessa
versatilidade, ela diz que tem uma alma cantatriz.
“Esta é minha marca: ser mais
uma espalhadora de arte do que propriamente uma cantora. Minha necessidade não
é cantar, é contar histórias. Seja lá da maneira que eu possa me comunicar,
fico feliz e realizada. Estudo ballet, circo, desenho, escrevo, quero lançar
meu próximo livro. Preciso me espalhar”, comenta.
Bruna Caram falou por e-mail com
o Leituras. Na entrevista, não
podemos ouvir sua voz límpida – capaz de tons serenos e seguros, ora em mínimos
falsetes, ora em blues sofisticadíssimos, pequenas tristezas cantadas, como que
dançando com o lado alegre da vida –, mas pelas palavras e pelo modo como ela
responde cada pergunta, podemos ver sua imensa simpatia. E pelo sorriso, sempre.
Tem cinco irmãos e uma família
gigantesca de primos (“tenho 30 primos-irmãos”). Morava com os pais, mas vivia
na barra da saia da avó materna, Maria Piedade, que era cantora na era do rádio
dos anos 1950. Seu vô Jamil Caram também era músico profissional, violonista 7
cordas.
“A casa da minha avó era uma
escola de música. O andar de cima era cheio de pianos e brincávamos de tocar
sempre, eu e meus primos”, lembra a cantora e poeta, que em 2015 lançou seu
primeiro livro de poesia, Pequena poesia
passional (resenhado aqui).
O Leituras não é especialista em música. A entrevista a seguir é
generalizada, fala da artista e do modo como ela transita pela pluralidade dos
gêneros de arte. Quem quiser ouvir sua música ou ler seu livro, acesso http://brunacaram.com.br, ou dê um pulo no Youtube.
Leituras
do Giba - Você estudou música na Unesp (câmpus da capital), uma das melhores
faculdades de música do país. Como é o curso? O que você aprendeu efetivamente,
uma vez que você já vinha de um ambiente muito musical de sua família? A
faculdade foi importante para quê?
Bruna
Caram - Sim, me
formei em Licenciatura em Música pela Unesp. Foi uma experiência extremamente
importante para mim, por muitas razões: por aprofundar meu estudo em música,
percepção, teoria, harmonia e história; conviver com outros músicos com
experiência diferente; conhecer a música erudita; usufruir do ensino público no
Brasil com todas as suas qualidades e seus problemas; conviver com artistas de
outras áreas. Foi um orgulho também ter o diploma de música, algo tão raro (ou
inexistente?) no meio das cantoras brasileiras.
Que
tipo de música você ouve com mais frequência?
Ouço música brasileira sempre.
Intercalo com o jazz, a música francesa, o hip hop, mas a MPB (e suas vertentes
de forró, samba, choro, frevo, entre outras dezenas) é minha raiz.
Dos
seus quatro discos, qual é o mais autoral, aquele em que você põe letra,
melodia, escolha de repertório, pitacos na produção?
Simples: o mais recente, Multialma, que é justamente meu
primeiro álbum autoral. As canções são todas compostas por mim com ou sem
parceiros, com exceção da faixa composta por Dominguinhos e Fausto Nilo, a
linda Além da Última Estrela.
Sua
música mais tocada nas rádios de São Paulo é Palavras do Coração (de Otávio Toledo e J. C. Costa Netto). Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor também é
bastante ouvida no Youtube. Você sente que as outras músicas trouxeram nas
costas algum peso de cobrança por sucesso midiático, ou não?
É algo que me cobro pelo simples
fato de querer que mais pessoas escutem minha música. Seja no rádio, no Youtube
ou na TV, meu maior trabalho é a divulgação, pois acredito que a música
realmente muda a vida das pessoas e gravo músicas que acredito serem poderosas,
curandeiras, necessárias. Quando gravo, acredito nisso de todo coração.
Não
me lembro de você ter vindo a Goiânia fazer show. Já veio? Quando? Se ainda
não, virá algum dia?
Ainda não fui! Gostaria muito!
Meu namorado é de Goiânia. :) Pretendo a cada turnê, e vamos trabalhando para
isto!
Tem
um vídeo no Youtube com você cantando Não
aprendi dizer adeus (sucesso com Leandro e Leonardo) e tocando sanfona
(acordeon, como você descreve em seu site). Qual é sua relação com a música
sertaneja?
Ultimamente tenho estreitado os
laços com a música sertaneja, que mexe com minha memória afetiva e minhas
raízes. Não digo o sertanejo mais moderno, mas Chitãozinho e Xororó, Zezé di
Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, duplas que bombavam quando eu era
criança. Voltei a ouvir recentemente e perceber que há letras lindas e
dramáticas, e minha alma cantatriz brasileira se alimentou disto. Também gosto
de provocar nossa noção do que é brega e o que é popular. No caso, percebo que
na música sertaneja o que há é uma passionalidade maravilhosa que acaba sendo
chamada de brega mas é muito sincera. Por isso incluí esta canção no meu show,
junto com o hino Evidências (sucesso estrondo na voz de Chitãozinho e Xororó em
1990).
Você
estreou na televisão numa minissérie incrível, baseada num romance incrível de
Milton Hatoum, Dois irmãos, e dirigida por um diretor incrível, Luiz Fernando
Carvalho. Como isso ocorreu? Qual é sua trajetória nas artes dramáticas? Que
escola de teatro você fez?
Não fiz nenhuma escola de teatro.
Fiz uma oficina com minha diretora da vida toda, a Cris Ferri, que é atriz,
prima da grande Myriam Muniz, que dirigiu Elis Regina no Falso Brilhante. Desde 2009, a Cris dirige meus shows e é minha
mestra da interpretação. Porém, o convite para a TV foi uma total surpresa.
Fiquei chocada, e fui fazer o teste em segredo, sem saber se era pra ser.
Acabei me encantando com esta nova profissão. A minissérie foi a experiência
mais linda da minha vida, e não vejo a hora de atuar mais.
Nessa
minissérie Dois irmãos, você fez uma personagem importante na trama, tanto do
romance quanto da minissérie, a Rânia, irmã dos gêmeos e fio condutor da
cartografia do desejo do narrador e dos próprios irmãos. Que orientação você
teve para fazê-la?
Tivemos uma preparação de três
meses no Projac, com leitura de texto, improvisação, aulas de dança árabe,
culinária, canto, até da língua árabe para entrar nesse universo. Nosso
diretor, Luiz Fernando Carvalho, é um mago, dirigiu as coisas mais lindas a que
assisti na TV e no cinema, e tivemos seu carinho, exigência e confiança total
para contarmos a história fantástica do Milton Hatoum. Vivemos a história
profundamente, sem dar mole, sem falsear nova, e saíamos, todos os atores e
atrizes, transformados.
Você
chegou a conversar com Carvalho sobre a construção da personagem, ou ele ficou
só na coordenação dos diretores de cena? Se conversou, como foi essa conversa?
Sempre conversamos. Luiz mostrou referências
da personagem, fotos, livros, criei uma canção para ela no piano (dele, Luiz
Fernando, que acabou sendo carregado para o quarto da Rânia para eu tocar
durante as filmagens), tudo foi muito de perto. Luiz chamava a Rânia de “a
mulher-mistério”, e fomos entendendo que ela era feita de silêncio, sombra,
nuance, dor. Milton Hatoum também esteve um dia com a gente na preparação e
contou o significado do nome da minha personagem: a domadora, o olho que tudo
vê. Nunca esqueci disso.
Você
é acostumada a lidar com artistas, afinal, é uma artista, mas foi fácil
conviver com os egos da TV?
Aprendi que essa imagem que
fazemos, dos atores intocáveis e convencidos, pelo menos num trabalho profundo
como este, é uma mentira. Fiz improvisações e leituras com Eliane Giardini, Antonio
Fagundes, Cauã Reymond, Juliana Paes, Antonio Calloni, Emilio Orciollo, Maria
Fernanda Cândido, com a maior liberdade e naturalidade. Nunca fui tratada como
uma iniciante, embora fosse iniciante. Estávamos de braços dados e alma atenta.
Eliane, Cauã e Irandhir Santos foram como irmãos, foram a rede de segurança que
me tranquilizava e encorajava.
Você
chegou a ler outros livros de Milton Hatoum? O que pensa da obra dele?
Sim, li Cinzas do Norte, depois de terminada a minissérie, e li três vezes Dois irmãos, na época. Acho-o um autor
fantástico. Delicado e forte. Dos maiores da nossa literatura!
Você
se interessa em fazer mais televisão, foi sondada, convidada para mais alguma
coisa na Globo ou em outro canal?
O que mais quero é atuar
novamente. Estou trabalhando com o preparador de elenco Sergio Penna, que faz
muito cinema e muitos trabalhos na Globo. Mensalmente, faço o curso para atores
dele como cantora e atriz da equipe. E estou atenta a novos testes e convites.
Tenho certeza de que em breve teremos felizes novidades!
E
no teatro? Com que frequência você encena peças?
Nunca fiz. Mas tenho me inscrito
em musicais que sejam voltados à MPB e ido a audições, acho que seria uma
experiência maravilhosa!
Na
sua relação com as artes dramáticas, de que modo isso vai para a música? Você
diz que o palco é “o lugar mais confortável do mundo”. No palco, você faz marcação
de cena? Interpreta? Como é? O que vai de teatro nisso?
Sempre. Trouxe desde 2009 uma
direção de teatro para meus shows porque para mim sempre foi tudo a mesma
coisa: cantar, atuar, dançar. Esta é minha marca: ser mais uma espalhadora de
arte do que propriamente uma cantora. Minha necessidade não é cantar, é contar
histórias. Seja lá da maneira que eu possa me comunicar, fico feliz e
realizada. Estudo ballet, circo, desenho, escrevo, quero lançar meu próximo
livro. Preciso me espalhar.
Do
ponto de vista da interpretação, você está mais para dionisíaca ou para
apolínia, solar?
Exatamente os dois. Sou
totalmente solar e totalmente dramática. Só vejo graça quando intercalo as duas
possibilidades, o equilíbrio e a falha, a luz e a sombra, a dor e a alegria.
De
que modo você usa a literatura no universo da música, para compor, para cantar?
Tudo é literatura. Eu não canto,
eu conto histórias. Sempre escolhi as músicas pelas suas letras. Não aceito
cantar algo em cuja letra não acredito, e se componho algo cuja letra é fraca,
jogo fora.
Como
a literatura entrou na sua vida? Foi como a música?
Desde sempre. Minha mãe me
ensinou a escrever em casa, e desde então tenho caderno pra tudo. Foi natural e
irresistível como a música.
Você
está sempre sorrindo nas fotos. Alguma coisa te aborrece?
Muitas! Esperar... Barulho...
Preconceito... Trânsito... Michel Temer...
Você
escreveu bons poemas sem pensar num livro, só depois de publicar os poemas no
Instagram é que veio a ideia do livro. E agora? Está escrevendo poesia para um
novo livro, ou escrevendo algum outro tipo de livro, um romance talvez?
Sim! Está quase pronto o próximo
de poesia. Quero que o Pequena poesia passional
seja uma trilogia.
Na
sua infância, além das artes, você se interessava por que mais?
Nada, rs! Só queria escrever,
ler e desenhar. E amava pular corda e andar a cavalo.
A
casa onde você viveu a infância era grande?
Não. Moramos sempre em
apartamentos pequenos, mas fazíamos a farra nas casas das vovós em Avaré. A
casa da minha avó materna era uma escola de música quando eu era criança, o
andar de cima era cheio de pianos e brincávamos de tocar sempre, eu e meus
primos.
Pelo
fato de seu avô ser de origem árabe (libanesa), você fala árabe?
Aprendi um pouco nas aulas, na
Globo (na época da preparação para a minissérie Dois irmãos), e fiquei muito
feliz.
Gosta
da culinária árabe?
Opa! Lá aprendemos a fazer
coalhada, kibe, kafta, babaganuch. Tudo isso eu amo. E a música libanesa me
encanta.
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