Nos últimos anos, o jornalismo tem sofrido uma gigantesca
transformação na tentativa de reconquistar seu público, uma multidão de
refugiados que buscou abrigo sobretudo na internet, atravessando o infomar das
mil e uma plataformas que coexistem na virtualidade da web, entre textos,
vídeos, imagens e sons, hipertextos em inúmeros cruzamentos. Para tanto, deixa
o velho mito da objetividade para encarar o objeto da notícia como algo que se
conecta melhor com o humano quando oferece algum tipo de emoção.
Não que a objetividade tenha ficado para trás, mas parece que os
grandes jornais brasileiros estão percebendo hoje que a interpretação do que é
ser objetivo estava equivocada. A objetividade não é uma espécie de foco no
esplendor do objeto, como se limpássemos o fato noticioso das nódoas do humano,
como se a voz do repórter fosse uma mancha no alvo tecido da notícia.
No jornalismo, objetividade não é antônimo de subjetividade, esta
sim, uma relação esplendorosa do sujeito com o objeto e consigo mesmo.
Objetividade significa precisão na informação, é dizer a notícia sem rodeios
desnecessários, mas isso não tira a possibilidade dos recursos de linguagem,
como uma boa metáfora ou relações de contiguidade. No Brasil, as grandes
revistas já faziam isso, herança do Novo Jornalismo americano, o Jornalismo
Literário (não falo dele aqui, falo de uma versão light dessa linguagem, a
diferença talvez seja de graus).
As reportagens publicadas pelo jornal O Popular (de Goiânia) na
série Ilustríssimos Anônimos, por
exemplo, são um exercício desse tipo de linguagem, que a rigor pode ser
aplicada à maioria dos textos jornalísticos. Além de não perder a objetividade,
não deixa escapar a riqueza da relação entre sujeito e objeto, e essa relação
se dá pela conectividade da emoção. Não precisa ser um texto extenso, pois
basta uma palavra (le mot juste, à Flaubert) para que um parágrafo se ilumine.
Sempre queremos nos conectar ao outro, e o modo mais profundo de
conexão é pela emoção. A arte – sobretudo aquela que lida com narrativas, como
literatura e cinema – e a publicidade sabem disso e utilizam-na a seu modo. O
jornalismo vem descobrindo isso também, buscando a empatia sem perder o foco da
informação. Na esfera da notícia, é preciso acima de tudo informar, mas se dá
para fazê-lo trazendo a notícia em uma cápsula cujo tecido é a emoção, o afeto
humano, o riso, o choro, a razão do drama, o motivo da alegria, a conjuntura do
trágico, tanto melhor, porque expõe-se aí a nervura da vida.
Todo grande jornal – de qualquer mídia – deve ter uma equipe
preparada para ir a campo buscar a informação viva, pulsante e carregada de
controvérsias que o jornalismo se encarregará de esclarecer, apurar, e entregar
a seu público retirando os excessos de contradição, mas não a emoção da vida
que pulsa nessa informação. Este pode ser o contraponto do jornalismo de
gabinete.
(Gilberto G. Pereira. Publicado originalmente em O Popular,
29/08/2015)
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