sábado, 19 de setembro de 2015

Consciência negra - duas pílulas

O poeta negro e abolicionista Luiz Gama (1830-1882), em seu poema Quem sou eu?, dizia que no Brasil quem se sentia tão branco a ponto de discriminar negros e mestiços enganava a si mesmo. “Nobres Condes e Duquesas,/ Ricas Damas e Marquesas,/ Deputados, Senadores,/ Gentis-homens, vereadores,/ Belas Damas emproadas, De nobreza empantufadas,/ Repimpados principotes,/ Orgulhosos fidalgotes,/ Frades, Bispos, Cardiais,/ Fanfarrões imperiais,/ Gentes pobres, nobres gentes,/ Em todos há meus parentes.”

Já Inácio da Catingueira, que nasceu e morreu escravo na Vila de Patos, no sertão da Paraíba, no começo do século 19, era um poeta e cantador analfabeto, mas dono de uma verve incrível que se defendia do racismo com brilho, a ponto de ser lembrado até hoje: “O senhô me chama negro/ Pensando que me acabrunha,/ O senhô de home branco/ Só tem os dente e as unha .../ Sua pele é mui queimada/ Seu cabelo é testemunha.”

Nem todo brasileiro que tisna para o marrom quer aceitar o parentesco africano. A literatura poderia mostrar a essa criatura desavisada o caminho para a liberdade da senzala moral.

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