Das gerações gregas que acreditavam em seus mitos até as atuais, muito areia desceu na ampulheta da história. Mas o cerne da importância interpretativa da mitologia continua acendendo as mentes mais despertas. O mito de Eros e Psiqué, por exemplo, ainda hoje é uma grande aula sobre o relacionamento amoroso. O deus do amor se apaixona pela princesa Psiqué (alma, em grego) ao se ferir com a própria flecha que usava para deixar as pessoas enamoradas.
Mas a única forma de ele unir-se a ela, era escondendo sua identidade divina. Levou-a para um palácio e a cercou de todas as regalias, com uma multidão de vozes atendendo até mesmo os desejos não formulados da jovem princesa. Até que um dia, as irmãs de Psiqué, por inveja, a convenceram de que ele era um monstro e por isso não se mostrava. Ela, ingênua, caiu no golpe.
Convencida de que seu marido era uma serpente terrível, o esperou dormir para matá-lo. Mas seu plano deu errado. Ao iluminar o rosto de Eros, Psiqué deparou-se com a delicada e bela face de um deus. Era tarde. O castigo contra ela seria a ausência de seu amado, e começava então “o itinerário doloroso de Psiqué”, imposto por Afrodite, a deusa da beleza e do amor, mãe de Eros.
De acordo com o professor Marcus Reis, filósofo estudioso da cultura grega, este mito sugere que há algo de velado no amor que deve ser respeitado. “Quando Psiqué cede e procura ver o rosto de seu amor, ela o perde. Talvez o mito possa nos indicar algo da necessidade de saber não só preservar, mas de ter a consciência de que nunca poderemos saber tudo, nem da outra pessoa, nem de nós mesmos”, pondera Reis.
(Gilberto G. Pereira. Texto publicado originalmente no jornal Tribuna do Planalto, in: Gregas raízes - a mitologia na contemporaneidade)
Um comentário:
O texto é ótimo, mas no último parágrafo está a essência de tudo a respeito do amor!
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