No século IV, na passagem da Antiguidade para a Idade Média, o grande medo dos romanos eram os godos, nome que traduz a ascendência de diversos povos como os alemães, os húngaros, entre tantos outros. A fronteira norte do Império Romano eram os rios Reno e Danúbio, que nasce na Alemanha próximo à fronteira com a França e a Suíça, e desemboca no Mar Negro, acima da atual Turquia.
Vivendo do lado de lá do Danúbio, havia um ou dois séculos que os godos, bárbaros para os romanos, experimentavam um doloroso processo de imigração, muito pior e mais humilhante do que este que se vê (que já é o mais absurdo dos mundos) no grande Império do momento, os Estados Unidos.
Era entre os godos que os romanos recrutavam os melhores soldados. Além disso, muitos godos atravessavam o rio em busca de oportunidade, tornando-se camponeses, e havia também aqueles que travavam lutas homéricas, saqueavam, matavam aldeões do Império, roubavam e, em represália, o exército romano os dominava e fazia deles escravos.
Muitas vezes, como desculpa de possíveis ataques, os romanos também atravessavam o rio e arrebentavam com tudo do lado de lá, trazendo gente para o lado de cá como escravos e recrutas. Os ataques, de um lado e de outro, ficavam cada vez mais constantes, e este era o grande motivo do medo.
De acordo com o livro O dia dos bárbaros - 9 de agosto de 378 (Estação Liberdade, 2010, 226 páginas, tradução de Maria Cecilia Casini), do historiador italiano Alessandro Barbero, a violência era a moeda corrente na conflituosa relação entre os dois mundos.
“Passado apenas um breve período de sua última derrota, eles [os godos] de novo criavam coragem, entravam em território romano, atacavam fazendas, roubavam os escravos e o botim; os imperadores então precisavam intervir, organizando expedições punitivas. Então eram os romanos que avançavam no país inimigo, queimavam aldeias, chacinavam mulheres e crianças, roubavam gado, destruíam colheitas; até que os chefes das tribos viessem, de joelhos, pedir piedade.”
“Os oficiais encarregados do recrutamento rondavam os acampamentos dos bárbaros derrotados e humilhados, selecionavam os jovens mais fortes, levavam-nos embora; eles então eram marcados a fogo e reeducados, eram disciplinados e se tornavam soldados romanos.”
O livro de Barbero conta como essa convivência belicosa, ao longo de alguns séculos, chegou à entrada de dezenas de milhares de godos, permitida pelo imperador do Oriente da época, Valente, tendo em seguida uma espécie de estouro da boiada, que culminou na Batalha de Adrianópolis, em 9 de agosto de 378.
Nesse batalha o valente imperador morreu a ponta de espadas e flechas daqueles que eles, romanos, chamavam de bárbaros. Depois disso, apesar de várias vitórias dos soldados romanos em outros confrontos, não mais houve controle de fato, e tudo foi sendo posto por água baixo, até a derrocada completa do Império Romano do Ocidente e a total invasão bárbara.
Serviço
Título: O dia dos bárbaros - 9 de agosto de 378
Autor: Alessandro Barbero
Editora: Estação Liberdade, 2010, 226 páginas
Gênero: História
Preço: R$ 43,00
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