Wilson Bueno (1949 - 2010)
Aos 61 anos de idade, o escritor paranaense Wilson Bueno foi encontrado morto em sua casa, em Curitiba, na noite de segunda-feira, 31. Passei um tempo querendo entrevistá-lo, e sempre adiava. Agora, o adiamento se estende à eternidade.
Um de seus livros mais expressivos, do ponto de vista literário, é o romance Meu tio Roseno, a cavalo, de 2000. Ali, Bueno cria uma espécie de geografia poética do interior do Paraná, à medida que o cavalo avança. O narrador, sobrinho de Roseno, conforme diz o título, descreve num plano a aventura do herói na volta para casa a fim de ver sua filha nascer, e em outro plano, narra as atrocidades de uma guerra fictícia, a Guerra do Paranavaí, que pode ser a sangrenta Revolta do Contestado, embora as datas não coincidam.
Roseno tinha de chegar a Ribeirão do Pinhal a tempo de assistir ao nascimento da filha, Andradazil. Ele então viaja 50 léguas e meia em sete dias.
Em homenagem a Bueno, eis aqui uma pequena mostra de sua lavra:
“Com o entardecer que faz sobre a cabeça, mais um motivo para compreender tudo, e o que este céu tem para dizer, agora que imensas as nuvens se estiram, dourado-velhas, chumaços coral e âmbar, aqui ali desmaiando num quase lilás ou ascendendo às tintas de roxo supremo, transgressor.”
“E foi como que sob o segundo entrecéu desta história trotada no vento, cavalo e cavaleiro, a lagoa e o grasnar de seus batráquios, e todo o universo ainda antes de Andradazil, florestas e árvores, capim e água, cruzes e ossos a Xuguari e o Gruxal, como que ao segundo entrecéu desta lenda molhada de rios, tocado pelo movimento das nuvens e da lua, oblíquo e suspenso debaixo do firmamento, o mundo inteiro andasse.”
No valoroso romance Chá das cinco com o vampiro, de Miguel Sanches Neto, em que o autor cria personagens com características de escritores paranaenses, Bueno aparece como Uílcon Branco, um escritor de comportamento pouco elogiável e dono de uma literatura ausente de verdade. Sanches Neto, que é do interior do Paraná, assim como Bueno, embora de cidades diferentes, não quis ou não soube reconhecer o valor literário de seu conterrâneo.
Entre seus livros também estão A copista de Kafka, Amar-te a ti nem sei se com carícias, Cachorros do céu, e um livrinho de tankas (gênero de poesia japonesa) chamado Pincéis de Kyoto, que eu ainda estou sorvendo como quem bebe um cálice do mais precioso vinho.
Aos 61 anos de idade, o escritor paranaense Wilson Bueno foi encontrado morto em sua casa, em Curitiba, na noite de segunda-feira, 31. Passei um tempo querendo entrevistá-lo, e sempre adiava. Agora, o adiamento se estende à eternidade.
Um de seus livros mais expressivos, do ponto de vista literário, é o romance Meu tio Roseno, a cavalo, de 2000. Ali, Bueno cria uma espécie de geografia poética do interior do Paraná, à medida que o cavalo avança. O narrador, sobrinho de Roseno, conforme diz o título, descreve num plano a aventura do herói na volta para casa a fim de ver sua filha nascer, e em outro plano, narra as atrocidades de uma guerra fictícia, a Guerra do Paranavaí, que pode ser a sangrenta Revolta do Contestado, embora as datas não coincidam.
Roseno tinha de chegar a Ribeirão do Pinhal a tempo de assistir ao nascimento da filha, Andradazil. Ele então viaja 50 léguas e meia em sete dias.
Em homenagem a Bueno, eis aqui uma pequena mostra de sua lavra:
“Com o entardecer que faz sobre a cabeça, mais um motivo para compreender tudo, e o que este céu tem para dizer, agora que imensas as nuvens se estiram, dourado-velhas, chumaços coral e âmbar, aqui ali desmaiando num quase lilás ou ascendendo às tintas de roxo supremo, transgressor.”
“E foi como que sob o segundo entrecéu desta história trotada no vento, cavalo e cavaleiro, a lagoa e o grasnar de seus batráquios, e todo o universo ainda antes de Andradazil, florestas e árvores, capim e água, cruzes e ossos a Xuguari e o Gruxal, como que ao segundo entrecéu desta lenda molhada de rios, tocado pelo movimento das nuvens e da lua, oblíquo e suspenso debaixo do firmamento, o mundo inteiro andasse.”
No valoroso romance Chá das cinco com o vampiro, de Miguel Sanches Neto, em que o autor cria personagens com características de escritores paranaenses, Bueno aparece como Uílcon Branco, um escritor de comportamento pouco elogiável e dono de uma literatura ausente de verdade. Sanches Neto, que é do interior do Paraná, assim como Bueno, embora de cidades diferentes, não quis ou não soube reconhecer o valor literário de seu conterrâneo.
Entre seus livros também estão A copista de Kafka, Amar-te a ti nem sei se com carícias, Cachorros do céu, e um livrinho de tankas (gênero de poesia japonesa) chamado Pincéis de Kyoto, que eu ainda estou sorvendo como quem bebe um cálice do mais precioso vinho.
4 comentários:
Comecei um contato com Wilson Bueno há alguns meses e esta notícia me deixa muito triste.
A notícia também me entristece. Embora eu não o conhecesse pessoalmente, como autor, acho que é uma perda importante.
Eu não conheço a obra dele ainda, mas sei que é um escritor importante e que eu devia tratar de conhecer. Uma lástima essa violência.
Abraço
Oi, Leila! Pois é. Uma tragédia curitibana. Nada justifica a estupidez de matar. Você, que é versátil e leitora de obras universais, provavelmente vai gostar de ler Meu tio Roseno. Não gosttei de A copista de Kafka, mas também não passei do segndo conto, deixei de lado. Mesmo assim, Bueno era um escritor de primeira linha. Era meio marrento, é verdade, mas nada tira-lhe o brilho. Nem mesmo a morte, creio. Haverá sempre alguém que tropeçará em um de seus livros e saberá apreciar.
Grande abraço, Leila!
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