― Mestre, por que os mexicanos têm na bandeira nacional uma águia carregando uma cobra? No palco da Copa do Mundo, lá estão eles, orgulhosos e felizes, bonito de ver.
“Segundo a Lenda – que no mundo da magia tem mais autoridade que a História – no ano de 1325 da Era Cristã andava uma tribo asteca, os méxicas, a errar pelo altiplano, em busca dum sítio para fixar-se, quando um dia Huitzilopochtli, o Deus da Guerra, apareceu ao Grande Sacerdote e ordenou-lhe que continuasse a caminhar com seu povo até encontrar uma águia empoleirada num Nepal, tendo nas garras e no bico uma serpente, pois nesse lugar deviam erguer uma cidade.
“Continuaram os méxicas sua peregrinação e um longo vale a cuja entrada se erguem os vulcões Popocatépetle e Ixtaccihuatl encontraram um cacto, a águia e a serpente, bem como havia predito a severa divindade. Numa ilha em meio do lago Texcoco, que cobria a parte central do vale, (isto já começa a ser História) ergueram os astecas suas primeiras cabanas de barro de barro e junco, dando à povoação o nome de Tenochtitlán.
“Só em fins do século XIV é que construíram as primeiras casas de pedra e as pirâmides, ou teocallis, destinadas aos sacrifícios. Entre a fundação de Tenochtitlán e a chegada de Hernán Cortés, mediaram duzentos anos, durante os quais a tribo méxica cresceu em número, poder e glória.
“Resolveu-se o problema de espaço vital com a construção de vastas jangadas – chinampas – que eram ancoradas ao redor da ilha principal. Nessas jangadas recobertas de terra, plantaram-se árvores e grama. O tempo encarregou-se do resto.
“Os sedimentos acumulados debaixo das chinampas e as raízes de suas árvores, que se aprofundavam penetrando no leito do lago, acabaram por transformar essas jangadas em pequenas ilhas.” (Erico Verissimo, in: México. Editora Globo, 11ª ed., 304 páginas, pp. 34-5, 1996)
― Mas, Mestre, e Zaratustra, de Nietzsche, que se exila no topo de uma montanha, também com uma águia e uma serpente, por que ele faz isso?
“Eu sei lá! Não escrevi nada a respeito.”
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