“Só escrevo para mim mesmo e para o meu prazer.” Apesar dessa confissão egoísta, o escritor J. D. Salinger deu ao mundo pop um livro valioso, O apanhador no campo de centeio, em que imortalizou o enjoadinho, irascível e sensível personagem adolescente Holden Caufield. Muita gente sentiu prazer e estranhamento lendo esse romance que influenciou mais gerações do que deveria.
Salinger publicou O apanhador no campo de centeio ainda jovem, aos 32, em 1951. Li o livro na casa dos vinte anos, com uma carga de leitura que não me permitiu apreciá-lo tanto, reconhecendo, no entanto, a razão estética de ele existir. O título do livro em inglês é The catcher in the rye. Mais tarde, Charles Bukowski, em 1982, viria a publicar Misto-quente, que em português não revela nada de alusivo, mas em inglês, Ham on rye, sim. Sou mais Bukowski, que era mais John Fante.
Agora, aos 91 anos, o recluso Salinger vem a falecer. Parte para uma reclusão particular ao extremo, a morte. O apanhador no campo de centeio vai continuar conquistando muitos. Eu, do meu lado, continuo achando Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo, mais interessante.
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5 comentários:
Palmas para nosso Veríssimo, Gilberto. Concordo com você!
Abraço,
MTeresa
Não, é!
Abç!
Olha, eu li The catcher in the rye com uns 34 anos e gostei muito, não posso comparar com o Veríssimo pq este eu li quando adolescente, precisaria reler.
E de Salinger gostei (talvez mais ainda que The catcher in the rye)de Franny and Zooey e Nine Stories.
Mas ri mesmo do adjetivo que você usou 'enjoadinho'.
Abraço
Erico "O Veríssimo", foi, de facto, um escritor maior. Clarissa é uma obra primus inter pares. Este livro parece-me ser o mais geminável com "Uma agulha no Palheiro", dado que também faz uma incursão pela adolescência. No entanto, a temática esgota a equiparação. O que Clarissa tem de tocante, de ascensão; tem "Uma agulha" de pertinência, e de sagacidade. Salinger, num tempo próprio, não vendeu (mais) a sua alma. Bill Waterson fez o mesmo. Não é, apesar de egoísta, nobre esse gesto?
Constança de Portugal
Constança, obrigado pelo comentário! Tenho consciência do valor estético de O apanhador, e de como Salinger conseguiu retratar a angústia de uma classe média em ascensão nos EUA (Philip Roth inclusive vai mais fundo nessa questão, em Pastoral Americana, mostrando o auge desse sentimento, décadas depois). Mas como não li nenhum outro livro de Salinger, o que me marcou foi essa sensação de revolta e náusea do personagem, que também poderia ser dele, autor, justamente por causa da reclusão e do egoísmo acusado no discurso, né, enfim.
Quanto ao comentário da Leila, é interessante você falar, Leila, das idades que você tinha na leitura dos respectivos livros, porque comigo também se deu algo semelhante. Li O apanhador na casa dos 20 e Olhai os lírios, na faixa dos 16, quando estava começando a me interessar pela literatura. Fiz um processo diferente de muitos, comecei com Dostoivski, Skaespeare e Poe, numa coleção popular. Mas, talvez por isso eu tenha gostado mais de Verissimo, porque, escrito em 1938 também retratava uma atmosfera semelhante, embora a Constança lembra outras obras agora dos mesmos autores que dariam um parâmetro melhor de comparação. Mas aqui neste blog tudo é escrito por impulso mesmo. Vou aprendendo, tomando rumo, com comentários assim, porque é uma espécie de diálogo, né. Grande abraço a vocês duas.
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