quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Teoria da cócega – ou coçando o cocuruto


Há uma teoria segundo a qual as músicas mais enjoativas, aquelas do tipo You’re beautiful, de James Blunt (às quais, diga-se de passagem, sou muito suscetível, tenho profunda compaixão pela cultura pop), são as que mais grudam no cérebro da gente. Permanecem como cócegas em áreas do cérebro muito sensíveis, que não me recordo agora quais sejam.

Acontece que essa teoria também serve para preocupações dentro do seleto grupo da crítica de arte dita séria e profunda. Agora mesmo, uma trupe de italianos (do Comitê Nacional para a Valorização dos Bens Históricos, Culturais e Ambientais da Itália) quer exumar o corpo (os restos, os finos ossos, sei lá) de Leonardo da Vinci, só para reconstruir a face do artista e tirar a prova dos nove se é ou não o traço de seu rosto estampado no quadro Monalisa (Leia).

Essa ideia fixa na identidade do modelo são ou não cócegas no cérebro? Que diferença poderia fazer? Se já se soubesse isso de antemão, o quadro teria deixado de ser enigmático? O sorriso de Monalisa teria mudado de ângulo? Teria deixado de ser oblíquo, enviesado? E se o rosto for uma abstração, uma figura retirada das profundezas da imaginação do gênio? Pura criação? Elevam Da Vinci ao mais alto grau da genialidade, mas não dão ao rapaz o direito de ser imaginativo a ponto de criar uma Monalisa sem cópia natural. Ainda bem que a essa altura, o pintor já não tem mais saco.

2 comentários:

Priscila Lopes disse...

hahahahahahahhahahahah
Cara, que ótimo! Você escreve muito bem, conduz, e tem um senso de humor...!

Gilberto G. Pereira disse...

Obrigado, Priscila, pela visita e pelo comentário! Abç!