quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A REPRESENTAÇÃO DISTANCIADA: uma entrevista com Cristóvão Tezza

Foto: Divulgação
Tezza: autor de livros cmo O filho eterno e O fotógrafo


O escritor catarinense, radicado em Curitiba, Cristóvão Tezza foi entrevistado por Luciana Lana Ramos, na revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa. O pingue-pongue traz uma conversa interessante, com destaque para a visão de Tezza sobre literatura e o fazer literário.

Segundo ele, “escrever não é catarse nem derramamento emocional. É uma representação distanciada.” Vale a pena conferir. Segue abaixo um trecho da entrevista, e para quem quiser ler o texto completo, clique aqui.


CP Língua Portuguesa - Como você avalia a literatura brasileira contemporânea?

Tezza - A literatura brasileira vem crescendo muito, depois de um certo interregno de silêncio, ou pelo menos pouca ressonância, que aconteceu ao longo dos anos 1980 e primeira metade da década seguinte. Nos últimos anos, a literatura brasileira começou a circular muito mais, a encontrar leitores, a ser valorizada por um conjunto de prêmios e concursos de grande repercussão e a receber uma boa atenção das editoras. Eu acho que a Internet vem desempenhando um papel excepcional nessa revalorização.

CPLP - Em que medida está a ficção no texto de O Filho Eterno (há nomes, personagens, locais fictícios)?

Tezza - A ficção não está na correspondência ou não de nomes ou fatos com a chamada "realidade", mas no modo de se apropriar da linguagem, no impulso narrativo. Eu dei a um arcabouço de eixos reais - o nascimento de meu filho, a minha geração, a minha cidade, meus sonhos, um espaço geográfico concreto - uma percepção ficcional, isto é, um texto que avança sem o compromisso da objetividade factual (que é a base imprescindível da biografia), mas ao sabor de um narrador subjetivo que está a serviço de uma estrutura romanesca. Capítulos se sucedem pela lógica da ficção, os tempos se fundem em nome da unidade do romance, os fatos são cuidadosamente selecionados em função da moldura ficcional etc. No romance, a vida se concentra em duzentas páginas e ganha um sentido ficcional, uma lógica interna, que está completamente ausente da nossa vida real, que é um evento aberto, fragmentário e em grande parte caótico.

CPLP - Em relação aos prêmios, há algum aspecto, em especial, a que você atribua tamanho reconhecimento?

Tezza - Não sei. Todo mundo está me fazendo essa pergunta. De tal modo que, num momento, quase comecei a me sentir culpado pelo fato de o livro estar fazendo esse sucesso de crítica e de leitores... Vendo friamente, há algumas coisas óbvias para se considerar: não sou um escritor estreante, tenho uma obra sólida e reconhecida há vários anos e já ganhei outros prêmios importantes com outros livros. Não há milagre em literatura. Aliás, não há milagre em lugar nenhum.

CPLP - Como professor de língua portuguesa, qual a lição maior que você tem a dar sobre o valor dessa língua?

Tezza - Somos definidos pela linguagem e, no universo das variedades que compõem esse mundo linguístico e político chamado "língua portuguesa", a língua padrão, que a escrita representa, tem a função de nos colocar no mundo da História e da civilização. A escrita é a mais ampla porta que se pode abrir para o mundo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

MITOLOGIA GREGA III: o herói no caminho do humano



No terceiro e último volume da trilogia de Junito de Souza Brandão, Mitologia Grega (Vozes, 2009, 15ª ed.), caímos na malha inescapável da mitologia, em que nos são narrados os mitos do herói grego. Nessas narrativas, dependendo de como as lemos, nos deparamos com situações típicas de nossa própria caminhada.

É o que diz Nairo de Souza Vargas, psiquiatra, analista junguiano e membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, no prefácio desse terceiro volume. “Sempre que algo novo e transformador vai ser implantado em nossa consciência pessoal e coletiva algum dinamismo heroico deverá estar ativado.”

A condição humana, correndo nas veias desses heróis, é analisada com rigor por Brandão. Misto de deus e mortal, o herói carrega as qualidades mais contraditórias no escopo de sua alma, da covardia à bravura, da mesquinhez à nobreza de sentimentos.

Razão louca

Vemos isso, por exemplo, no mito dos Argonautas, em que Jasão lidera uma expedição em busca do velocino de ouro e conhece Medeia. Ela se apaixona por nosso herói, ajuda-o a vencer as tarefas que lhe darão o direito de levar o velocino de ouro, mata muita gente, para depois ser abandonada por ele.

E Medeia então acomete-se de uma espécie de loucura sã, em que, consciente do horror que vai cometer, mesmo sofrendo, ainda assim mata os filhos para se vingar de Jasão.

Trabalhos de amor perdidos

Essa situação de amor e abandono também vemos no mito de Teseu, em que o herói vai a Creta com a tarefa de livrar Atenas do fardo de sacrificar todo ano 14 jovens que servem de alimentos ao minotauro, que está preso num labirinto, feito por Dédalo a pedido de Minos, rei de Creta.

É bom lembrar que quando Dédalo terminou de construir o labirinto, onde se instauraria o monstro, metade touro e metade homem, ele mesmo não conseguiu achar a saída.

Acompanhado de seu filho, Ícaro, construiu asas de cera e os dois saíram do labirinto voando. Ícaro, jovem e impulsivo, voou mais alto do que deveria, aproximando-se demais do sol, teve suas asas derretidas e caiu ao chão. A consequência desse ato irresponsável e juvenil, claro, foi a morte.

Quando Teseu chegou a Creta conheceu Ariadne, a mais bela filha de Minos, e os dois se apaixonaram. Ariadne sabia que Teseu não sairia do labirinto vivo e temeu pelo seu amor. Deu a Teseu um novelo de fios, que o herói ia desenrolando à medida que adentrava o labirinto. Após matar o touro, ele seguiu o caminho dos fios até encontrar a saída.

Teseu havia prometido a Ariadne que a levaria com ele, e a levou. Mas só até um trecho da viagem. Na ilha de Naxos, Ariadne foi abandonada por seu amor. Nesse rico mito analisado por Brandão figura o aspecto sombrio do homem e as ações do inconsciente.

Mas Teseu, herói que foi, deixou heranças míticas positivas e muito fortes na Grécia antiga. Ele herdou Atenas de seu pai, Egeu (que ao pensar erroneamente que o filho havia sido morto pelo Minotauro, se jogou no mar, que levou seu nome). Como rei de Atenas, Teseu promulgou leis, adotou o uso da moeda e, junto com outros atos, fundou os preceitos da democracia grega.

A morte enganada

Como já disse, em Mitologia Grega III há um desfile de mitos sobre as atitudes dos heróis. Entre eles também estão os mitos de Perseu e Medusa, Belerofonte e a luta contra a Quimera, Heracles (Hércules), Édipo, Ulisses e Clitemnestra. Todos esses mitos se entrelaçam de alguma forma, e por isso vale a pena ler, pôr na cabeceira essa bíblia pagã. Mas fecho o comentário deste último volume com a lembrança de Sísifo.

Quando eu era criança meu pai me contou várias vezes a história de um homem que quis enganar a morte. Segundo seu relato, ao chegar a hora de a morte levar o tal homem, ele pediu clemência, disse que ainda precisava gozar a vida, que ainda não tinha dado tempo de sentir as delícias do mundo, e a morte aceitou o argumento.

Mas marcou outro dia determinado em que voltaria para levá-lo, e dessa vez não haveria choro, nem preces. Foi nesse dia marcado que o homem resolveu driblar a morte. Raspou a cabeça, fez a barba por completo e foi brincar de roda com uma leva de crianças, próximo ao local do encontro. Pediu que dissessem à morte que ele havia viajado para bem longe e que não sabiam da data de retorno.

A morte chegou, perguntou por ele e lhe disseram: “Olha, ele viajou para bem longe e não sabemos quando volta.” E a morte, sem perder tempo, disse: “Tudo bem. No lugar dele, vou levar aquela criança de ‘cabeça raspada’ que está brincando de roda ali.”

Desde que li sobre o mito de Sífiso e sua alta capacidade de mentir, enganar e roubar, essa história contada por meu pai me vem à mente. Tenho quase certeza de que é sobre Sísifo, embora meu pai mesmo tivesse estudado apenas 30 dias e, certamente, não sabia mitologia grega (aprendeu isso por outras fontes). E como ele já morreu, nunca saberei de onde tirou esse conto.

Mas é Sísifo, ou parente próximo, de alguma mitologia coirmã. Não é por menos. Sísifo enganou a morte duas vezes. É o único autor de tal façanha na mitologia grega. Sísifo foi rei de Corinto e faz parte da lista inumerável dos personagens mitológicos, mas não tem um mito central.

Mesmo assim, ou talvez por isso, era o personagem preferido de Albert Camus, pela esperteza, sem dúvida, mas também pela capacidade de resistir aos tempos difíceis, pelo imenso potencial humano.

Ao ser condenado pelos deuses, no Hades, a levantar uma pedra até o topo da montanha para vê-la cair e ter de ir buscá-la e levantá-la de novo, ad eternum, foi condenado em razão desse triunfo sobre a morte. Camus achava que Sísifo subia a pedra com absoluta indiferença, sem jamais se diminuir, sem nunca curvar-se diante dos deuses, cumprindo à risca seu fardo pesado.

Para Camus, a humanidade carrega um fardo parecido, ininterruptamente, como se os genes fossem a pedra dada por Zeus, como se a vida mesma fosse uma montanha de incessantes e inúteis viagens. E hoje, cada vez mais, vemos o homem num esforço brutal para enganar a morte, utilizando-se de técnicas cada vez mais sofisticadas, mas em vão.


Trecho

Sísifo, o mais solerte e audacioso dos mortais, conseguiu por duas vezes livrar-se da morte. Quando Zeus raptou Egina, filha do rio Asopo, foi visto por Sísifo, que, em troca de uma fonte concedida pelo deus-rio, contou-lhe que o raptor da filha fora o Olímpico. Este, imediatamente, enviou-lhe Tânatos, mas o astuto Sísifo enleou-o de tal maneira, que conseguiu encadeá-lo. Como não morresse mais ninguém, e o rico e sombrio reino de Hades estivesse se empobrecendo, a uma queixa de Plutão, Zeus interveio e libertou Tânatos, cuja primeira vítima foi Sísifo. O solerte rei de Corinto, no entanto, antes de morrer, pediu à mulher que não lhe prestasse as devidas honras fúnebres. Chegando ao Hades sem o ‘revestimento’ habitual, isto é, sem ser um eidolon, Plutão perguntou-lhe o motivo de tamanho sacrilégio. O esperto filho de Éolo mentirosamente culpou a esposa de impiedade e, à força de súplicas, conseguiu permissão para voltar rapidamente à terra, a fim de castigar severamente a companheira.

Uma vez em seu reino, o rei de Corinto não mais se preocupou em cumprir a palavra empenhada com Plutão e deixou-se ficar, vivendo até avançada idade. Um dia, porém, Tânatos veio buscá-lo em definitivo e os deuses o castigaram impiedosamente, condenando-o a rolar um bloco de pedra montanha acima. Mal chegando ao cume, o bloco rola montanha abaixo, puxado por seu próprio peso. Sísifo recomeça a tarefa, que há de durar para sempre.

Leia também:

MITOLOGIA GREGA I: do Caos a Zeus

MITOLOGIA GREGA II: os principais mitos
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terça-feira, 11 de agosto de 2009

MITOLOGIA GREGA II: os principais mitos



O segundo volume de Mitologia Grega, de Junito de Souza Brandão (Vozes, 2009, 18ª edição), é o mais cativante dos três, o mais embevecido em termos de histórias míticas. É aqui que o leitor encontra a narração e a análise dos principais mitos gregos.

Apolo e sua irmã Ártemis. Narciso e a ninfa Eco. Dioniso e sua trajetória errante, entusiástica, trágica e vencedora. Orfeu e Eurídice. Hermes e a capacidade genial de confundir e criar, como quando inventou a primeira lira, sua criação visceral que fez canalizar a música como expressão máxima do espírito.

Hermes, “o menos olímpico dos imortais”, por ser próximo demais dos homens, como Dioniso, como Prometeu. Hermes, que amou Afrodite, a deusa da beleza, a mãe do amor.

Na leitura desse volume, veremos o quanto é comovente a paixão irrefreável da ninfa Eco por Narciso, o mais belo jovem mortal que despertava amor em todos que o vissem, mas que não podia ver a si mesmo, sob pena de cair de encantos pela própria imagem.

Um dia, Eco, que havia sido condenada por Hera a sempre repetir as últimas sílabas dos outros, aproximou-se de Narciso. Este a ignorou, o que a fez definhar de amor até a morte, deixando nos bosques apenas sua voz repetidora da fala alheia, perpetuando o eco que até hoje nos acompanha.

Um deus que sabe dançar

Outro mito central na história da Grécia é o de Dioniso, deus do vinho, do êxtase e do entusiasmo, envolto às sensações voluptuosas da carne e ao arrebatamento da alma, beirando sempre a loucura e a exclusão da vida normativa, da vida comezinha do Olimpo, da vida social grega, cortesã, cheia de mesuras e medidas da Grécia mítica.

Dioniso nasceu duas vezes. No primeiro parto, foi filho de Perséfone com Zeus, que era pai da bela deusa, filha de Deméter (Ceres). Do enlace incestuoso nasceu Dioniso, um deus garoto genial, sabedor de todas as coisas, que seria preparado para a sucessão de Zeus.

Mas Hera não gostou do que viu. A mando dela, os titãs mataram Dioniso – entre aspas, porque um deus nunca morre (veja Cristo) – e o cozinharam, comendo-o todo. Só o coração do deus em frêmito foi salvo por Zeus, que o engoliu e depois fecundou a princesa Sêmele.

Ciente de que não havia acabado, Hera manteve a implacável perseguição a Dioniso, fazendo com que Sêmele, ainda grávida do pequeno deus, pedisse ao amante que se mostrasse em todo seu esplendor de imortal.

E Zeus, não podendo dissuadi-la do pedido, apresentou-lhe como o todo poderoso do Olimpo, cuja epifania, entre raios e trovões, causou o mais furioso dos incêndios no palácio onde morava Sêmele, matando-a. Só deu tempo de salvar Dioniso, que terminou de ser gerado na cocha de Zeus e depois nasceu pela segunda vez.

Ainda por causa da perseguição de Hera, o pequeno deus metamorfoseou-se de bode para ser levado por Hermes ao o monte Nisa, onde foi criado pelas Ninfas e pelos Sátiros, que se tornaram seus seguidores. Foi nesse local que Dioniso, ainda garoto, criou o vinho e tomou o primeiro porre, junto aos mortais, caindo na dança ao som dos címbalos, enchendo-se de êxtase e de entusiasmo.

Quando Nietzsche disse “um deus dança dentro de mim”, em Assim Falou Zaratustra, ou algo como “só aceitaria um deus que soubesse dançar”, ele pensava em Dioniso, seu deus-modelo, sua preferência mitológica. Dioniso criou o teatro – embora Apolo é que tenha moldado o trágico no imaginário grego – e libertou o espírito humano. Dioniso é um deus liberto das amarras divinas, um deus muito próximo do povo. Dioniso, o deus da metamorfose.

Alma minha gentil

Como fechamento do volume, há o mito de Eros e Psiqué, uma bela história de provações e de conquista. Segundo o mito, Eros, deus do amor, se apaixona por Psiqué (alma, em grego) ao se ferir com a própria flecha que usava para deixar as pessoas enamoradas.

Os dias se passaram, até que o oráculo revelou aos pais de Psiqué que ela teria de ser sacrificada. A jovem filha foi jogada penhasco abaixo, conforme a sugestão do oráculo. A família chorou sua morte, as irmãs ficaram desoladas. Mas Eros havia pedido ao vento Zéfiro (Hermes) que transportasse Psiqué para “um vale macio e florido”, que era a morada do Amor.

De acordo com o mito, Psiqué, ao chegar, andou por todo o palácio, onde era servida por uma multidão de vozes que atendiam até mesmo os desejos não formulados da jovem princesa. Já na primeira noite, Eros visitou Psiqué e fez dela sua mulher. Mas antes de o sol nascer, ele desapareceu misteriosamente. Todas as noites era a mesma coisa. Eros não mostrava seu rosto. Encantada com a vida que tinha, Psiqué não se importava com aquilo.

Até que um dia, a Fama, outro personagem mitológico, espalhou a notícia de que Psiqué não havia morrido, e que desfrutava da melhor das vidas junto a um deus. As irmãs caíram de inveja e, ao visitá-la, insistiram para que Psiqué visse o rosto do marido, alegando que ele era um monstro, e por isso não se mostrava.

Convencida de que seu marido era a mais terrível das serpentes, o esperou dormir para matá-lo. Mas, ao iluminar o rosto de Eros, Psiqué deparou-se com a bela face de um deus. Era tarde. Eros foi embora e a deixou só, como castigo. E começava aí “o itinerário doloroso” da alma, imposto por Afrodite, a deusa da beleza e do amor, mãe de Eros (a sogra da bela princesa).

Psiqué sofre para reconquistar o direito de estar com seu amado. Mas consegue. Do encontro dos dois nasceu uma filha chamada Volúpia. Segundo Brandão, “talvez, ‘na linguagem dos deuses’, essa criança divina tenha recebido simplesmente o nome de mulher.”

Fernando Pessoa e a mitologia

Além da narrativa baseada no livro O Asno de ouro, de Lúcio de Apuleio, e as explicações dos contornos simbólicos do mito, Brandão ainda brinda o leitor com a reprodução do poema de Fernando Pessoa, Eros e Psiqué:


Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


Leia também:

MITOLOGIA GREGA I: do Caos a Zeus

MITOLOGIA GREGA III: o herói no caminho do humano
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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ESCRITOR TAMBÉM É FILHO DE DEUS

João Wainer/Folha Imagem/Divulgação
Os vencedores da noite: Martins (à esq.) e Brito

O Prêmio São Paulo de Literatura divulgou os vencedores da edição 2009, no dia 3 de agosto, no Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista. Na categoria estreante, o jovem escritor gaúcho Altair Martins levou para casa R$ 200 mil, com A parede no escuro. Na categoria veterano, quem saiu vencedor foi o cearense Ronaldo Correia de Brito, com Galileia, também embolsando R$ 200 mil.

O jornal Folha de S. Paulo trouxe uma matéria na edição desta quarta-feira (05/08) falando sobre a repercusão do prêmio e a importância de premiações desse nível, com um valor tão alto, embora não seja o mais elevado. O jornal queria saber se isso teria algum efeito na 'promoção da leitura' ou na formação dos escritores.

Segundo o crítico literário e professor da Unicamp, Alcir Pécora, respondendo a pergunta da reportagem, não é assim que funciona. "'Como descoberta de novos escritores, raramente dá certo; como propaganda e celebrização da personalidade, funciona. Chama atenção, produz matérias, mas não se traduz em fomento. Alimenta a produção mediana e não produz um salto para a grande literatura'", diz.

O que faltou à reportagem, foi perguntar, ou colocar no texto, que tipo de iniciativa produz um salto para a grande leitura. Em todo caso, o prêmio e seu valor distribuído são válidos, ainda que seja verba pública.

A literatura sempre foi a menos prestigiada das artes quando se trata de investimento e de ganhos dignos com os quais o autor se mantenha. Mas é a primeira a fomentar mentes criativas. Vá alguém querer conquistar um público heterogênio e criar sem ler, sem ter uma formação de leitura. Pergunte, numa seção espírita, a Da Vinci, a Picasso, a Stanley Kubrick, Wagner, se não liam.

O escritor também é filho de Deus, embora, de outro lado, também seja o primogênito do diabo. Afinal, "o diabo é quem sabe tudo."

RIOBALDO NA USP

Meus livros ainda não estão comigo e sinto falta de ler Grande sertão: veredas. Riobaldo é um exemplo de sabedoria. É um filósofo. Riobaldo poderia dar aula na USP. O Brasil estaria mais bem servido de cabeças pensantes e sententes capazes de ler este país e apontar novos caminhos para a juventude tão áspera de sentimentos, tão triste de ideias, tão circular, desdentada de saber, tão longe e desinteressada de tudo, sem sonho, sem sol, como folhas que recebem o orvalho do dia e o desperdiçam no correr das horas.