Foto: Divulgação
O escritor catarinense, radicado em Curitiba, Cristóvão Tezza foi entrevistado por Luciana Lana Ramos, na revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa. O pingue-pongue traz uma conversa interessante, com destaque para a visão de Tezza sobre literatura e o fazer literário.
Segundo ele, “escrever não é catarse nem derramamento emocional. É uma representação distanciada.” Vale a pena conferir. Segue abaixo um trecho da entrevista, e para quem quiser ler o texto completo, clique aqui.
CP Língua Portuguesa - Como você avalia a literatura brasileira contemporânea?
Tezza - A literatura brasileira vem crescendo muito, depois de um certo interregno de silêncio, ou pelo menos pouca ressonância, que aconteceu ao longo dos anos 1980 e primeira metade da década seguinte. Nos últimos anos, a literatura brasileira começou a circular muito mais, a encontrar leitores, a ser valorizada por um conjunto de prêmios e concursos de grande repercussão e a receber uma boa atenção das editoras. Eu acho que a Internet vem desempenhando um papel excepcional nessa revalorização.
CPLP - Em que medida está a ficção no texto de O Filho Eterno (há nomes, personagens, locais fictícios)?
Tezza - A ficção não está na correspondência ou não de nomes ou fatos com a chamada "realidade", mas no modo de se apropriar da linguagem, no impulso narrativo. Eu dei a um arcabouço de eixos reais - o nascimento de meu filho, a minha geração, a minha cidade, meus sonhos, um espaço geográfico concreto - uma percepção ficcional, isto é, um texto que avança sem o compromisso da objetividade factual (que é a base imprescindível da biografia), mas ao sabor de um narrador subjetivo que está a serviço de uma estrutura romanesca. Capítulos se sucedem pela lógica da ficção, os tempos se fundem em nome da unidade do romance, os fatos são cuidadosamente selecionados em função da moldura ficcional etc. No romance, a vida se concentra em duzentas páginas e ganha um sentido ficcional, uma lógica interna, que está completamente ausente da nossa vida real, que é um evento aberto, fragmentário e em grande parte caótico.
CPLP - Em relação aos prêmios, há algum aspecto, em especial, a que você atribua tamanho reconhecimento?
Tezza - Não sei. Todo mundo está me fazendo essa pergunta. De tal modo que, num momento, quase comecei a me sentir culpado pelo fato de o livro estar fazendo esse sucesso de crítica e de leitores... Vendo friamente, há algumas coisas óbvias para se considerar: não sou um escritor estreante, tenho uma obra sólida e reconhecida há vários anos e já ganhei outros prêmios importantes com outros livros. Não há milagre em literatura. Aliás, não há milagre em lugar nenhum.
CPLP - Como professor de língua portuguesa, qual a lição maior que você tem a dar sobre o valor dessa língua?
Segundo ele, “escrever não é catarse nem derramamento emocional. É uma representação distanciada.” Vale a pena conferir. Segue abaixo um trecho da entrevista, e para quem quiser ler o texto completo, clique aqui.
CP Língua Portuguesa - Como você avalia a literatura brasileira contemporânea?
Tezza - A literatura brasileira vem crescendo muito, depois de um certo interregno de silêncio, ou pelo menos pouca ressonância, que aconteceu ao longo dos anos 1980 e primeira metade da década seguinte. Nos últimos anos, a literatura brasileira começou a circular muito mais, a encontrar leitores, a ser valorizada por um conjunto de prêmios e concursos de grande repercussão e a receber uma boa atenção das editoras. Eu acho que a Internet vem desempenhando um papel excepcional nessa revalorização.
CPLP - Em que medida está a ficção no texto de O Filho Eterno (há nomes, personagens, locais fictícios)?
Tezza - A ficção não está na correspondência ou não de nomes ou fatos com a chamada "realidade", mas no modo de se apropriar da linguagem, no impulso narrativo. Eu dei a um arcabouço de eixos reais - o nascimento de meu filho, a minha geração, a minha cidade, meus sonhos, um espaço geográfico concreto - uma percepção ficcional, isto é, um texto que avança sem o compromisso da objetividade factual (que é a base imprescindível da biografia), mas ao sabor de um narrador subjetivo que está a serviço de uma estrutura romanesca. Capítulos se sucedem pela lógica da ficção, os tempos se fundem em nome da unidade do romance, os fatos são cuidadosamente selecionados em função da moldura ficcional etc. No romance, a vida se concentra em duzentas páginas e ganha um sentido ficcional, uma lógica interna, que está completamente ausente da nossa vida real, que é um evento aberto, fragmentário e em grande parte caótico.
CPLP - Em relação aos prêmios, há algum aspecto, em especial, a que você atribua tamanho reconhecimento?
Tezza - Não sei. Todo mundo está me fazendo essa pergunta. De tal modo que, num momento, quase comecei a me sentir culpado pelo fato de o livro estar fazendo esse sucesso de crítica e de leitores... Vendo friamente, há algumas coisas óbvias para se considerar: não sou um escritor estreante, tenho uma obra sólida e reconhecida há vários anos e já ganhei outros prêmios importantes com outros livros. Não há milagre em literatura. Aliás, não há milagre em lugar nenhum.
CPLP - Como professor de língua portuguesa, qual a lição maior que você tem a dar sobre o valor dessa língua?
Tezza - Somos definidos pela linguagem e, no universo das variedades que compõem esse mundo linguístico e político chamado "língua portuguesa", a língua padrão, que a escrita representa, tem a função de nos colocar no mundo da História e da civilização. A escrita é a mais ampla porta que se pode abrir para o mundo.
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