quarta-feira, 30 de abril de 2008

LOU ANDREAS-SALOMÉ


Ela era bela, e eu nem a conheci. Ela era esperta, e eu nem a ouvi, para ver (ouvir) se nas palavras eu poderia reconhecer o brilho que transparecia no seu olhar. A despeito da fama de não dizer a verdade, de ser um embromador, acredito em Freud quando disse (a ela) “você tem um olhar como se fosse Natal”.

Essa luz me joga na incógnita de não saber sorrir, mas há aí uma inclusão, porque nele (no olhar dela), na transparência e na festa que transmitia ao velho Freud, há o movimento das luzes que faz nascer um novo-não-tão-novo, com base no que há de mais vivo no homem até o fim, a chama da vitória, o que restou na caixa de Pandora.

Mas ela era também vulcão, abismo, amor revolto, paixão, amor demais. Conforme escreveu o poeta Rainer Maria Rilke, seu amante e amigo:

“Tu eras para mim a mais maternal das mulheres,
eras um amigo como são os homens,
ao olhar, eras uma mulher
e eras no mais das vezes ainda uma criança.
Eras a coisa mais terna que encontrei,
eras a coisa mais dura com a qual lutei.
Eras o cimo que me tinha abençoado –
e te tornaste o abismo que me devorou.”

E ela, encantadora e bela! E ela, sedutora em minha consciência literária, e nada mais!

sábado, 26 de abril de 2008

VIDA E MORTE NO CORAÇÃO DE SANT’ANNA

“Em matéria de poesia, criticar os ‘mestres do passado’ e apontar-lhes os defeitos é mais fácil (e menos arriscado) do que reconhecer os mestres do presente e distinguir-lhes os méritos.” Wilson Martins (1921 - )

Sant'Anna, um lírico de alma aberta


Affonso Romano de Sant’Anna (1937 - ) é um poeta aparentemente fácil, porque seus versos são simples. Mas seu modo de refletir sobre o mundo, costurado com doces fios líricos, faz dele um autor diferenciado.

Ele não força a barra com esse negócio de poesia cerebral, e por isso acaba sendo poeta de verdade, um bardo da envergadura de Drummond. Aliás, os dois são mineiros, e Sant’Anna é íntimo da poesia drummondiana, a ponto de ter se doutorado com uma tese sobre o autor de Claro Enigma.

Outro fator em comum com Drummond é a inclinação para falar de amor, e falar bem, sem rebuscamentos. Quase em todas as suas publicações, principalmente as últimas, como Textamentos (1999), Intervalo amoroso (coletânea de 1999) e Vestígios (2005), Sant’Anna registra seus versos amorosos, imprimindo as mil faces do amor.

Num desses poemas, o poeta afirma que se aprende tudo na vida, a nadar, dançar, fazer tricô, a esperar, e conclui: “Em alguns aprendizados/chega-se à perfeição.// Em alguns.// No amor, não.” (in: Textamentos).

E não ser perfeito no amor significa querer amar mais, praticar essa nobreza de atos e intenções no decorrer da vida, até o fim, como no poema Além do entendimento (in: Textamentos):

“A essa altura
há coisas
que (ainda)
não entendo.

Por exemplo:
o amor. Faz tempo
que diante dele
me desoriento.

O amor é intempestivo
eu sou lento.
Quando sopra
- estatelado –
mais pareço
um catavento.”

Isso não significa de forma alguma não saber amar; significa que o exercício amoroso faz aumentar a vontade do amor, mas não produz teorias:

“Pedes explicação, que não sei dar,
sobre meu jeito de amar.
Soubesse das razões porque te amo
deste modo
poderia também me apaziguar.

Sou assim:
um gato na poltrona
aos teus pés
ou um tigre que, faminto,
carinhosamente
- vem te devorar.” (in: Textamentos)

O cotidiano é uma das casas de todo poeta. É ali que se cavam as imagens para representar a morte, o sexo, a cadeia de sentimentos da vida, e o próprio fio da existência. E isso Sant’Anna faz muito bem, numa simplicidade desconfiante, que, no final, resulta no profundo.

“O tempo é mesmo/ uma doença humana”, diz o poeta, ao contemplar um ser que está bem abaixo na escala zoológica, uma lagartixa. É porque ele sabe e consente que só o homem se relaciona com o tempo e reflete sobre isso. A lagartixa, nem se fia.

Noutro poema, é categórico:

“Se tirarmos
os drogados
os suicidas
os guerrilheiros mortos
os fracassados
os canalhas
os mediocrizados
sobrariam os vitoriosos
e a vida certamente seria linda.

Linda.

- Mas seria vida?” (in: Vestígios)

Sant’Anna também sabe ser irônico (ou seria sarcástico?). “Estou diante da Batalha de São Romano, de Paolo Uccelo./ E exijo respeito./ Não me venham falar/ de Marcel Duchamp.”

[A tempo, outro dia um senhor foi preso por, primeiro, bem antes, ter urinado no penico de Duchamp, e depois, numa ocasião mais recente, tê-lo quebrado a marteladas, dizendo não ser arte aquilo]. Sant’Anna fora mais sutil e delicado.

Em outros versos, ele alfineta: “erro concreto.// o poeta concretista/ comete um erro típico:/ confunde o logos/ com o logotipo.”

Poeta, cronista, ensaísta, Sant’Anna tem mais de vinte livros publicados. Em 1980, fez grande sucesso com um poema chamado Que país é este?, publicado no Jornal do Brasil, e depois em livro. Atualmente, ele escreve para o jornal Correio Brasiliense.

É casado com a escritora Marina Colassanti, cuja lembrança está sempre presente em sua obra poética. Mas agora, aos 71 anos, já no crepúsculo, outra figura ronda sua poesia: a morte.

“Não canso de estudar a morte”, diz ele, num poema; “Nesta semana/ morreram/ três vizinhos no meu prédio”, observa, em outro.

No estudo de cadáveres, ele analisa o corpo e a imagem do morto, que “cresce estranhamente, logo que morre./ A barba brota-lhe no rosto/ e as unhas se alongam./ O morto cresce em nossa mente”.

E arremata: “Depois, a urgência da vida/ toma conta de nossos dias/ e o morto se conforma/ encolhe-se/ e fica amortecido num canto da memória/ até morrer de novo/ dentro de nossa morte.” (in: Textamentos).

Tudo isso é verdade, mas também é verdadeiro que nos grandes poetas alguma coisa sempre vinga por mais tempo, e muitas vezes fica, permanece como uma sintoma da “doença humana”, que é o tempo. Esta semente Sant’Anna já plantou na literatura brasileira.

Trechos:

Presente vivo

Viver
é conjugação diária
do presente.
Viver
é presentear.
Mais que um jeito de doer
é um modo de doar.

(...)

“Não se dá
apenas pelo prazer
de ver
o outro receber.
Dá-se
para que o outro
entre-abrindo-se ao presente
também dê.” (in: Textamentos)

Que país é este?

“Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,
outra um regimento.

Uma coisa é um país,
outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas
Usei caderno ‘Avante’
- e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um ‘berço esplêndido’ para um ‘futuro radioso’
e éramos maiores em tudo
- discursando rios e pretensão.

Uma coisa é um país,
outra um fingimento.

Uma coisa é um país,
outra um monumento.

Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.

(...)

Há 500 anos caçamos índios e operários,
há 500 anos queimamos árvores e hereges,
há 500 anos estupramos livros e mulheres,
há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.

(...)

Povo
não pode ser sempre o coletivo de fome.

Povo
não pode ser um séquito sem nome.

Povo
não pode ser o diminutivo de homem.

O povo, aliás,
deve estar cansado desse nome,
embora seu instinto o leve à agressão
e embora
o aumentativo de fome
possa serrevolução. (in: Intervalo amoroso [1999]; Que país é este? e outros poemas [1980]; e Que país é este? [1990]).

terça-feira, 22 de abril de 2008

COM O OLHAR VOLTADO PARA O LESTE, AMANHEÇO A TE ESPERAR

Orlando Morais é bem conhecido como o marido da atriz Glória Pires. Mas certamente é muito mais que isso. Ele é um dos melhores compositores da Música Popular Brasileira, tendo sido chamado de gênio por Caetano Veloso, que depois desdisse, mas já estava dito e observado. Entre as várias canções de sua autoria há uma cuja letra é obra-prima da poesia musicada, gravada em Abismo Zen, depois regravada num outro CD, Agora, em dueto com a especial Maria Bethânea. Senão vejamos e ouçamos:


A montanha e a chuva (letra e música de Orlando Morais)

Eu queria tanto lhe dizer
Da minha solidão, da minha solidez,

Do tempo que esperei por minha vez,
Da nuvem que passou e não choveu

Minhas mãos estão no ar,
Como aeroporto pra você aterrissar.
Também sou porto se quiseres ancorar.
Sou ar, sou terra, e sou mar.

Eu tenho a mão e você tem a luva,
Eu sou montanha e você é chuva,
Que escorre e some no final da curva,
E beija o rio pra abraçar o mar.

É por isso que a montanha tem ciúmes,
Quando o vento leva a chuva pra dançar.

Muitas vezes, tudo acaba em tempestade,
Raios gritam sobre a tarde,
Tardes dormem ao luar.
Anoitece a minha espera,
Amanheço a te esperar.

A temática da música está clara. Trata-se da espera. E de um tipo de espera que revela a condição sine qua non do enamorado, que desvela a alma do sujeito, da manhã ao pôr do sol. Dividido aqui em cinco estrofes, o poema-canção inicia sua jornada se revelando. Quer falar da solidão, mas quer dizer também que é resistente como pedra (a montanha), mais do que isso, cabeça dura a ponto de ser concreto, sólido, e por isso também quer falar de sua solidez.

O sujeito poético da canção espera há muito tempo. E houve época em que nasceu uma esperança maior. As metáforas são muitas, e servem para diversas interpretações, das quais é preferível a freudiana, porque nela a carga sensual está mais à vista. Mas antes, lembrando o estudo dos signos em semiótica, sabe-se que a relação entre nuvem e chuva é a de índice, tendo a nuvem como indicação da água que vai cair do céu, pelo menos é o que se espera. Mas a nuvem passou e não choveu, e a espera foi em vão. Mesmo assim, o sujeito poético continua em sua investida.

Ao armar o quadro de imagens a partir desses dois termos, chuva e nuvem, o autor completa o seu lirismo reunindo mais elementos da natureza. “Minhas mãos estão no ar,/ como aeroporto pra você aterrissar ...”. Promete segurança, abrigo, e quer ser tudo: ar, terra e mar.

As imagens seguintes são bem sugestivas: “Eu tenho a mão e você tem a luva”, com os dedos representando o falo; e a luva, claro – pois se encaixa na mão –, o próprio órgão sexual da mulher. Montanha aqui também é masculino, e chuva, aquilo que vem como véu para cobrir a verticalidade dessa montanha, escondendo-se depois, em segredos femininos, ao se despejar num oceano de mistérios.

E o homem sabe disso. “É por isso que a montanha tem ciúmes,/ quando o vento [adversário, amante da chuva, um inimigo oculto] leva a chuva pra dançar.” E aí o conflito aparece, os dois sexos que se querem tanto não se entendem, e sabe-se por que ela foi embora, e sabe-se também por que ele se mantém na convicção de que sua amada vai voltar.

É que “muitas vezes tudo acaba em tempestade./ Raios gritam sobre a tarde,/ [no fim do dia, vindo o cansaço] tardes dormem ao luar/ [pois a esperança é um alvorecer, um amanhã, no entanto é ela que se turva] anoitece a minha espera,/ [como se não fosse mais possível, como se tudo tivesse terminado, e a própria espera se tornado noite, mas aí o verbo volta para a primeira pessoa, porque é o coração do homem que manda, e então] amanheço a te esperar”.

Para fechar e fazer jus ao blog de leituras, a poesia de Orlando Morais remete-se ao olhar de Roland Barthes, numa das passagens de seus Fragmentos de um discurso amoroso:

“‘Estou apaixonado? – Sim, pois espero.’ O outro não espera nunca. Às vezes quero representar aquele que não espera; tento me ocupar em outro lugar, chegar atrasado; mas nesse jogo perco sempre: o que quer que eu faça, acabo sempre sem ter o que fazer, pontual, até mesmo adiantado. A identidade fatal do enamorado não é outra coisa senão: sou aquele que espera.”

“Amanheço a te esperar”

(Este texto já havia sido publicado no meu extinto blog Leituras)

sábado, 19 de abril de 2008

DESONRA: a violência de uma nação

J. M. Coetzee pode ser tudo, menos ingênuo. Desonra, livro publicado antes de ele ganhar o Nobel de Literatura em 2003, é uma metáfora do fim do apartheid na África do Sul, sua terra natal. A trama gira em torno de um professor que perde o emprego depois de transar com uma aluna.

A aluna teria ido pra cama com ele sob coerção, com medo de dizer não, como que mesmerizada, da mesma forma que um sapo se deixa levar pelo olhar hipnotizante da cobra malvada. Aos olhos dos outros, a menina cai em desgraça. Fica manchada pela desonra impetrada pelo professor.

Ele vira as costas para a acusação e vai embora da Cidade do Cabo, onde morava e lecionava. E aí começa o desenvolvimento do fulcro do romance. Vai para a casa da filha, no interior do país. Nesse ínterim, a filha é estuprada, outra desonra. Mas ela não quer denunciar os estupradores, que foram dois, e eram negros.

O pai diz não entender a razão do silêncio da filha, e ela replica que não pode fazer nada, por ser um caso particular da África do Sul. Eis a metáfora: um país recém saído de um regime brutal de segregação racial aparenta-se violentado, caído em desonra, pelo qual não se pode fazer nada.

O país teria retornado a um passado de regras externas à conduta branca. Esta seria a sugestão, a denúncia de que tudo está fora de ordem, num lugar onde qualquer coisa que aconteça se assemelha a uma violação. A alusão a esses tempos difíceis também pode ser lida em Age of iron. Um livro menor.

Historicamente, também podemos imaginar o rombo feito pelos colonizadores holandeses e ingleses à região onde se construiu a África do Sul, branca e racista, que ruiu na primeira metade da década de 90 do século passado.

No Brasil, Coetzee é um escritor razoavelmente lido, com vários livros publicados, tendo inclusive participado da FLIP 2007.

sábado, 12 de abril de 2008

O COMUNICADOR DA SOLIDÃO

Ficçãozinha:

“Eles podem me reprimir, dizer que sou down, soturno e propagador do sentimento triste. Eles podem rir de minha melancolia, ou chorar, ou virar as costas, ou ir embora, ou fechar os olhos, mas nada – nem nunca – podem falar de minha habilidade para descrever a solidão. Eis o que sou, rasgo de ermo dentro da noite, filete de energia cósmica separado da corrente elétrica que faz o mundo girar.

Tenho minha própria corda. Tarzan galáctico. Homem só, que vive aberto ao que virá. Solidão não é encolher-se diante da vida, é estar pronto para ligar-se a tudo e a nada, a todos e a ninguém.

Não sei refletir sobre a alta filosofia, o profundo amanhecer das coisas. Não posso, nem devo descrever o dia. O sol da verdade brilha mais forte que minha sensatez, e por isso vivo no silêncio do ocaso, entre a vida e a morte, entre Deus e o diabo, absorvendo o mundo como quem come paçoca de amendoim. Acre-doce solidão.

..."

quinta-feira, 10 de abril de 2008

AUTO-AJUDA: Considerações mínimas sobre a felicidade


A felicidade nos faz melhor? Talvez. Mas ela não passa de uma expectativa no coração dos homens! Ela existe como o vento, não em abundância, mas em capacidade de tocar e não ser vista. Não é algo com o qual se enche a mão. De felicidade pode-se inflar o peito, mas ainda assim, muitas vezes, fica-se apenas no terreno do possível. Pode ser.

Há, no entanto, ene interpretações para o signo da felicidade, como aquela segunda a qual ser feliz significa buscar o outro. É minha preferida. Sabemos que a felicidade não está no outro, mas depende dele para permanecer em nós. Complicado, não? Metafísico? Surreal?

O fato é que ninguém fica feliz sozinho por muito tempo, a não ser os anormais. Isso porque o homem é um continente, e há nele todas as contradições, fogo e água num convívio de conflito e incompletude. É uma soma de terrenos altiplanos, cheios de curvas e florestas, muitas vezes inexploradas, contendo o próprio sentido dessa existência, mas que precisa do outro para se perceber.

Eis os fios que tecem a felicidade. Desbravar a densa mata de si mesmo pode ser o caminho para encontrá-la. Domar os instintos e deixá-los fluir sob a vigilância dos vernizes de civilidade também pode ser o trilho por onde anda a felicidade perdida. Tudo é possível, e é neste caminho do provável que podemos melhorar a nós mesmos.

A conquista diária dos pequenos prazeres – que podem ser acumulados até se tornarem lastros de autoconhecimento – é uma felicidade possível. Se você ontem conheceu alguém, mulher ou homem, que julgou bela ou belo, inigualável nas feições, nos gestos, na fala, no olhar. Se você tem filhos. Se por um instante caiu – dentro de si – de amores por tal figura, poderá, depois, reconhecer nessa visão um prazer menor, que – se repetido em outras ocasiões – se tornará fonte de uma mudança de perspectiva, carpinteiro de um novo olhar. E aí você então terá sentido a felicidade.

Os pequenos prazeres. Não só uma mulher, não só um homem, nem apenas sexo, tampouco somente amor. Um livro agradável, um cineminha, um sorvete de ocasião, enfim. Não só pequenos prazeres a granel, um grande prazer também. Um passeio pelo Rio Amazonas, para quem é de São Paulo. Uma turnê pelas ruas de São Paulo, para quem vem do Acre. Uma viagem a Paris, uma corrida pelas dunas dos lençóis maranhenses, um embasbacar-se pelos velhos templos do shintoismo japonês, em Kioto.

É possível que a felicidade exista. É verdade que tal existência é menos possível do que as respostas que cada um dá sobre o que ela é de fato. Mas, mesmo dentro de tais conjeturas, ser feliz é poder tangenciar o estado de humor e disposição em nós mesmos. A felicidade é uma tangência.

domingo, 6 de abril de 2008

LIÇÕES DE AFETO

Divulgação
A partir da esq., Luiz Carlos Vasconcelos, Débora Bloch, Dan Stulbach,
Guilherme Weber, Matheus Nachtergaele, Drica Moraes, Bruno Garcia,
Tarcísio Filho, Malu Galli, Joelson Medeiros e Maria Luisa Mendonça


A minissérie da Globo Queridos amigos apresentou seu último capítulo no dia 28 de março. Quem gosta de TV ganhou a possibilidade de ver uma das coisas mais belas da telinha nos últimos anos, com diálogos primorosos e atores escolhidos a dedo no panteão da emissora.

Foi bom confirmar o talento de Maria Adelaide Amaral para traduzir palavras em imagens. Digo isso porque seu livro Aos meus amigos que deu origem à minissérie, lançado em 1992, não foi best-seller. Relançado agora em 2008, de novo não despertou interesse do público leitor.

A minissérie, no entanto, foi bem-sucedida e deixou uma grande lição de afeto da própria autora para milhões de pessoas. A de que, em qualquer exercício, o que vale é a busca pelo olhar renovado. E depois contar. É preciso contar e ouvir para viver, como, de igual modo, é preciso viver para contar, como diria García Márquez.

Toda história do indivíduo é única. E há várias formas de se compartilhar um aprendizado. A história de Adelaide Amaral nos mostrou que a amizade talvez seja o modelo mais nobre. Certamente é o meio mais corriqueiro e acertado para um melhorar o outro.

Faz parte da amizade o amor brando, a afetividade, o socorro mútuo, embora haja crises e desentendimentos, como em toda relação. A amizade possibilita o afeto. E não há nada no mundo mais louvável do que um sorriso espontâneo de pura afeição, sem pedir nada em troca, um sorriso desprendido de interesse.

Tal gesto é só para quem passou pela escola do amor ao outro. Tal gesto não nasce nos analfabetos afetivos. Um sorriso que traduz ternura só pode ser compreendido por quem sabe ler o afeto, o amor, a amizade, a profundidade da vida, que gira no cerne do ser.

É bem verdade que muitas vezes somos letrados (afetivamente) e entendemos a mensagem, mas ainda assim, quedamos incapazes de responder à altura. Neste caso, é necessária a prática. Amigo é mesmo coisa pra se guardar. Tesouro do coração.

Este texto é dedicado aos meus amigos.