quinta-feira, 10 de abril de 2008

AUTO-AJUDA: Considerações mínimas sobre a felicidade


A felicidade nos faz melhor? Talvez. Mas ela não passa de uma expectativa no coração dos homens! Ela existe como o vento, não em abundância, mas em capacidade de tocar e não ser vista. Não é algo com o qual se enche a mão. De felicidade pode-se inflar o peito, mas ainda assim, muitas vezes, fica-se apenas no terreno do possível. Pode ser.

Há, no entanto, ene interpretações para o signo da felicidade, como aquela segunda a qual ser feliz significa buscar o outro. É minha preferida. Sabemos que a felicidade não está no outro, mas depende dele para permanecer em nós. Complicado, não? Metafísico? Surreal?

O fato é que ninguém fica feliz sozinho por muito tempo, a não ser os anormais. Isso porque o homem é um continente, e há nele todas as contradições, fogo e água num convívio de conflito e incompletude. É uma soma de terrenos altiplanos, cheios de curvas e florestas, muitas vezes inexploradas, contendo o próprio sentido dessa existência, mas que precisa do outro para se perceber.

Eis os fios que tecem a felicidade. Desbravar a densa mata de si mesmo pode ser o caminho para encontrá-la. Domar os instintos e deixá-los fluir sob a vigilância dos vernizes de civilidade também pode ser o trilho por onde anda a felicidade perdida. Tudo é possível, e é neste caminho do provável que podemos melhorar a nós mesmos.

A conquista diária dos pequenos prazeres – que podem ser acumulados até se tornarem lastros de autoconhecimento – é uma felicidade possível. Se você ontem conheceu alguém, mulher ou homem, que julgou bela ou belo, inigualável nas feições, nos gestos, na fala, no olhar. Se você tem filhos. Se por um instante caiu – dentro de si – de amores por tal figura, poderá, depois, reconhecer nessa visão um prazer menor, que – se repetido em outras ocasiões – se tornará fonte de uma mudança de perspectiva, carpinteiro de um novo olhar. E aí você então terá sentido a felicidade.

Os pequenos prazeres. Não só uma mulher, não só um homem, nem apenas sexo, tampouco somente amor. Um livro agradável, um cineminha, um sorvete de ocasião, enfim. Não só pequenos prazeres a granel, um grande prazer também. Um passeio pelo Rio Amazonas, para quem é de São Paulo. Uma turnê pelas ruas de São Paulo, para quem vem do Acre. Uma viagem a Paris, uma corrida pelas dunas dos lençóis maranhenses, um embasbacar-se pelos velhos templos do shintoismo japonês, em Kioto.

É possível que a felicidade exista. É verdade que tal existência é menos possível do que as respostas que cada um dá sobre o que ela é de fato. Mas, mesmo dentro de tais conjeturas, ser feliz é poder tangenciar o estado de humor e disposição em nós mesmos. A felicidade é uma tangência.

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