quarta-feira, 30 de abril de 2008

LOU ANDREAS-SALOMÉ


Ela era bela, e eu nem a conheci. Ela era esperta, e eu nem a ouvi, para ver (ouvir) se nas palavras eu poderia reconhecer o brilho que transparecia no seu olhar. A despeito da fama de não dizer a verdade, de ser um embromador, acredito em Freud quando disse (a ela) “você tem um olhar como se fosse Natal”.

Essa luz me joga na incógnita de não saber sorrir, mas há aí uma inclusão, porque nele (no olhar dela), na transparência e na festa que transmitia ao velho Freud, há o movimento das luzes que faz nascer um novo-não-tão-novo, com base no que há de mais vivo no homem até o fim, a chama da vitória, o que restou na caixa de Pandora.

Mas ela era também vulcão, abismo, amor revolto, paixão, amor demais. Conforme escreveu o poeta Rainer Maria Rilke, seu amante e amigo:

“Tu eras para mim a mais maternal das mulheres,
eras um amigo como são os homens,
ao olhar, eras uma mulher
e eras no mais das vezes ainda uma criança.
Eras a coisa mais terna que encontrei,
eras a coisa mais dura com a qual lutei.
Eras o cimo que me tinha abençoado –
e te tornaste o abismo que me devorou.”

E ela, encantadora e bela! E ela, sedutora em minha consciência literária, e nada mais!

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