Domício (direita) e seu colega imortal José Murilo de Carvalho
Membro
da Academia Brasileira de Letras desde 2006 e agora presidente da instituição, Domício Proença Filho (79 anos) é um escritor
afrodescendente, um dos poucos negros que tiveram a oportunidade de fazer parte
do seleto grupo de escritores e intelectuais, e o segundo a presidir a ABL. O
primeiro foi o cofundador da entidade Machado de Assis.
Diz que
não vai
debater a questão racial
na ABL porque não faz
parte da pauta da instituição, nem a favor nem contra. Diz também que não é cota, que não
entrou na academia porque é negro e sim porque é escritor, embora seja a favor das cotas como política de momento. Mas
mesmo que houvesse uma bandeira da consciência negra dentro da ABL, dificilmente Domício aderiria a ela. Ele
parece não gostar
muito da negritude como assunto de política. Não é de sua índole
politizar a questão do
negro nesses termos.
Eu já o entrevistei duas
vezes por telefone, e nas duas vezes ele fugiu do assunto, mui educadamente, é verdade, mas fugiu. Mas
a consciência
negra, a meu ver, não precisa
se eriçar por
causa disso. Afinal, Domício é um grande poeta, um
pesquisador de mão cheia
sobre literatura, tendo o negro como objeto de sua pesquisa.
Em
entrevista à Folha
de S. Paulo, hoje, Domício
falou de Machado de Assis e do fato de ele, Domício, ser o segundo negro na história da instituição a presidi-la. “Não posso me furtar da
coincidência de
eu estar aqui, mulato como ele, na presidência da casa. Mas entre Machado de Assis e eu
existe uma distância
abissal – não só no tempo, como na própria dimensão de produção. Ele era um gênio. Virou a mesa da
literatura brasileira.”
Estou
ansioso para ler seu discurso de posse na presidência da ABL. Dos livros de Domício que já li, a mim me toca muito
um pequenininho de poesia intitulado Dionísio
esfacelado (Quilombo dos Palmares), de 1984, que já resenhei aqui (leia). Ele também está no monumental trabalho
de crítica e
antologia de autores negros Literatura e
afrodescendência no Brasil: antologia crítica, volume 2
(Editora UFMG), cujo perfil foi escrito por Vera Casa Nova, livro este também resenhado aqui (leia).
Entre seus
títulos de
não ficção se destacam Estilos de época na literatura (Ática, 1978), Pós-modernismo e literatura (Ática, 1988), Estórias da mitologia,
volumes 1, 2 e 3 (Global, 2000).
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